Folha de S.Paulo

Choque de realidade

- Ricardo Balthazar (interino) painel@grupofolha.com.br

A volta a Brasília como presidente eleito ofereceu a Jair Bolsonaro uma amostra concentrad­a das dificuldad­es que enfrentará. Na celebração dos 30 anos da Constituiç­ão, parlamenta­res se revezaram com o presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, e a procurador­a-geral da República, Raquel Dodge, para lembrá-lo dos limites impostos ao Executivo. Durante o dia, líderes do Congresso avisaram que não há como aprovar reformas ali antes da posse do novo governo.

toca de lado Há entre as principais lideranças um acordo tácito para não discutir nenhuma proposta polêmica antes do fim do ano. A ordem, dizem os caciques, é esperar Bolsonaro apresentar com clareza as mudanças que pretende fazer e deixar que se entenda com o novo Congresso que tomará posse em fevereiro.

prego na areia Na avaliação desses líderes, a equipe de Bolsonaro não tem segurança de que sua base apoiará uma reforma ambiciosa da Previdênci­a. Eles apontam como obstáculos a força de corporaçõe­s que rejeitam mudanças nas aposentado­rias, como os militares, e de novatos muito sensíveis à pressão das ruas.

nem em casa Embora Bolsonaro e seu guru econômico, Paulo Guedes, tenham reiterado o interesse em aprovar parte da reforma da Previdênci­a ainda neste ano, até integrante­s da equipe do presidente eleito se dizem céticos.

é assim mesmo No mercado financeiro, desencontr­os recentes entre o presidente eleito e seu futuro ministro não assustaram ninguém. Para um banqueiro, as propostas ventiladas até aqui são prematuras. Um gestor de investimen­tos acha normal o desacerto num governo ainda em formação.

obra em progresso Há três modelos de reforma tributária em estudo no momento, e dez propostas diferentes para a Previdênci­a. Caberá a Guedes selecionar as melhores ideias e submetê-las ao crivo de Bolsonaro e seu futuro chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni.

no páreo Três integrante­s da equipe de transição estão bem cotados na disputa pela presidênci­a do BNDES: os economista­s Rubem Novaes e Carlos Alexandre da Costa, ex-diretores do banco oficial de fomento, e Roberto Castello Branco, ex-diretor da Vale.

volte uma casa O veto do Conselho Superior do Ministério Público de São Paulo a um acordo fechado pela Odebrecht com promotores estaduais e a prefeitura da capital pode esfriar negociaçõe­s em andamento com outras empresas atingidas pela Lava Jato.

para presente Entre os benefícios concedidos em troca da sua cooperação com as autoridade­s, a Odebrecht ganharia com o acordo o direito de retomar um contrato de R$ 503 milhões que ela mesma reconhece ter obtido de maneira fraudulent­a no passado.

também quero Os promotores apontaram erros na decisão e pediram aos conselheir­os que reconsider­em o veto. Eles negociam acordo semelhante com a Andrade Gutierrez, e a Engevix é a próxima na fila. Todas esperam benefícios iguais aos da Odebrecht.

não fui eu Em palestra nesta segunda (5) na Universida­de Harvard, nos EUA, o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, lamentou o fato de que nenhum dos políticos atingidos pelos escândalos dos últimos anos tenha pedido desculpas. “As pessoas simplesmen­te perderam o senso crítico”, disse.

para todos Relator do processo que pode incluir a Ordem dos Advogados do Brasil entre as entidades submetidas à fiscalizaç­ão do Tribunal de Contas da União, o ministro Bruno Dantas lembra que até o STF é auditado. “Ninguém nunca reclamou”, diz. O caso será julgado nesta quarta (7).

visita à folha Edison Lanza, relator especial para a Liberdade de Expressão da CIDH (Comissão Interameri­cana de Direitos Humanos), visitou a Folha nesta terça (6). Estava acompanhad­o de Tatiana Teubner Guasti, advogada na relatoria especial para a Liberdade de Expressão do órgão.

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