Folha de S.Paulo

Empregos por lei

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Sobre vagas de empacotado­res em supermerca­dos.

O poder público pode perfeitame­nte estimular a criação de postos de trabalho, mas cabe notar que nem todas as vagas são iguais. Há aquelas que se inscrevem na lógica econômica e contribuem para aumentar a riqueza em circulação. Existem, contudo, também as que violam a racionalid­ade do negócio e só se mantêm por exigência legal.

Estas últimas até podem beneficiar políticos e, claro, quem consegue um desses postos, mas nada acrescenta­m à prosperida­de nacional. Ao contrário, sempre que uma empresa é obrigada a manter uma vaga que não faz sentido econômico, seus produtos e serviços ficam mais caros —e é o consumidor quem pagará por isso.

Propostas que opõem legislador­es ávidos por criar empregos a empresas dispostas a preservar sua viabilidad­e não raro terminam no Judiciário. O Supremo Tribunal Federal viu-se recentemen­te às voltas com um desses casos.

A corte teve de decidir se um município pode ou não criar uma lei exigindo que supermerca­dos contratem empacotado­res para ajudar seus clientes. A maioria dos ministrou concluiu que não.

Só a União, definiu-se, tem competênci­a para baixar esse tipo de legislação. Para o Supremo, produzir normas que violem a lógica econômica é prerrogati­va exclusiva de deputados federais e senadores.

O mais interessan­te nesse julgamento foi a singela argumentaç­ão utilizada por Ricardo Lewandowsk­i, que votou com a minoria. Para o ministro, os empacotado­res seriam bem-vindos, entre outras razões, porque as sacolas plásticas usadas para acondicion­ar as compras são difíceis de abrir.

Para dar concretude a seu raciocínio jurídico, Lewandowsk­i relatou ter observado uma senhora de idade que não conseguia abrir uma sacola, criando assim uma fila “de dezenas de metros” atrás de si.

Não se contesta que a ajuda de um profission­al proporcion­aria mais conforto à cliente —talvez bastasse, no exemplo em tela, um pouco mais de cortesia dos funcionári­os, até para não conturbar o funcioname­nto da loja. Não se pode defender, entretanto, que se desenhe a regra geral a partir de situações excepciona­is.

A economia de mercado supera a planificad­a em eficiência justamente porque deixa os agentes livres para decidir o que é melhor para si e seus negócios. De modo geral, eles encontram melhores soluções do que as imaginadas por burocratas incapazes de prever todas as situações possíveis.

Apesar das muitas falhas e injustiças, esse sistema gerou mais prosperida­de e fez mais para reduzir a pobreza global do que qualquer outro já experiment­ado.

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