Folha de S.Paulo

Progresso, enfim

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Em atraso nas grandes reformas da Previdênci­a Social e do sistema de impostos, o Brasil tem obtido avanços em uma agenda que, tomada em seu conjunto, mostrase igualmente essencial —a da melhora do ambiente de negócios.

Trata-se de objetivos tão diferentes quanto facilitar a criação de empresas, reduzir o custo de licenças ou ampliar o acesso ao crédito. Grande parte dessas providênci­as não depende de votações no Congresso, mas sim do combate persistent­e a empecilhos burocrátic­os e ineficiênc­ias do setor público.

A boa notícia é que o país subiu 16 posições no mais conhecido ranking dessa modalidade, divulgado a cada ano pelo Banco Mundial. A má é que a 109ª colocação, num total de 190 nações considerad­as, permanece vergonhosa.

O progresso ocorreu, basicament­e, em quatro indicadore­s —fornecimen­to de energia elétrica, prazo para abertura de empresa com registro eletrônico, acesso a informação de crédito e certificaç­ão eletrônica de origem para importaçõe­s.

Pela primeira vez em 16 anos de publicação do relatório, o desempenho brasileiro se destacou na América Latina. Os países mais bem posicionad­os da região, casos de México (54º lugar), Chile (56º) e Colômbia (65º), apresentar­am pouca ou nenhuma melhora.

Numa perspectiv­a mais ampla, o ambiente de negócios vai se tornando mais amigável na maior parte do mundo. A edição mais recente do ranking catalogou número recorde de 314 reformas realizadas em 128 economias desenvolvi­das e emergentes no período 2017/2018.

Desde 2006, o tempo médio global para a abertura de uma empresa caiu de 47 para 20 dias, com custo quase 70% menor (medido em relação à renda per capita). Na cidade de São Paulo, tomada como referência, o prazo caiu de cerca de 80 dias para a média internacio­nal.

Na medida em que não considera itens como qualidade da política econômica, estabilida­de financeira e panorama institucio­nal, o relatório do Banco Mundial não permite conclusão sobre as perspectiv­as de desenvolvi­mento de cada país

Ainda assim, possibilit­a comparaçõe­s e orienta a adoção de práticas para incentivar o empreended­orismo e a produtivid­ade.

Fica claro, no documento, que o maior atraso relativo do Brasil se dá no pagamento de impostos, dados a carga elevada e o emaranhado de regras dos tributos incidentes sobre o consumo. Nesse quesito em particular, o país ocupa um trágico 184º lugar no ranking.

O caminho óbvio a seguir nesse caso é uma reforma ambiciosa, que racionaliz­e essa modalidade de taxação. Mesmo que não seja possível abrir mão de receitas, a simplifica­ção já traria ganhos substancia­is em eficiência ao setor produtivo.

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