Folha de S.Paulo

Vamos falar de música?

É tempo de mudar de assunto e partir para temas mais amenos

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Reinaldo Figueiredo

Humorista e cartunista, é um dos criadores do Casseta & Planeta e autor de ‘A Arte de Zoar’ Quando estou com tempo sobrando, às vezes dou uma olhada no grupo de WhatsApp da AALCRF (Associação dos Amigos e Leitores da Coluna do Reinaldo Figueiredo).

Tenho visto várias mensagens de pessoas dizendo que estão de saco cheio de política, que essas eleições foram muito estressant­es, essa coisa toda...Então, numa deferência especial a esses leitores, hoje vamos mudar de assunto: vamos falar de música. Mas, para me ajudar nessa tarefa, preferi recorrer ao auxílio luxuoso de um expert, o colega Leonard Plume, crítico de jazz da revista Down Bitch, que vai resenhar alguns lançamento­s da cena gospel brasileira. Vai que é tua, Leonard!

“Alô, amigos do jazz! Quando recebi a tarefa de fazer a crítica desses álbuns de música gospel, fiquei animado. Achava que no Brasil, finalmente, estaria sendo cultivado aquele som que está na origem da obra de grandes talentos como Ray Charles, Aretha Franklin, Horace Silver, Cannonball Adderley, Art Blakey e outras feras. Mesmo para um ateu, que em geral não está muito ligado nas mensagens das canções, a força dessa música é indiscutív­el.

Você não precisa ser religioso para gostar das missas de Johann Sebastian Bach ou dos belos cânticos e complexos ritmos do candomblé. Mas, depois de ouvir esses álbuns de gospel brasileiro contemporâ­neo, só posso dizer que minha decepção foi enorme.

Onde está o suingue? Onde está o balanço? O ouvinte não é impactado por aquele vigor visceral das vozes e dos improvisos instrument­ais. É tudo musicalmen­te muito pobre, de uma pobreza franciscan­a, apesar de não haver, entre os envolvidos, devotos de São Francisco de Assis, já que são evangélico­s. Mas a música não deveria ser tão pobre. Afinal, essas igrejas têm dinheiro saindo pelo ladrão. E, ainda por cima, são isentas de impostos. Não acho que a função da crítica seja crucificar os artistas mas, neste caso, talvez eles possam seguir o exemplo do seu salvador e se oferecer em sacrifício, para nos salvar.”

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