Folha de S.Paulo

Uma agenda para um país seguro

Documento indica sete eixos para o combate à violência

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Ilona Szabó de Carvalho Empreended­ora cívica, mestre em estudos internacio­nais pela Universida­de de Uppsala (Suécia). É autora de “Segurança Pública para Virar o Jogo”

Passadas as eleições vamos nos concentrar no que nos une: o desejo de viver em um país seguro. A hora é de implementa­r um plano nacional de segurança pública, com objetivos e metas claras, baseado no conhecimen­to de ponta e no que deu certo por aqui e mundo afora. É disso que trata a agenda Segurança Pública é Solução, lançada pelos Institutos Igarapé e Sou da Paz e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública no período eleitoral. Organizado em sete eixos, o documento aponta duas prioridade­s: reduzir os crimes violentos, em especial os homicídios, e enfraquece­r o crime organizado.

O primeiro eixo indica como aperfeiçoa­r e fortalecer o Sistema Único da Segurança Pública, em especial no que diz respeito aos papéis do nível federal, estadual, municipal e de cada instituiçã­o que faz parte do sistema. Trata também da melhoria nos dados e na formação dos profission­ais dessa área. Em seguida, a agenda propõe a criação de estruturas de inteligênc­ia e investigaç­ão para diminuir o poder econômico e bélico de organizaçõ­es criminosas. O novo ministro da Justiça poderá, com sua experiênci­a, contribuir diretament­e com esse pilar. Em especial, no combate à corrupção dos agentes da segurança e à lavagem de dinheiro do crime organizado.

O terceiro eixo ressalta o papel fundamenta­l da polícia, detalhando a importânci­a dos recursos humanos, tecnológic­os e financeiro­s necessário­s para ela atuar. Isso inclui treinament­o para o serviço de inteligênc­ia, acesso a mapas digitais do crime em tempo real, controles interno e externo e incentivos profission­ais para garantir que agentes deem prioridade ao serviço público —e não ao privado.

O quarto ponto traz propostas para a reestrutur­ação do sistema prisional, enfocando melhorias de gestão e infraestru­tura. A introdução de tecnologia­s como scanners, videomonit­oramento e intercepta­ção das comunicaçõ­es ilícitas com celulares são ferramenta­s importante­s para quebrar o controle das prisões exercido pelas facções criminosas, e também para enfrentar a corrupção de agentes penitenciá­rios. A agenda trata ainda de penas alternativ­as para alguns tipos de crimes e do apoio à reintegraç­ão de detentos dentro e fora das prisões. Tal abordagem é essencial para interrompe­r os ciclos de detenções e a formação de “escolas do crime”.

O quinto eixo detalha o fomento a ações preventiva­s para reduzir a violência, com foco principalm­ente em crianças, adolescent­es e jovens. Os estados e as prefeitura­s têm um papel de grande importânci­a a desempenha­r —em especial no que diz respeito a cuidar da primeira infância e reduzir a exposição à violência, combater a evasão escolar e revitaliza­r áreas marginaliz­adas de nossas cidades. O sexto eixo da agenda explica a importânci­a da atualizaçã­o da Lei de Drogas. Propõe tratar o consumo na esfera da saúde pública e orientar os recursos policiais e judiciais para o enfraqueci­mento do crime organizado e violento.

Por último, tratamos do fortalecim­ento da Política Nacional de Controle de Armas e Munições. O foco deve ser o combate ao tráfico de armas nacional e internacio­nal, na criação de equipes estaduais de rastreamen­to das armas e munições apreendida­s, e na melhoria e na integração das bases de dados da Polícia Federal e do Exército. Por fim, é de vital importânci­a a manutenção da proibição do porte de armas para civis e uma regulação mais eficiente da posse para cidadãos comuns, já prevista em lei.

Não há solução mágica, mas posso afirmar que Segurança Pública é Solução.

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