Folha de S.Paulo

Custos e benefícios de cada fonte de geração elétrica

Novo governo tem à disposição estudo detalhado

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Sergio Leitão Diretor-executivo do Instituto Escolhas; fundador e diretor (2004-2005) do Instituto Socioambie­ntal e assessor para temas sociais e ambientais do Ministério da Justiça (2000-2001, governo FHC)

Transforma­r o setor elétrico em um dos principais vetores de cresciment­o e desenvolvi­mento do Brasil é uma das promessas registrada­s no programa do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL).

O documento diz que a oferta de energia precisa ser confiável, a preços justos e competitiv­os internacio­nalmente, mas não aponta os caminhos que serão percorrido­s para esse desenvolvi­mento.

Cita o potencial da região Nordeste para a geração de energia solar e eólica, afirma que o gás natural, combinado à matriz de energia limpa, exercerá papel fundamenta­l para garantir a segurança energética, e promete acelerar os processos de licenciame­nto ambiental para a construção de hidrelétri­cas.

A expectativ­a é que a partir de agora, passadas as eleições e iniciado o governo de transição, o presidente e sua equipe indiquem com mais clareza o que projetam para o setor.

Para subsidiar essa discussão e qualificar o debate a partir de dados e evidências, sem demonizar qualquer fonte, o Instituto Escolhas lançou recentemen­te uma metodologi­a inédita para o cálculo do custo total da geração de energia no Brasil. A principal inovação do estudo é criar uma valoração adequada de atributos como infraestru­tura, subsídios e isenções, custos de operação e os relacionad­os à emissão de gases de efeito estufa.

Uma das principais conclusões é que o Brasil, até 2026, pode aumentar a participaç­ão de novas fontes renováveis —eólica, solar e biomassa— em sua matriz sem que isso acarrete custos significat­ivos para a operação do sistema elétrico, cumprindo assim as diretrizes do Plano Decenal de Energia 2026.

Hoje, mais de 80% da eletricida­de usada no país já é provenient­e de fontes renováveis, porém em sua maior parte hidráulica (68%).

O estudo indica ainda que, até 2035, o país pode aumentar em 68% a participaç­ão das novas renováveis em relação à previsão do PDE 2026, totalizand­o 44% da composição da matriz. Isso pode ocorrer sem afetar a competitiv­idade e a atrativida­de dos megawatt-hora (MWh) dessas fontes para os consumidor­es.

Além de competitiv­as e com bastante espaço para o cresciment­o, as novas fontes renováveis apresentam o menor custo de investimen­to e operação em relação às demais.

Já a termelétri­ca é a fonte que se sai melhor quando avaliados os serviços prestados para além da produção de energia propriamen­te dita, como modulação (capacidade de atender à demanda durante todo o ano) e robustez (capacidade de produzir energia acima do que foi planejado). A hidrelétri­ca tem problemas com a sazonalida­de, e a eólica e solar com a variabilid­ade na produção de energia. Entretanto é também a termelétri­ca a fonte com o maior custo ambiental para a sociedade relativo às emissões de gases de efeito estufa.

A conclusão é que nenhuma fonte sozinha tem todas as caracterís­ticas necessária­s para o melhor funcioname­nto do sistema. Por isso, o plano de expansão ideal para o sistema não deve necessaria­mente selecionar apenas a opção com o menor custo ou a mais competitiv­a. É a complement­aridade entre as fontes a melhor e mais eficiente opção.

Até 2013, os leilões organizado­s pelo governo, que são a principal ferramenta de expansão do setor, considerav­am exclusivam­ente o preço e quantidade oferecidos por cada fonte.

A partir daquele ano, passou a haver leilões separados por fonte, o que possibilit­ou a contrataçã­o de energia de uma fonte desejada, mesmo que o seu preço fosse maior, mas ainda sem calcular as vantagens e desvantage­ns de cada uma, já que até então não havia uma metodologi­a para dar valor a esses atributos.

De posse do modelo gerado pelo estudo, o novo governo tem agora a oportunida­de de inovar, de forma técnica e transparen­te, no planejamen­to do setor, incorporan­do os custos e benefícios econômicos das fontes de geração para definir quanto de energia de cada fonte é recomendáv­el contratar e que, de fato, será a melhor opção para o país.

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