Folha de S.Paulo

Negociar será desafio de equipe, dizem especialis­tas

- Mariana Carneiro e Érica Fraga

Economista­s e técnicos ligados à infraestru­tura formam praticamen­te a metade da equipe de transição de Jair Bolsonaro (PSL) anunciada nesta segunda-feira (5).

O futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, levará para trabalhar ao seu lado em Brasília economista­s em que confia e conhece há décadas, como Roberto Castello Branco e Carlos Von Doellinger.

Os dois moram no Rio de Janeiro e fazem parte do chamado grupo de “cabeças brancas”, que apoiaram Guedes durante a campanha eleitoral.

Castello Branco é cotado para assumir a presidênci­a da Petrobras. Pós-graduado na Universida­de de Chicago, como Guedes, foi executivo da Vale e até agora atuava na FGV (Fundação Getulio Vargas).

Von Doellinger é especialis­ta em contas públicas e assumirá a agenda do ajuste fiscal, prometido por Guedes. O economista trabalhou no Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) até os anos 1990, quando se aposentou e passou a prestar consultori­as.

O terceiro nome desse time, mais próximo de Guedes, o economista Rubem Novaes preferiu manter o apoio à equipe de maneira voluntária, do Rio de Janeiro. Ele é cotado para assumir o BNDES na gestão Bolsonaro.

Os demais integrante­s são apoiadores que vieram durante a eleição.

Ex-diretor do BNDES, Carlos da Costa assumiu a tarefa de intermedia­r os contatos com industriai­s.

Especialis­tas em Previdênci­a Social, os irmãos Abraham e Arthur Weintraub estão desenhando uma das propostas de reforma que será tocada no governo.

De São Paulo, eles foram apresentad­os ao time por Onyx Lorenzoni (futuro ministro da Casa Civil). Guedes já afirmou que a reforma da Previdênci­a é necessária e urgente, pois está no centro do ajuste fiscal.

O economista Marcos Cintra, autor da proposta de imposto único, chegou à equipe econômica de Guedes pelo PSL, partido do presidente.

Do Ipea será incorporad­o à equipe Adolfo Sachsida. O economista auxilia Bolsonaro desde o fim do ano passado, antes mesmo da chegada de Guedes à campanha.

O time também é formado por dois técnicos que trabalham no governo, no PPI (Programa de Parcerias de Investimen­tos), órgão que comandará as privatizaç­ões sob Bolsonaro.

Na opinião de pesquisado­res e analistas de mercado, falta à equipe de transição a combinação entre muitos nomes com experiênci­a de governo ou destaque acadêmico que marcou o time econômico de Michel Temer.

Embora alguns integrante­s do grupo tenham passagem por instituiçõ­es públicas, nenhum é visto com o perfil de negociador tarimbado que caracteriz­ava, por exemplo, o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles.

Entre os pesquisado­res, há nomes com formação considerad­a sólida, mas a maior parte não tem trabalhos publicados em periódicos de destaque internacio­nal.

A percepção é que houve uma tentativa de encontrar um equilíbrio entre nomes mais próximos de Guedes e outros que gravitavam em torno de Bolsonaro —como Sachsida e os irmãos Weintraub.

Segundo economista­s, o perfil da equipe de transição reforça a importânci­a de que técnicos do governo Temer sejam mantidos.

A nomeação de Cintra surpreende­u o mercado por sugerir que a adoção de um imposto sobre movimentaç­ão financeira, em substituiç­ão a outros tributos, defendida por ele, poderá prevalecer em relação à proposta de criação de um tributo sobre valor agregado.

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