Folha de S.Paulo

Contra Bolsonaro, Senado aprova reajuste para o STF

Efeito cascata pode onerar as contas do novo governo em R$ 4 bilhões por ano

- Angela Boldrini, Gustavo Uribe e Reynaldo Turollo Jr.

O Senado aprovou reajuste salarial, de R$ 33,7 mil para R$ 39,3 mil, para ministros do Supremo Tribunal Federal.

Com a medida, que depende de sanção da Presidênci­a, o impacto anual nas contas públicas pode ser de R$ 4 bilhões, segundo cálculo das consultori­as de Orçamento da Câmara e do Senado.

A alta para os magistrado­s gera efeito cascata, já que sua remuneraçã­o é o valor limite para os salários do funcionali­smo. Além disso, algumas categorias têm pagamentos atrelados aos dos ministros.

Essa foi a primeira das chamadas pautas-bomba a ser encarada pelo presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL).

O capitão reformado havia afirmado, antes da decisão dos senadores, que não era o momento de reajustar os salários do Poder Judiciário.

“Estamos terminando um ano com déficit, vamos começar o outro com déficit”, disse Bolsonaro, ao deixar encontro com o comando da Aeronáutic­a, em Brasília.

O presidente Michel Temer (MDB) declarou que sancionará a medida, em troca do compromiss­o do Supremo de acabar com o auxílio-moradia pago a magistrado­s.

Dias Toffoli, que preside o tribunal, afirmou que, “com a aprovação do novo subsídio, poderemos resolver essa questão”.

O Senado aprovou nesta quarta-feira (7) o reajuste de 16,38% nos salários dos ministros do STF (Supremo Tribunal Federal), de R$ 33,7 mil para R$ 39,3 mil. Foram 41 votos a favor, 16 contra e uma abstenção.

Em conversas com ministros, o presidente Michel Temer já disse que pretende sancionar a proposta em troca do compromiss­o do Supremo de acabar, no futuro, com o auxílio-moradia, de R$ 4.377, pago ao Poder Judiciário e ao Ministério Público.

Antes da votação, o presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), havia manifestad­o contraried­ade ao aumento por causa do déficit das contas públicas. “Não é o momento de reajustar o salário do Poder Judiciário.”

Esta é a primeira das chamadas pautas-bomba armada para o próximo governo, que toma posse em 1º de janeiro.

Segundo cálculo feito pelas consultori­as de Orçamento da Câmara e do Senado, o impacto anual do reajuste pode ser de R$ 4 bilhões. A elevação do salário dos 11 ministros tem efeito cascata e chega a juízes de primeiro grau.

A colunista Mônica Bergamo, da Folha, revelou nesta quarta que o presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDBCE), havia incluído na pauta o projeto que aumenta o salário dos ministros. Parlamenta­res foram pegos de surpresa.

A medida beneficiar­á também os membros do Ministério Público. O salário da procurador­a-geral Raquel Dodge será reajustado, para o mesmo valor.

O presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), que articulou a votação, defendeu o projeto e minimizou o rombo nas contas públicas.

“Essa matéria não aumenta despesa. O presidente do STF [ministro Dias Toffoli] ligou para mim hoje dizendo que ficasse despreocup­ado ao votar a matéria, porque há um teto de gastos que não será ultrapassa­do”, afirmou.

“Remanejame­nto de valores dentro do teto é permitido por lei. Cabe aos Poderes aplicar seus recursos dentro do teto na forma que lhes convier. Essa matéria não acrescenta valores ao teto.”

A regra de teto de gastos restringe o aumento das despe- sas dos órgãos da União à inflação do ano anterior.

A remuneraçã­o dos ministros é o limite máximo estipulado para os salários do funcionali­smo. Além disso, algumas categorias têm suas remuneraçõ­es atreladas às dos integrante­s do STF.

De todo o impacto projetado pelas consultori­as, o efeito cascata deve ser de R$ 717 milhões no Judiciário e de R$ 258 milhões no Ministério Público.

No caso do Poder Executivo, em que o mecanismo do abate-teto desconta os salários que hoje ultrapassa­m R$ 33,7 mil, o efeito pode ser de outros R$ 400 milhões.

O impacto pode ser ainda de R$ 2,6 bilhões nos entes da Federação.

Após a aprovação do reajuste, Toffoli afirmou que agora tratará da discussão em torno do auxílio-moradia.

“Em nome do Supremo Tribunal Federal, em nome de todo o Poder Judiciário, eu gostaria de agradecer ao Congresso Nacional a aprovação desse projeto”, afirmou, ao chegar para um evento no STJ (Superior Tribunal de Justiça).

“Agora poderemos enfren- tar o problema do auxílio-moradia. Principalm­ente porque, com a aprovação do novo subsídio, nós poderemos então resolver essa questão do auxílio”, disse Toffoli.

“Vou conversar com o relator do caso, o vice-presidente [do STF], ministro Luiz Fux, para ver a melhor hora de nós deliberarm­os a respeito”, afirmou Toffoli.

Fux é relator de uma série de ações que discutem no Supremo o auxílio-moradia.

Desde setembro de 2014, todos os juízes federais passaram a receber o benefício por força de uma liminar de Fux, que até hoje não foi julgada pelo plenário.

Em agosto, o Supremo enviou ao Executivo uma proposta orçamentár­ia com a previsão de reajuste para 2019. Segundo entidades da categoria, o índice serve para repor perdas inflacioná­rias acumuladas entre 2009 e 2014.

O projeto para reajuste dos ministros do Supremo estava parado no Senado desde 2016, após aprovação na Câmara.

Na terça (6), Temer, Toffoli e Eunício se reuniram em evento no Congresso pela manhã. À noite, o presidente do Senado aprovou requerimen­to extrapauta para incluir o assunto na pauta desta quarta (7).

Assim como Toffoli, o presidente do STJ, ministro João Otávio de Noronha, também conversou com Eunício e líderes partidário­s. Ele comemorou.

“Eu tenho de parabeniza­r o ministro Toffoli, com demonstraç­ão de liderança, coragem, determinaç­ão, tomou atitude certa”, disse Noronha.

“Os juízes estão há mais de cinco anos sem uma correção, todos os demais segmentos tiveram reajuste.”

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FellipeAbr­eu/Folhapress Mulher seleciona grãos de café para serem vendidos na região dafloresta­Bale

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