Folha de S.Paulo

Campanha de Meirelles usou dados do Bolsa Família

Mensagens de WhatsApp foram enviadas para beneficiár­ios do programa

- Aiuri Rebello, Flávio Costa e Leandro Prazeres

A campanha de Henrique Meirelles (MDB), ex-ministro da Fazenda e candidato derrotado à Presidênci­a, fez disparos de mensagem em massa pelo WhatsApp para números de telefone de beneficiár­ios do programa social Bolsa Família, do governo federal.

Os envios foram feitos durante o primeiro turno das eleições. Os números de quem recebe o benefício são sigilosos e seu uso, divulgação ou cessão para outros fins que não os previstos pela legislação, são ilegais.

A campanha de Meirelles contratou por R$ 2 milhões a empresa Deep Marketing para cuidar de parte da campanha na internet incluindo serviços como a construção e manutenção de um site, a gestão de redes sociais e o envio de mensagens via WhatsApp do candidato.

A Deep Marketing tem entre seus sócios o empresário Lindolfo Antônio Alves Neto, que também é dono da Yacows, empresa que presta o serviço de envio das mensagens via WhatsApp.

A Yacows é investigad­a pela Polícia Federal por participar de um esquema de envi- os de mensagens com conteúdo anti-PT financiado por empresário­s favoráveis ao presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), conforme revelou a Folha.

A campanha de Meirelles foi a segunda mais cara entre os presidenci­áveis: R$ 45 milhões do bolso do próprio candidato, conforme declarado à Justiça Eleitoral.

Procurada, a campanha de Meirelles disse que não contratou nem teve nenhuma relação comercial com a Yacows e que não ordenou disparos de mensagens com base de dados comprada. Po- rém, não respondeu às perguntas do UOL sobre a natureza dos serviços prestados pela Deep Marketing.

Os diretores responsáve­is pelas empresas Deep Marketing e Yacows não respondera­m aos pedidos de pronunciam­ento da reportagem.

Responsáve­l pelo programa Bolsa Família, o Ministério do Desenvolvi­mento Social afirmou que não forneceu dados a campanhas eleitorais e desconhece casos de utilização indevida da base nacional do Cadastro Único.

No dia no dia 5 de outubro, dois dias antes do primeiro turno, a Deep Marketing disparou uma mensagem sobre uma das propostas do candidato do MDB. O disparo aconteceu à 1h e foi direcionad­o a uma lista com 2 milhões de contatos.

O conteúdo da mensagem era direcionad­o a quem já era beneficiad­o pelo programa e começa com “Programa Bolsa Família ainda melhor. Procriança: receba um benefício extra para deixar seu filho numa creche particular”.

Fora da imagem, no corpo de mensagem, um texto afirma: “Olha que legal. Isso pode melhorar a sua vida!”

A lista de contatos para a qual mensagem foi enviada estava gravada com o nome “Base_Comprada_Bolsa Família_16”.

Entre os dias 18 de setembro e 5 de outubro, a Deep Marketing disparou pelo menos 24 mensagens diferentes em massa pelo WhatsApp com propaganda oficial da campanha de Meirelles.

Diversas dessas listas haviam sido batizadas com o termo “comprada”. De acordo com a legislação eleitoral, campanhas e candidatos não podem utilizar bases de dados de terceiros para divulgar conteúdo.

O vazamento de bases de dados governamen­tais para uso eleitoral é vedado.

A reportagem ligou para dezenas de números da lista de contatos gravada com o nome “Base_Comprada_Bolsa Família_16”. Confirmou com essas pessoas, em municípios que iam do interior do Paraná ao Amazonas, que os telefones pertencem a beneficiár­ios do Bolsa Família, conforme indica o sistema de disparo de mensagens em massa pelo WhatsApp.

Os beneficiár­ios que utilizavam o WhatsApp confirmara­m o recebiment­o das mensagens. Todas negaram ter se cadastrado junto a partidos políticos para receber conteúdo de campanha.

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Sergio Dutti /Divulgação O candidato do MDB à Presidênci­a da República, Henrique Meirelles, durante a campanha

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