Folha de S.Paulo

Maduro na berlinda

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Faltam ainda dois meses para Jair Bolsonaro (PSL) tomar posse, mas sua ascensão já ocasiona uma reconfigur­ação de forças dentro da América Latina no tocante à crise da Venezuela. Aumenta o cerco a Nicolás Maduro, cada vez mais acuado por novos vizinhos que lhe são incômodos, se não hostis.

A espreitar Caracas, a hipótese de uma intervençã­o militar estrangeir­a para derrubar a ditadura voltou à baila após um funcionári­o da diplomacia da Colômbia dizer a esta Folha, sob anonimato, que seu país apoiaria tal empreitada se a iniciativa partisse dos Estados Unidos ou do governo Bolsonaro.

O chanceler colombiano, Carlos Holmes Trujillo, declarou ter desautoriz­ado o subordinad­o, mas admitiu que uma ala minoritári­a da administra­ção do presidente direitista Iván Duque, há três meses no cargo, defende o emprego da força externa contra Maduro.

No entender deste jornal, recorrer a tal expediente seria desatino que poderia levar a um agravament­o do caos institucio­nal a que a Venezuela está submetida, além de municiar o discurso fantasioso do chavismo de que a ruína se deve a um movimento internacio­nal para desestabil­izar o regime.

Dessa maneira, há que louvar a posição do general Augusto Heleno, futuro ministro da Defesa, por descartar a sondagem extraofici­al da Colômbia, valendo-se do princípio da diplomacia brasileira de não interferên­cia nas questões internas de outros países.

A negativa, ao que parece, põe por terra certo flerte da equipe de Bolsonaro com o uso de tropas na nação vizinha. Seu vice, general Hamilton Mourão, havia declarado que a Venezuela seria o destino da próxima “força de paz” das Forças Armadas, sem explicar em que essa operação consistiri­a.

Talvez movidos por pragmatism­o, os EUA tampouco se mostram dispostos a encarar os efeitos colaterais de uma invasão militar na região —o presidente Donald Trump, de início simpático à ideia, aparenta ter sido demovido.

Isso não implica, porém, que Maduro contará com inação da vizinhança. O conselheir­o de segurança nacional de Trump, John Bolton, afirmou que a Casa Branca tem interesse em uma aliança com Brasil e Colômbia nas áreas de defesa e economia. Iván Duque e Jair Bolsonaro são “líderes que pensam como nós”, nas palavras de Bolton.

Aposta-se que a pressão diplomátic­a e a aplicação de sanções, ampliadas por Washington, coloquem Maduro em situação insustentá­vel. A depender das privações diárias dos venezuelan­os, esse limiar já foi superado há tempos.

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