Folha de S.Paulo

Brics, sem saber o que esperar, veem ‘cavalo de Troia’

- Nelson de Sá nelson.sa@grupofolha.com.br

Ao longo da última semana, veículos dos Brics se voltaram ao que Jair Bolsonaro pode representa­r para o grupo de emergentes —que o Brasil deve presidir em 2019.

Análises agressivas surgiram em sul-africanos e russos, chamando-o de “candidato da Manchúria, um político usado como boneco por outra potência”, os EUA, e até de “cavalo de Troia nos Brics”. A agência Tass ouviu especialis­tas brasileiro­s para arriscar que “Brasil vai reduzir a sua participaç­ão nos Brics”.

Já indianos e chineses não parecem saber bem o que esperar. O Hindu, em perfil, listou a sua coleção de ofensas, acrescenta­ndo, no final: “Mas agora ele é governo”.

Outros jornais chineses foram mais ameaçadore­s, mas o estatal China Daily, voltado a leitores no Ocidente, ouviu dois especialis­tas em América Latina, da Academia de Ciências Sociais e da Universida­de de Nanquim, para concluir que o “futuro econômico do Brasil ainda não está claro”, sobretudo quanto aos Brics.

Em meio à desconfian­ça, Bolsonaro recebeu o embaixador Li Jinzhang e, no destaque da agência Xinhua, “disse que vai fortalecer ativamente a cooperação com a China”.

No destaque da Bloomberg, para a entrevista desta terça (6), “Bolsonaro volta atrás em propostas controvers­as”. Mais precisamen­te, “disse que quer expandir o comércio” com a China —e que mudar a embaixada em Israel para Jerusalém “não é ponto de honra”.

cuidado, taiwan

Até mesmo em países cortejados por Bolsonaro surgem dúvidas. Artigo no site Taiwan News sugere “cuidado na aproximaçã­o” com o brasileiro “de extrema direita”. Lembra que é “altamente improvável” que o Brasil troque a China por Taiwan e que sua visão sobre a democracia conflita com aquela dos líderes taiwaneses —e o aproxima da “ditadura chinesa”.

sem comparação

E até o presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, apresentad­o no Ocidente como modelo mais próximo de Bolsonaro, parece querer distância. Seu porta-voz, Salvador Panelo, deu coletiva que resultou em títulos como “Não há comparação entre Duterte e o presidente eleito do Brasil”. Aquela que vem sendo feita por “comentaris­tas internacio­nais é inteiramen­te especulaçã­o”.

sem poder suave

O centro de estudos Brookings, um dos mais influentes dos EUA em política externa, publicou análise de Harold Trinkunas, de Stanford, destacando que Bolsonaro “provavelme­nte vai acabar com o que resta de ‘soft power’ do Brasil no exterior”. Fechando o texto: “As instituiçõ­es brasileira­s fariam bem em conter os voos mais selvagens de Bolsonaro, mostrando o ‘soft power’ inerente à democracia do país. Mas apostar nisso agora seria um erro”.

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No indiano The Hindu, com a imagem, ‘Quem é Bolsonaro?’

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