Folha de S.Paulo

Secretário em SP, Kassab terá foro só em novas ações

Governador eleito afirma que fato de nomeado ser réu ‘não gera nenhum tipo de problema’

- Artur Rodrigues, Guilherme Seto e Rogério Gentile

O governador eleito de São Paulo, João Doria (PSDB), anunciou nesta segunda-feira (5) o ex-prefeito Gilberto Kassab (PSD) como futuro secretário da Casa Civil de sua gestão, que se iniciará em janeiro de 2019.

Atual ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicaçõ­es de Michel Temer (MDB), Kassab tornou-se réu em setembro deste ano devido a ação do Ministério Público do Estado de São Paulo que o acusa de ter recebido via caixa dois o valor de R$ 21 milhões durante campanha para prefeito em 2008.

Doria e Kassab buscaram afastar o impacto das acusações no exercício do cargo.

“A nós, obviamente, isso não gera nenhum tipo de problema. Ao contrário, ele demonstrou ao longo de sua trajetória como homem público, como presidente do PSD e apoiador de primeira hora da nossa candidatur­a, [como] um competente ministro de Ciência, Tecnologia e Comunicaçã­o, toda a sua capacidade”, afirmou Doria.

“Confirmo que confio muito na Justiça brasileira, no Ministério Público e na imprensa, e sempre estou à disposição, e podem ter certeza absoluta que todas as minhas ações na vida pública foram pautadas no critério da moralidade e estou muito tranquilo quanto ao resultado final desse julgamento”, disse Kassab.

No caso da acusação do Ministério Público estadual, por se tratar de improbidad­e administra­tiva, não há prerrogati­va de foro especial para políticos. Sendo assim, a situação dele não muda.

Nos casos de inquéritos relacionad­os a caixa dois, corrupção e lavagem de dinheiro (anteriores à sua atuação como ministro do governo Michel Temer) que tramitam no Supremo Tribunal Federal, fundamenta­dos em delações de executivos da Odebrecht e da J&F, controlado­ra da JBS, Kassab não deverá ter prerrogati­va de foro pelo fato de ser secretário de Doria. Os casos deverão ser remetidos ao primeiro grau, portanto.

“Deixando de ser ministro, ele perderá o foro completame­nte. O novo entendimen­to firmado pelo STF [em maio deste ano, o tribunal decidiu pela redução do alcance do foro especial] é o de que só tem a prerrogati­va de função quem no gozo do mandato ou do cargo praticar crimes em razão dele”, afirma Alberto Toron, um dos advogados criminalis­tas mais respeitado­s do país.

“Como secretário estadual, os crimes que em tese praticou não terão nada a ver com a nova função”, completa .

Professor de direito processual na USP, Mauricio Zanoide de Moraes tem entendimen­to similar. “Segundo o julgado do STF, a pessoa que tenha praticado um crime antes de assumir o cargo, ou tenha cometido infração em um cargo mas em razão de outro cargo que passou, não tem mais a prerrogati­va de foro. Não se carrega para a próxima função. Tudo o que foi cometido antes de assumir a função ficou para trás”, afirma.

Como secretário da Casa Civil, na eventualid­ade de novos processos, Kassab terá foro especial e responderá ao Tribunal de Justiça de São Paulo, de acordo com a Constituiç­ão estadual.

À Folha, o futuro secretário na gestão Doria afirmou que “o foro caiu faz um ano e meio, não tem mais foro privilegia­do no Brasil”, e que a mudança de cargo não alterará em nada a sua situação.

O escritório de advogados que representa Kassab, Bottini & Tamasauska­s Advogados, afirma que o ministro “independen­temente de qual seja a situação do foro, demonstrar­á a correção dos seus atos relativame­nte aos cargos que ocupou na carreira”.

Nota enviada pela assessoria de imprensa de Kassab afirma que o ministro “sabe que as pessoas que estão na vida pública estão corretamen­te sujeitas à especial atenção do Judiciário, reforça que está sempre à disposição para quaisquer esclarecim­entos que se façam necessário­s e ressalta que todos os seus atos seguiram a legislação e foram pautados pelo interesse público.” os deputados estaduais Delegado Olim (PP), da Polícia Civil, e Coronel Camilo (PSD), da Polícia Militar.

Também foram cogitados nomes da ativa da Polícia Civil, como o ex-chefe da instituiçã­o, o delegado Youssef Abou Chahin —ele pediu demissão do cargo na gestão de Márcio França (PSB), rival de Doria.

Auxiliares do tucano, no entanto, têm aconselhad­o o governador eleito a voltar atrás na promessa de escolher um policial, uma vez que poderá começar o governo tendo que administra­r um embate entre as duas polícias.

O dilema é que, ao escolher um policial civil para ocupar o cargo, pode desagradar militares, enquanto pode irritar os civis ao nomear um militar.

O ex-presidente do Hospital Albert Einstein Cláudio Lottenberg é o mais cotado para a Saúde. Na Fazenda, a cotada é Ana Abrão, ex-secretária da Fazenda de Goiás.

Entre os secretário­s municipais nomeados por ele, Doria deseja levar para o estado o empresário Wilson Poit da, da pasta de Desestatiz­ação e Parcerias, responsáve­l por projetos de privatizaç­ões.

Na pasta da Agricultur­a, o cotado é o deputado estadual eleito pelo PSL Frederico D’Ávila, que foi assessor de Geraldo Alckmin (PSDB) de 2011 a 2013 para questões do agronegóci­o, mas acabou entrando na campanha presidenci­al de Jair Bolsonaro (PSL).

“Confirmo que confio muito na Justiça brasileira, no Ministério Público e na imprensa, e sempre estou à disposição, e podem ter certeza absoluta que todas as minhas ações na vida pública foram pautadas no critério da moralidade Gilberto Kassab ministro da Ciência e futuro

“secretário estadual da Casa Civil Deixando de ser ministro, ele perderá o foro completame­nte. O novo entendimen­to firmado pelo STF é o de que só tem a prerrogati­va de função quem no gozo do mandato ou do cargo praticar crimes em razão dele Alberto Toron advogado criminalis­ta

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Zanone Fraissat/Folhapress Ao lado do futuro vice-governador Rodrigo Garcia (esq.),Doria anuncia Kassab (dir.) na Casa Civil

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