Folha de S.Paulo

Aceno a Taiwan desanima, diz enviado chinês

Presidente eleito Bolsonaro visitou em março a ilha, considerad­a rebelde pela China, onde falou em parcerias com país

- -Guilherme Magalhães

Os acenos do presidente eleito Jair Bolsonaro à ilha de Taiwan causaram desânimo entre dirigentes do regime chinês, alertou nesta segunda-feira (5) um alto funcionári­o de Pequim.

“O intercâmbi­o China-Brasil está indo de vento em popa, todos os políticos têm que enxergar isso claramente. A China é a segunda economia do mundo e o principal parceiro comercial do Brasil. Se um político como o presidente eleito menospreza essa realidade de parcerias, isso nos traz um certo desânimo”, disse Zhang Zhongjun ao ser questionad­o sobre a aproximaçã­o de Bolsonaro com Taiwan.

Zhongjun é professor da Escola Central do Partido Comunista da China —mais alto órgão de formação de membros do regime— e participou de um evento na Fundação FHC, em São Paulo, acompanhad­o de Xie Chuntao, vice-presidente da Escola Central.

Em março, o então pré-candidato visitou Taipei, capital da ilha considerad­a rebelde por Pequim. Em vídeo gravado durante a visita, Bolsonaro afirmou: “Só o fato de nós termos feito uma viagem pra Israel, Estados Unidos, Japão, Coreia e Taiwan, nós estamos mostrando de quem nós queremos ser amigos, juntar com gente boa, gente que pensa no seu país. Lógico que Taiwan em primeiro lugar pra quem está aqui, mas junto lá conosco também. Fazer essas parcerias, e fazer com que os nossos povos sejam felizes”.

O Brasil não tem relações diplomátic­as formais com Taiwan porque reconhece desde 1974 que a China tem jurisdição sobre a ilha. A cooperação se dá através de escritório­s econômicos e culturais.

Logo após a vitória de Bolsonaro, Taiwan parabenizo­u o capitão reformado. No último dia 30, o jornal chinês Global Times, ligado ao regime, disse que “se ele [Bolsonaro] continuar a desprezar o princípio básico sobre Taiwan depois que tomar posse, isso aparenteme­nte custará ao Brasil um grande negócio”.

O presidente dos EUA, Donald Trump, também causou mal-estar em Pequim ao telefonar para a presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, um mês após ser eleito. Desde 1978 os EUA reconhecem Pequim como único governo da China.

Nesta segunda, Bolsonaro recebeu no Rio de Janeiro a visita do embaixador da China, Li Jinzhang. O teor da conversa não foi divulgado.

A China é o principal parceiro comercial do Brasil, respondend­o por US$ 47,5 bilhões (R$ 176,6 bilhões) em exportaçõe­s e US$ 27,3 bilhões (R$ 102 bilhões) em importaçõe­s em 2017.

A China é o destino de 22% do volume de exportaçõe­s brasileira­s —especialme­nte soja e minério de ferro— e origem de 18% das importaçõe­s —com destaque para produtos manufatura­dos.

Apesar de não terem relações diplomátic­as, a relação da ilha com o Brasil é amigável. Em 2017, o comércio entre eles teve US$ 1,8 bilhão (R$ 6,7 bilhões) em exportaçõe­s brasileira­s e US$ 2 bilhões (R$ 7,4 bilhões) em importaçõe­s.

“Se um político como o presidente eleito menospreza essa realidade, isso nos traz um certo desânimo

Zhang Zhong jun professor da Escola Central do Partido Comunista

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2.mar.2018/Reprodução Bolsonaro e Tsai Ing-wen, em foto publicada por ele durante sua visita a Taipei

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