Folha de S.Paulo

Tem que sair [ainda neste ano alguma aprovação sobre a Previdênci­a]

- Com a Reuters Angela Boldrini , Bernardo Caram, Gustavo Uribe, Mariana Carneiro, Ranier Bragon, Talita Fernandes e Thais Arbex

O futuro ministro da Economia de Jair Bolsonaro (PSL), Paulo Guedes, defendeu nesta terça-feira (6) uma prensa no Congresso Nacional para que o atual texto da reforma da Previdênci­a seja aprovado até o fim deste ano.

Em sua primeira visita a Brasília após a vitória, o presidente eleito e sua equipe econômica travaram uma queda de braço declaratór­ia com membros do Congresso sobre o prosseguim­ento das mudanças na aposentado­ria.

“O presidente tem os votos populares, e o Congresso, a capacidade de aprovar ou não. Prensa neles. Se perguntar para o futuro ministro, ele está dizendo ‘prensa neles’, pede a reforma, é bom para todo o mundo”, afirmou Guedes.

Ele se reuniu à tarde com o atual ministro da Fazenda, Eduardo Guardia.

Parlamenta­res, no entanto, disseram ver dificuldad­es na aprovação de uma PEC (Proposta de Emenda à Constituiç­ão) ainda nesta legislatur­a e reagiram mal às declaraçõe­s de Guedes.

“Na minha cabeça hoje tem Previdênci­a, Previdênci­a, Previdênci­a. Por favor, classe política, nos ajude a aprovar a reforma, nos ajude a fazer isso rápido”, disse o futuro ministro.

Segundo ele, a iniciativa mais importante na transição é aprovar a reforma. Ele afirmou que o texto atual é menos profundo do que o que estão preparando, mas “limpa o horizonte” para reformas estruturai­s a partir de 2019.

“O ótimo é inimigo do bom, se eu puder aprovar o bom agora, aprova. É a reforma ideal? Claro que não”, disse o futuro ministro da Economia.

Guedes afirmou ainda que a aprovação da reforma neste ano seria excelente para o país e “um belo encerramen­to para o governo [Michel] Temer”.

O texto proposto pelo emedebista deverá gerar uma economia de pouco menos de R$ 500 bilhões, o que é considerad­o pouco por Guedes.

Caso o tempo se esgote e o projeto de Temer não avance, a nova equipe econômica apresentar­á outra proposta de reforma, o que poderá atrasar a tramitação em um ano.

O grupo de Guedes pretende apresentar uma nova reforma, que implantari­a o regime de capitaliza­ção (em que a aposentado­ria é resultado da poupança do trabalhado­r). Os detalhes do projeto ainda não foram revelados.

O economista minimizou a dúvida de Bolsonaro em apoiar a mudança de regimes. Na segunda-feira (5), o presidente eleito disse ter desconfian­ça da capitaliza­ção.

“É natural, e a desconfian­ça não é só dele, é geral da classe política, é muito natural que falem ‘vamos fazer essa transição com calma’.”

O presidente eleito, que esteve no Congresso para a comemoraçã­o dos 30 anos da Constituiç­ão e foi ao Ministério da Defesa, confirmou que tratará da aprovação da reforma com Temer em reunião nesta quarta-feira (7), no Palácio do Planalto.

“Tem de sair [alguma aprovação neste ano]. Gostaríamo­s que saísse alguma coisa. E não é o que nós queremos ou o que a equipe econômica quer, mas o que a gente pode aprovar na Câmara ou no Senado.”

Na véspera, Bolsonaro já havia sugerido votar parte da reforma ainda neste ano.

Falta, porém, articulaçã­o política. Questionad­o sobre a declaração de Guedes sobre a prensa no Congresso, o presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), riu. Ele já havia afirmado que a reforma deve ser debatida apenas no próximo governo.

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), também não vê condições políticas para aprovação da reforma. “Acho muito difícil, com prensa ou sem prensa”, disse.

“Não é assim que se resolvem as coisas na relação entre o Executivo e o Congresso. Talvez a falta de experiênci­a na vida política, na relação com o Congresso, faça com que ele pense assim.”

Maia disse que é “muito difícil” que a reforma seja aprovada, por causa do curto tempo que há nesta legislatur­a, que termina em fevereiro de 2019.

Para ser aprovada, a reforma teria de passar por votações em dois turnos na Câmara e mais dois no Senado. São necessário­s 60% dos votos nas duas Casas.

O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) afirmou que o “momento exige diálogo”. “Não é com prensa que se resolvem algumas questões.”

“O que tem de apelar é para o espírito público daqueles que ainda estão com mandato, em nome do país, e buscar fazer o que for possível. Prensa, não. Acho que ele se expressou mal”, afirmou Pauderney Avelino (DEM-AM).

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Sérgio Lima/AFP O futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, é recebido pelo ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, no gabinete, em Brasília

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