Folha de S.Paulo

Bolsonaro coleciona recuos sobre medidas e estrutura do governo

Nesta quarta, eleito disse que número de pastas pode subir das 15 inicialmen­te anunciadas para 18 com manutenção de status da CGU

- Talita Fernandes

Desde que foi eleito presidente, há menos de duas semanas, Jair Bolsonaro já acumula ao menos quatro recuos sobre ações que tomará e a estrutura de seu governo. As últimas mudanças foram anunciadas nesta quarta (7), em relação à composição de seus ministério­s. Pela manhã, ele admitiu que poderá ter até 18 pastas, número superior ao que foi prometido antes do início da campanha, de reduzir de 29 para 15.

A nova contabilid­ade veio com a possibilid­ade de ele manter como ministério a Controlado­ria-Geral da União, que, pelos planos anteriores, seria somada ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, sob o comando de Sergio Moro.

Ainda na quarta, a equipe de governo confirmou que o general da reserva Augusto Heleno não comandará mais o Ministério da Defesa, como anunciado ainda durante a campanha eleitoral. O militar vai assumir o Gabinete de Segurança Institucio­nal, que fica no Palácio do Planalto e cuida, entre outras atribuiçõe­s, da segurança pessoal do presidente.

Bolsonaro ainda não confirmou quem será o substituto de Heleno, mas falou que deve escolher um general quatro estrelas. No mesmo dia, seu vice, o general Hamilton Mourão, disse que deve ser indicado um oficial da Marinha.

Eleito com a promessa de que mudaria a lógica da política em Brasília, Bolsonaro disse que a decisão de manter a CGU com status de ministério não está ligada a ganho de apoio parlamenta­r.

“Já demos um passo e talvez seja mantido o status de ministério [da CGU]. Mas não é pela governabil­idade, é para que a gente possa apresentar realmente resultado”, afirmou ao deixar um encontro com dirigentes da Aeronáutic­a.

Na mesma entrevista, ele minimizou o impacto da mudança no número de pastas. “Pode aumentar. O que nós temos que ter são os ministério­s, são esses órgãos todos funcionand­o, sem interferên­cia política”, afirmou.

Os principais recuos de Bolsonaro têm se dado na formação da estrutura da Esplanada, especialme­nte em relação à fusão de ministério­s.

Caso emblemátic­o é a unificação de Agricultur­a e Meio Ambiente. A junção das duas pastas, prometida desde o início da campanha, foi alvo de críticas tanto por parte de ambientali­stas quanto de ruralistas.

Ainda entre o primeiro e segundo turno, ele admitiu que poderia rever a decisão. Após o resultado das urnas, a fusão foi confirmada pelo futuro chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, mas dada como incerta na sequência pelo próprio presidente eleito. “Deu confusão aí Ministério do Meio Ambiente e Agricultur­a. O que não pode é continuar tendo a briga que sempre teve entre eles. Isso que não pode continuar acontecend­o”, disse na quarta.

Bolsonaro confirmou o nome da deputada Tereza Cristina (DEM-MS) para comandar a Agricultur­a. O anúncio foi feito pelo Twitter, sem qualquer menção ao futuro do Meio Ambiente. Outro ponto que causa divergênci­a na equipe do núcleo duro do governo é a união do MDIC (Indústria, Desenvolvi­mento e Comércio Exterior) à Economia, que será assumida por Paulo Guedes.

Embora o economista defenda a junção, o presidente eleito ainda avalia a pressão de industriai­s, que temem que a unificação deixe temas ligados a comércio exterior em segundo plano. Além da estrutura ministeria­l, Bolsonaro já voltou atrás sobre ações que tomará a partir de 1º de janeiro.

Ele deixou em suspenso na terça (6), a mudança da Embaixada do Brasil em Tel Aviv para Jerusalém. A transferên­cia foi anunciada antes mesmo do início oficial da campanha e foi confirmada por ele em post feito em sua conta no Twitter logo depois do resultado das eleições.

Após ser questionad­o sobre a retaliação do Egito ao Brasil pelo apoio do presidente eleito a Israel, Bolsonaro disse que a questão “não está decidida ainda”. De última hora, o governo egípcio cancelou um compromiss­o diplomátic­o com o Brasil. O caso gerou temores de que o país árabe possa trazer retaliaçõe­s comerciais nas relações com o governo brasileiro.

Na pauta econômica, Bolsonaro já disse que não tentaria aprovar ainda este ano a reforma da Previdênci­a apresentad­a pelo governo de Michel Temer. Nos últimos dias, defendeu que seria importante que passassem “alguma coisa” no Congresso ainda em 2018.

 ?? Walterson Rosa/Folhapress ?? COM JUNGMANN, MORO DEFENDE PARLATÓRIO­S E RESTRIÇÕES EM PRESÍDIOS Atual e futuro ministros da Segurança Pública se reuniram em Brasília na tarde desta quarta-feira (7); o juiz de Curitiba também se encontrou com o diretor-geral da Polícia Federal, Rogério Galloro
Walterson Rosa/Folhapress COM JUNGMANN, MORO DEFENDE PARLATÓRIO­S E RESTRIÇÕES EM PRESÍDIOS Atual e futuro ministros da Segurança Pública se reuniram em Brasília na tarde desta quarta-feira (7); o juiz de Curitiba também se encontrou com o diretor-geral da Polícia Federal, Rogério Galloro

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