Eleição de Caboclo na CBF corre risco de ser anulada pela Justiça
Ministério Público questiona mudança no colégio eleitoral da entidade, que manteve força das federações estaduais
A eleição de Rogério Caboclo para a presidência da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) corre risco de ser anulada.
Até o final do mês, uma ação proposta pelo Ministério Público que contesta mudança no colégio eleitoral da entidade poderá ser destravada no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro e desencadear na anulação do pleito realizado em abril deste ano.
O Ministério Público argumenta que a confederação não respeitou os princípios de publicidade e transparência, previstos no Estatuto do Torcedor, já que os clubes da Série A não foram convocados para a assembleia que reduziu sua representatividade nas eleições da entidade.
A CBF, no entanto, entrou com recurso na Justiça alegando que o Estatuto do Torcedor não pode ser aplicado para questionar mudanças estatutárias, como alteração no colégio eleitoral.
Na quinta (1º), o desembargador Juarez Fernandes Folhes determinou que a 19ª Câmara Cível julgue o recurso da CBF. O caso deverá ser apreciado no dia 27 de novembro.
Se os desembargadores entenderem que o estatuto se aplica às práticas da CBF, a questão será encaminhada para o Juizado do Torcedor. Depois disso, a ação deve ser julgada em até uma semana.
O Ministério Público alega também que a inclusão de pesos diferentes no pleito foi uma forma de o atual grupo político que comanda a CBF manter o poder das federações na eleição.
Isso entraria em conflito com o objetivo da legislação que obrigou a participação dos clubes da Série B na eleição: dar maior protagonismo às agremiações na entidade.
Em nota enviada à Folha ,a CBF afirmou que tem autonomia constitucional de gestão, lembrou que a chapa de Caboclo foi eleita com 95,7% dos votos, uma “maioria incontestável”, e disse que confia plenamente na Justiça.
A entidade também disse que a ação do MP não costeara a eleição, mas a assembleia realizada em 2017, que mexeu no colégio eleitoral.
Em março do ano passado, a CBF incluiu os 20 clubes da Série B do Brasileiro no colégio eleitoral, mas sem reduzir a participação das federações. Isso numa reunião que contou apenas com representantes das entidades estaduais.
O voto das federações ganhou peso três. Já o dos times da Série A ficou com peso dois. O voto dos clubes da Série B vale apenas um.
Com isso, as entidades estaduais contam com 81 votos. Já os 40 clubes das Série A e B têm, somados, 60 votos.
Mensalmente, cada federação recebe R$ 75 mil dos cofres da entidade, que tem Caboclo como principal executivo.
Para formar a sua chapa, Caboclo colocou apenas cartolas ligados às federações estaduais. Ele deixou os clubes e personalidades do esporte fora.
A lista de vices conta até com dirigentes folclóricos, como o presidente da Federação de Futebol do Acre, Antônio Aquino Lopes, o Toniquim. Ele comanda o modesto futebol da sua região desde 1984.
Com o apoio de 25 das 27 federações ao homologar sua chapa, ele inviabilizou a oposição. Para registrar candidatura na CBF, o postulante ao cargo precisa ter o apoio de oito federações e cinco clubes.
Candidato único na eleição da CBF, o paulista venceu com facilidade. Apenas Corinthians, Flamengo e Atlético-PR não votaram em Caboclo.
O futuro presidente da CBF obteve a vitória após receber o apoio de Marco Polo Del Nero, que está afastado do comando da entidade desde dezembro. Sem chance de continuar no comando da confederação, Del Nero apressou o processo para eleger seu substituto.
Acusado nos Estados Unidos pelo FBI de receber propina na venda de direitos comerciais de torneios de futebol, o ex-presidente da entidade foi banido pela Fifa logo após a vitória de Caboclo. Ele nega as acusações.
Se o Ministério Público conseguir que os clubes sejam maioria no pleito, a CBF terá que realizar nova eleição.
A entidade terá até abril, quando termina o atual mandato, para escolher o seu novo comandante. Enquanto isso, a confederação é comandada pelo paraense Antonio Carlos Nunes, vice-presidente na gestão de Del Nero.
Em caso de nova eleição para a presidência, Caboclo deverá enfrentar um adversário indicado pelos clubes.
O presidente da Federação Paulista, Reinaldo Carneiro Bastos, tentou viabilizar sua candidatura no início do ano para concorrer com Caboclo, mas não teve sucesso.