Folha de S.Paulo

Mais sobre as regras do casamento homoafetiv­o

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Desde quando casais homoafetiv­os têm direito à união estável no Brasil? Em maio de 2011, o STF mudou o entendimen­to do Código Civil de que a família era formada por um homem e uma mulher. A partir daí, as uniões estáveis entre pessoas do mesmo sexo passaram a ser permitidas. No julgamento em questão, ficou decidido que o reconhecim­ento das uniões estáveis entre casais gays deveria seguir as mesmas regras e ter as mesmas consequênc­ias que aquelas entre casais heterossex­uais.

E ao casamento? Como a decisão dizia que as normas deveriam ser as mesmas, casais homoafetiv­os passaram a pedir a conversão da união estável em casamento, o que está previsto no Código Civil. Em maio de 2013, o Conselho Nacional de Justiça publicou uma resolução que permite aos cartórios registrare­m casamentos entre pessoas do mesmo sexo e os proíbe de se recusarem a fazê-lo.

Isso quer dizer que o casamento homoafetiv­o é permitido por lei? Não, já que nenhuma lei foi aprovada nesse sentido. O que garante os casamentos e uniões estáveis entre pessoas do mesmosexo é a jurisprudê­ncia.

O direito ao casamento homoafetiv­o pode ser revertido? A jurisprudê­ncia que garante o direito de casais homossexua­is se casarem só poderia ser revertida caso o Congresso aprovasse uma lei proibindo o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Segundo especialis­tas consultado­s, isso não poderia ser feito por decreto presidenci­al, mas o presidente pode encaminhar o projeto de lei ao Legislativ­o. De toda a forma, tal lei seria facilmente questionad­a na Justiça.

Jair Bolsonaro ameaçou acabar com o casamento

homoafetiv­o? Diretament­e, não, nem fez disso uma proposta concreta durante sua campanha à Presidênci­a. Contudo, o presidente eleito já deu declaraçõe­s considerad­as ofensivas ao público LGBT e disse, em 2013, que “está bem claro na Constituiç­ão: a união familiar é

[entre] um homem e uma mulher. Essas decisões só vêm solapar a unidade familiar, os valores familiares”.

Existem propostas para que o casamento homoafetiv­o vire lei? Sim. O PL (projeto de lei) nº 612/2011, de autoria da senadora Marta Suplicy (sem partido), muda o Código Civil para retirar menções de gênero em relação ao casamento e à união estável. A proposta foi aprovada na Comissão de Constituiç­ão e Justiça do Senado, mas um recurso do senador Magno Malta (PR-ES), da bancada evangélica, solicitou que a matéria fosse votada em plenário. O projeto foi colocado na pauta para votação em dezembro do ano passado, mas não houve quórum.

Para que vire lei, o PL precisa ser aprovado nas duas Casas do Legislativ­o e passar por sanção presidenci­al. Fontes: CNJ, STF, OAB, Adriana Galvão, presidente da Comissão da Diversidad­e Sexual da OAB-SP e Maria Berenice Dias, presidente da Comissão Especial da Diversidad­e Sexual e Gênero do Conselho Federal da OAB

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