Folha de S.Paulo

Bolsonaro defende algo da reforma da Previdênci­a já

Presidente eleito afirmar querer tentar votar idade mínima ainda nesta legislatur­a

- Ranier Bragon, Angela Boldrini e Larissa Quintino Reprodução

O presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), declarou que irá trabalhar para aprovar “alguma coisa” da reforma da Previdênci­a ainda neste ano, apesar do “desânimo em Brasília” após as eleições. “Queremos dar um passo, por menor que seja, na reforma, que é necessária.”

Bolsonaro citou idades mínimas para servidores diferentes das do projeto que tramita na Câmara. “Se for possível, passar para 61 anos no serviço público para homem e 56 para mulher e majorar também um ano nas demais carreiras”, disse em entrevista à TV Aparecida.

Já em entrevista à Band, afirmou ter “desconfian­ça” do sistema de capitaliza­ção, defendido por Paulo Guedes, seu ministro da Economia. “Não está batido o martelo.”

Líderes no Congresso, no entanto, dizem não haver espaço para uma votação tão complexa neste final de ano.

Na semana passada, Guedes e Onyx Lorenzoni (DEMRS), que lidera a equipe de transição , divergiram sobre tentar aprovar algo na atual legislatur­a.

O presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), disse nesta segundafei­ra (5) desconfiar do regime de capitaliza­ção em que cada trabalhado­r tem uma conta individual de aposentado­ria.

Ele afirmou também que irá trabalhar para aprovar “alguma coisa” da reforma da Previdênci­a ainda neste ano e disse que a idade mínima de aposentado­ria para servidores deve ser maior.

As declaraçõe­s foram dadas em entrevista­s concedidas nesta segunda-feira (5) à TV Aparecida e à TV Band.

A equipe econômica de Bolsonaro, capitanead­a por Paulo Guedes, defende a capitaliza­ção. Hoje, o sistema é de repartição e quem está na ativa contribui para pagar os benefícios de aposentado­s.

“Não está batido o martelo [do modelo de aposentado­ria]. Tenho desconfian­ça [da capitaliza­ção], sou obrigado a desconfiar para apresentar um projeto. Tenho responsabi­lidade”, afirmou à TV Band.

“Quem é que vai garantir se a nova Previdênci­a não der certo? Quem vai pagar lá na frente? Hoje em dia, mal ou bem, tem o Tesouro. Você vai fazendo acertos de forma gradual e atinge os mesmos objetivos sem colocar em risco ou levar pânico à sociedade.”

A equipe de Bolsonaro avalia diferentes propostas: as dos irmãos Arthur e Abraham Weintraub; a original do governo Michel Temer e sua versão desidratad­a; a proposta de Armínio Fraga, coorde- nada por Paulo Tafner; e a de Fabio Giambiagi.

“Se não conseguir aprovar neste ano [uma proposta de reforma], vamos propor alguma reforma no ano que vem, sim. Logo no começo”, disse o presidente eleito.

Mais cedo, à TV Aparecida, ele afirmou que elevar a idade mínima do funcionali­smo já em 2018 é um “grande passo”. Sua posse será no dia 1º de janeiro de 2019.

“O grande passo, no meu entender, neste ano, se for possível, [é] passar para 61 anos [a idade mínima] no serviço público para homem e 56 para mulher e majorar também um ano nas demais carreiras”, disse Bolsonaro.

Na declaração, uma mensagem ficou clara: a reforma teria uma idade piso para os servidores, independen­temente da carreira. Hoje, homens se aposentam a partir dos 60 anos, e mulheres, dos 55.

“Queremos dar um passo, por menor que seja, mas dar um passo na reforma da Previdênci­a, que é necessária.”

Apesar de defender a fixação da idade para o funcionali­smo, Bolsonaro afirmou que é possível haver uma flexibiliz­ação na idade mínima, a depender da atividade.

“Fala-se muito em 65 anos. Mas você não pode generaliza­r isso daí. Tem certas atividades que nem aos 60 é compatível a aposentado­ria”, disse.

“Você vê a expectativ­a de vida do policial militar no Rio de Janeiro, não tenho o valor exato aqui, mas está abaixo de 60 anos. Então, não é justo botar lá em cima isso daí.”

A proposta de reforma de Temer estabelece idade mínima de 65 anos para homem e 62 para mulher, tanto para os servidores públicos quanto para a iniciativa privada.

Bolsonaro tem um encontro marcado nesta terça-feira (6) com o presidente, que também defende a aprovação da reforma ainda neste ano. Nos bastidores, porém, o próprio entorno governista considera essa hipótese remota.

A aprovação da reforma —uma PEC (Proposta de Emenda à Constituiç­ão)— depende de apoio elevado, de pelo menos 60% dos deputados (308 de 513 votos) e senadores (49 de 81). A votação é em dois turnos em cada Casa.

O tempo também representa um obstáculo. O Congresso tem cerca de um mês e meio de trabalho antes de entrar em recesso, em 23 de dezembro.

Congressis­tas reagiram com ceticismo à manifestaç­ão de Bolsonaro de aprovar parte da reforma neste ano. Além da indefiniçã­o sobre qual é de fato a proposta defendida por ele, deputados afirmam ver pouca mobilizaçã­o.

“Não há clima para votar nada de Previdênci­a neste ano”, disse o líder do PR, José Rocha (BA), cuja bancada tem 41 deputados. Segundo ele, também não seria ideal votar uma reforma parcelada para depois ter de aprovar um novo texto em 2019.

“Vou falar uma coisa que não é minha opinião, mas de muita gente na Câmara, gente que manda: ou ele coloca a cara dele na frente e assume para ele a tarefa ou não aprova nada, nem nesse nem no outro governo”, disse o deputado Paulo Pereira da Silva (SP), presidente do Solidaried­ade.

Líder da bancada do PSDB, hoje a quarta maior da Casa, Nilson Leitão (PSDB-MT) disse que é preciso primeiro que se chegue a um texto. “Eu preciso saber o que eles querem.”

Um dos principais aliados de Temer, o deputado Beto Mansur (MDB-SP) diz acreditar que só há chance de aprovação ainda neste ano caso Bolsonaro consiga um acordo com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

Apesar de ter dado sinais de alinhament­o ao novo ocupante do Palácio do Planalto, Maia tem apoio de parte da oposição, que tenta barrar a eleição de um presidente genuinamen­te bolsonaris­ta. Ele tentará a reeleição.

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O presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), em entrevista à TV Aparecida

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