Na topografia existem três nortes; na democracia só um, o da Constituição
Dodge faz discurso com recado a militar reformado, que vai a sessão de aniversário da Constituição
Em sua primeira visita a Brasília como presidente eleito, nesta terça (6), Jair Bolsonaro defendeu a Constituição, mas o gesto não foi suficiente para blindá-los de cobranças por seu histórico de declarações controversas.
Deputado federal pelo PSL do Rio de Janeiro, Bolsonaro adotou roteiro diferente do que costumava fazer nos quase 28 anos de mandato. Em vez de entrar por um anexo da Câmara dos Deputados, ele foi direto ao Senado, onde chegou sob um forte aparato de segurança, composto por integrantes da Polícia Federal e da Polícia Legislativa.
No Congresso, ele chegou escoltado por Gustavo Bebianno, ex-presidente do PSL, e o general Augusto Heleno, escalado para assumir a Defesa ou o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) em seu governo. Foi em direção à presidência do Senado, onde o esperava Eunício Oliveira (MDB-CE).
De lá, Bolsonaro saiu acompanhado dos chefes dos Três Poderes: Oliveira, o presidente Michel Temer e Dias Toffoli, presidente do STF (Supremo Tribunal Federal). Acompanhavam o grupo a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, e dois filhos do presidente eleito: o deputado Eduardo Bolsonaro (PSLSP) e o senador eleito Flavio Bolsonaro (PSL-RJ).
No plenário da Câmara, onde Bolsonaro participou com autoridades de uma cerimônia pelos 30 anos da promulgação da Constituição, a recepção foi tímida.
Em seu discurso, ao final do evento, prometeu respeitar o texto constitucional. Bolsonaro disse que na topografia existem três nortes, “mas na democracia só há um norte, o da Constituição”.
Em breve fala, ele também pediu a Deus que ilumine seu governo. “Agradeço a Ele por ter salvo a minha vida”, disse também, em referência ao atentado que sofreu em Juiz de Fora (MG)
Acenava ali a Toffoli, com quem trocou cochichos durante toda a sessão, e com quem se reúne nesta quarta (7). O chefe do Supremo, Poder ao qual um dos filhos de Bolsonaro disse que bastavam “um cabo e um soldado” para fechá-lo, fez um discurso ameno para o presidente eleito.
Disse acreditar que o capitão reformado cumprirá a Constituição. E foi aplaudi- do por ele.
Em rota de colisão com setores do Ministério Público, o presidente eleito foi alvo de Dodge.
Bolsonaro não a olhou nem aplaudiu enquanto a procuradora-geral dizia que não basta “reverenciar” a Constituição: “É preciso cumpri-la”, sentenciou. De pé na tribuna, Dodge deu vários recados a Bolsonaro ao defender as minorias, o meio ambiente e a liberdade de imprensa, temas que provocaram atritos na campanha.
Bolsonaro viajou pela primeira vez em um avião da FAB (Força Aérea Brasileira) como presidente eleito e pousou perto das 9h no aeroporto de Brasília. Trouxe em sua comitiva nomes como o general Hamilton Mourão, seu vice, e o futuro ministro da Economia, Paulo Guedes.
Da agenda do Congresso, partiu para o Ministério da Defesa, onde almoçou com o ministro titular da pasta, general Joaquim Silva e Luna. Ao fim do encontro, prometeu dar mais importância aos militares em sua gestão. Segundo o ministro, ele assumiu o compromisso de evitar o contingenciamento do orçamento para Defesa.
Bolsonaro falou ainda que militares “terão lugar de destaque nesse governo”.
Capitão reformado do Exército, o presidente eleito visitou ainda o comandante da Marinha, almirante Eduardo Bacellar, e do Exército, general Eduardo Villas Bôas. Nesta quarta, ele visitará o comando da Aeronáutica.
Ele prometeu concluir até o fim de novembro a montagem dos ministérios de seu governo. Até o final do mês a gente completa os ministérios, se Deus quiser.”
Bolsonaro pretende reduzir a atual estrutura, de 29 pastas, para um máximo de 17.
A equipe de transição ainda discute as fusões de alguns ministérios que são consideradas polêmicas. É o caso da junção, por exemplo, de Agricultura e Meio Ambiente e de Comércio Exterior à pasta da Economia, que será comandada por Paulo Guedes.
Até o momento, o presidente eleito já anunciou os nomes de cinco futuros ministros: Onyx Lorenzoni (Casa Civil), Paulo Guedes (Economia), general Augusto Heleno (Defesa), Sergio Moro (Justiça e Segurança Pública) e Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia).
Nesta terça, Bolsonaro fez um aceno de que pode alterar a indicação de Heleno da Defesa para o comando do GSI (Gabinete de Segurança Institucional). Se isso ocorrer, Silva e Luna poderá seguir no cargo que ocupa no governo Temer.
O presidente eleito não quis confirmar o nome do senador Magno Malta para um de seus ministérios.
Malta concorreu à reeleição no Espírito Santo, mas foi derrotado nas urnas.
“Já estamos conversando aqui. O que nós não podemos é anunciar alguém e dizer que mudou ou que não é mais. O Magno Malta é uma pessoa que me ajudou muito antes mesmo da minha campanha e seria meu vice. Ele que decidiu não sê-lo. Não teve, lamentavelmente sucesso no Senado, mas nós não podemos prescindir do apoio dele na formação neste governo”, disse.
Malta é cotado para assumir a junção das pastas de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos.
A possível indicação, contudo, já rendeu críticas inclusive de aliados de Bolsonaro.
No fim das agendas, o presidente eleito foi a seu apartamento funcional, na Asa Norte, onde recebeu aliados. Nesta quarta, ele tem encontro com Toffoli e um almoço no Superior Tribunal de Justiça.
À tarde, ele deve visitar o gabinete do governo de transição, no CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil) e o presidente Michel Temer, no Planalto.
O presidente eleito deve permanecer em Brasília até esta quinta-feira (8).