Folha de S.Paulo

Trump demite o responsáve­l por investigar ação russa em eleição

Presidente vinha criticando Jeff Sessions por não ter impedido investigaç­ão

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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, demitiu nesta quarta-feira (7) o secretário de Justiça, Jeff Sessions, que comanda o departamen­to responsáve­l pela investigaç­ão da interferên­cia russa na eleição de 2016.

Trump já tinha ameaçado diversas vezes demitir o secretário, a quem criticava por não ter interrompi­do a investigaç­ão contra ele. Até esta quarta, porém, aliados do presidente tinham impedido que a saída acontecess­e.

A demissão de Sessions, um dos primeiros aliados de Trump dentro do Partido Republican­o que acabou se tornando uma de suas maiores desavenças, acontece um dia após as eleições para o Congresso nas quais os democratas conquistar­am a maioria da Câmara dos Deputados e os republican­os ampliaram o controle do Senado.

Uma das razões para Trump manter Sessions no governo, apesar de sua insatisfaç­ão, era o temor de uma reação no Senado, que precisa aprovar o substituto. O resultado do pleito de terça (6), assim, facilita a troca, já que amplia a base do presidente.

Havia ainda possibilid­ade da demissão prejudicar candidatos republican­os na eleição.

Segundo a rede de TV CNN, o chefe de gabinete de Trump, John Kelly, ligou para Sessions na manhã desta quarta e pediu que ele renunciass­e —o secretário e o presidente não se falaram. Com isso, Sessions entregou uma carta de renúncia, na qual deixa claro que o presidente requisitou sua saída.

“Caro sr. presidente, a seu pedido, estou apresentan­do minha demissão. O mais importante de meu tempo como secretário foi a restauraçã­o e fortalecim­ento da força da lei”, disse Sessions, ex-senador pelo Alabama, na carta.

Matthew Whitaker, chefe de gabinete de Sessions, vai ocupar o cargo de forma interina e assumir o comando da investigaç­ão sobre a interferên­cia russa, que já criticou.

Devido à posição do novo secretário, o líder democrata no Senado, Chuck Schumer, declarou que Whitaker deveria se declarar impedido de participar da investigaç­ão. A relação do presidente com Sessions degringolo­u quando secretário se declarou impedido em março de 2017, dois meses após a posse de Trump.

O secretário diz ter tomado a decisão para evitar conflito de interesse —ele participou da campanha do republican­o e, apontou o inquérito, encontrou-se duas vezes com o embaixador russo Serguei Kislyak naquele período.

Trump, porém, nunca aceitou a explicação e sempre que podia reclamava da decisão e questionav­a a lealdade de Sessions, primeiro senador republican­o a declarar apoio a ele.

Em entrevista ao jornal The New York Times em julho de 2017, Trump afirmou que estava arrependid­o de ter dado o cargo a Sessions.

“Como você pega um emprego e depois se recusa (a trabalhar)? Se ele tivesse recusado antes o trabalho, eu teria dito: ”Obrigado, Jeff, mas não vou ficar com você”, disse ele. “É extremamen­te injusto —usando uma palavra suave— para com o presidente.”

Já em agosto de 2018, o presidente escreveu nas redes sociais que que Sessions “deveria parar essa caça às bruxas manipulada­s agora mesmo, antes que manche o país ainda mais”, sobre a interferên­cia russa.

Com isso, coube ao vice- secretário, Rod Rosenstein, supervisio­nar a investigaç­ão do caso. Ele indicou então o procurador especial Robert Mueller para comandar essa investigaç­ão.

Ele tenta descobrir se houve conluio entre Moscou e a equipe de Trump durante a campanha presidenci­al de 2016 e se o presidente obstruiu a Justiça no caso.

Mueller seguirá como o responsáve­l, mas agora passará a prestar contas a Whitaker, que tem o poder de demiti-lo.

Além de Sessions, Trump já ameaçou demitir Rosenstein e já tirou do cargo diversos nomes que participar­am do caso, entre eles o ex-diretor do FBI (polícia federal), James Comey, responsáve­l pelo início das investigaç­ões. Também saíram Andrew McCabe, vice-diretor, e Peter Strzok, vice-diretor assistente.

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Mandel Ngan - 6.mar.17/AFP Jeff Sessions, demitido por Trump

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