Folha de S.Paulo

Fala de Bolsonaro faz Egito cancelar viagem de comitiva

Presidente eleito pretende reconhecer Jerusalém como a capital de Israel, o que desagradou a comunidade árabe

- -Gustavo Uribe e Mariana Carneiro Lionel Bonaventur­e - 21.out.18/AFP

O governo egípcio cancelou uma visita que o ministro de Relações Exteriores do Brasil, Aloysio Nunes Ferreira, faria ao país árabe.

O chanceler brasileiro desembarca­ria no país nestaqu arta-feira (7) e cumprir iauma agenda de compromiss­os entre os dias 8 e 11 de novembro.

Nesta segunda-feira (5), o governo brasileiro foi informado pelo Egito que a viagem teria que ser cancelada por mudança na agenda de autoridade­s do país.

Não é comum no protocolo da diplomacia desmarcar viagens em cima da hora.

O gesto, segundo diplomatas brasileiro­s, foi uma retaliação às declaraçõe­s recentes do presidente eleito Jair Bolsonaro.

Ele disseque pretende reconhecer Jerusalém como capital de Israel equei rá transfe- rira embaixada brasileira de Te lA vivp ara acidade, oque tem desagradad­o a comunidade árabe.

Segundo relatos de diplomatas, a Liga dos Países Árabes enviou inclusive uma nota à embaixada brasileira no Cairo condenando as declaraçõe­s do presidente eleito. Para a visita de Aloysio, um grupo de empresário­s brasileiro­s já tinha chegado ao Egito.

Juntos, os países árabes são o segundo maior comprador de proteína animal brasileira. Em 2017, as exportaçõe­s somaram US$ 13,5 bilhões e o superávit para o Brasil foi de US$ 7,17 bilhões.

A declaração de Bolsonaro irritou o governo federal. A avaliação de assessores presi denciaiséd eque amu dançada embaixada podepre judicara economia brasileira e acaba envolvendo o país em uma disputa regional.

O ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, defende que seja respeitado o posicionam­ento do diplomata brasileiro Oswaldo Aranha (1894-1960), que apoiou a partição da Palestina entre judeus e árabes.

“Essa é uma opinião pessoal: espero que o presidente eleito reflita sobre esse assunto antes de tomar uma decisão. Não vejo nada que pode vir de positivo nisso”, disse ele à Folha.

Para o presidente da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Rubens Hannun, a mudança da embaixada pode abrir as portas para países concorren- tes do Brasil no setor de proteína animal, como Turquia, Austrália e Argentina.

Para Hannun, a questão da embaixada brasileira em Israel é algo forte e sensível.

“Já tivemos ruídos com a [Operação] Carne Fraca e com a paralisaçã­o dos caminhonei­ros, mas conseguimo­s superar. Temos a fidelidade dos países árabes”, afirma Hannun.

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