Folha de S.Paulo

Presidente da FGV diz que 1968 só acabou agora

- Danielle Brant

Cinquenta anos depois, 1968 finalmente acabou no Brasil com a eleição do candidato Jair Bolsonaro (PSL), afirmou Carlos Ivan Simonsen Leal, presidente da FGV (Fundação Getulio Vargas).

Em palestra a executivos e personalid­ades brasileiro­s e americanos na Brazilian-American Chamber of Commerce, em Nova York, na quinta-feira (1º), Simonsen Leal disse que o novo governo representa uma ruptura com a mentalidad­e que direita e esquerda sustentava­m até então e que tinha suas origens em 1968.

Naquele ano, estudantes realizaram em Paris protestos em que pregaram, entre outras coisas, o fim do capitalism­o, dando origem a uma geração de políticos com o pensamento mais voltado ao social e a um Estado com peso maior.

“Há uma esquerda e uma direita que pensam que nós estamos em 1968, que pensam que o melhor negócio do mundo é uma siderúrgic­a. E não é a siderúrgic­a. O lucro anual do Google compra uma siderúrgic­a”, diz.

“Por que não somos capazes de fazer um Google? Inovação, mercado de capitais e insuficiên­cia de crédito. Quais são as razões disso? Há um monte de razões. Essas razões são os incentivos, têm a ver com a montagem.”

Na França, afirma, essa mentalidad­e acabou depois que o presidente François Mitterrand (1981-1995), o primeiro socialista eleito para o cargo no país, adotou políticas econômicas considerad­as fracassada­s.

Ele foi substituíd­o por Jacques Chirac (1995-2007), que adotou medidas de austeridad­e com cortes orçamentár­ios —desafio semelhante ao que aguarda Bolsonaro.

A mudança de mentalidad­e passou ainda por uma reformulaç­ão da discussão capital-trabalho, algo que ficou mais evidente após a reforma trabalhist­a aprovada pelo governo Michel Temer.

“Se você é empresário de si mesmo, você olha a relação capital-trabalho de outro jeitribuiç­ão to. Você não quer tantas garantias. Você quer que a empresa invista para alavancar seu trabalho”, diz.

Dentro das medidas de austeridad­e, a reforma da Previdênci­a deve provocar mais controvérs­ia, como já ocorreu durante o governo Temer.

“O que você tem de dizer é falar com as pessoas que só podem se aposentar se tiverem 65 anos, se homens, e 63, se mulheres”, defendeu.

E a discussão passa por rever o conceito de direitos adquiridos. “Ninguém nunca diz de quem eles foram adquiridos. Eles foram adquiridos à custa de todo o mundo. Todo o mundo tem de pagar a conta. Foram adquiridos à custa de nossos filhos, netos, e assim em diante”, afirmou.

Mas sem confrontaç­ão. “As pessoas têm de entender que a discussão do Orçamento é parte da democracia. Eu quero que meu representa­nte vá lá e discuta os gastos. Eu quero que meu representa­nte acompanhe os gastos, para saber se o que ele discutiu foi aquilo que está sendo executado.”

“Há uma esquerda e uma direita que pensam que nós estamos em 1968, que pensam que o melhor negócio do mundo é uma siderúrgic­a

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Carlos Ivan Simonsen Leal Leo Pinheiro - 11.mar.16/Valor/Folhapress

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