Tsunami previsto por democratas no pleito virou marolinha
O tsunami que os democratas esperavam virou marolinha. A oposição ao presidente Donald Trump tinha expectativa de que os resultados das eleições legislativas demonstrassem um claro repúdio ao republicano.
Mas, segundo as projeções, os democratas devem conquistar cerca de 30 assentos na Câmara, e os republicanos devem ampliar sua margem no Senado, de 51 contra 49 (democratas ou independentes alinhados) para 53 contra 47.
O resultado fica abaixo da média histórica —segundo o Instituto Gallup, presidentes com aprovação abaixo de 50% (a de Trump oscila em torno dos 40%) costumam perder 37 assentos na Câmara.
Não chegou nem perto do que o então presidente Barack Obama chamou de “surra” que os democratas tomaram nas eleições legislativas de 2010, quando os republicanos conquistaram 63 vagas na Câmara e 5 no Senado.
O que deu errado para os democratas? Ou melhor, o que deu certo para Trump?
Os democratas confiavam que o aumento da rejeição ao presidente entre americanos brancos mais instruídos, principalmente mulheres, de áreas urbanas, abalaria sua popularidade e se refletiria em perdas maiores nas legislativas.
Também apostavam que a empolgação de seus eleitores —principalmente mulheres incensadas pelas declarações misóginas de Trump, minorias incomodadas com as declarações racistas que permearam a campanha e jovens em luta pelo desarmamento— resultariam em comparecimento recorde e votação idem.
O comparecimento foi o maior em décadas —foram registrados 114 milhões de votos nas disputas para a Câmara, diante de 83 milhões nas últimas eleições legislativas, em 2014. Mas isso não se traduziu em votos democratas.
O fato é que Trump ainda consegue empolgar sua base com seu discurso anti-imigrantes, e que a pujança da economia serviu como vacina para alguns de seus apoiadores que pensavam em abandonar o barco.
Os democratas, por outro lado, ainda não encontraram seu discurso unificador. Por enquanto, o que os une é ser contra Trump. Mesmo aquém do esperado, o resultado deve levar os democratas a ativar sua máquina de intimações.
No comando da Câmara, a oposição deve abrir mais investigações sobre o suposto conluio entre Trump e os russos para influenciar as eleições de 2016, os conflitos de interesse de Trump e seus filhos, o Imposto de Renda do líder, os pagamentos para silenciar amantes, e por aí vai.
Já um impeachment continua no campo do “wishful thinking” dos democratas. Para a abertura do processo, seria necessária maioria simples na Câmara. Mas, para um presidente ser efetivamente afastado, são necessários dois terços do Senado.