Robson Andrade Se o melhor é unir Indústria e Fazenda, trabalharemos juntos
Após críticas, presidente da CNI faz aceno a Paulo Guedes e afirma que respeita decisão de criar superministério, apesar de ainda ser contra
Depois de trocas de farpas públicas, Robson Braga de Andrade, presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), fez um aceno em direção ao futuro superministro de Economia de Jair Bolsonaro, Paulo Guedes.
O líder empresarial nega que tenha mudado de posição e diz que continua defendendo que o Ministério da Indústria não seja incorporado à nova pasta, mas afirma que “respeita” a decisão do presidente eleito.
“Se ele disser que a estrutura de governo necessária para fazer o que pretende é juntar os ministérios da Indústria e da Fazenda, eu vou trabalhar junto com ele.”
Questionado se acreditava se Guedes seria a pessoa ideal para atender os interesses dos empresários, Andrade respondeu que a indústria quer um governo “liberal” e que o economista já declarou que deseja “soltar as amarras dos empreendedores”.
“Se Guedes tiver um olhar mais firme na direção da indústria do que apenas fiscal e tributário, nós vamos gostar muito”, completou.
Quais são suas expectativas em relação ao novo governo?
Muito positivas. É um governo com apoio popular grande, uma bancada importante na Câmara dos Deputados, e há pessoas corretas e bem conceituadas tecnicamente. Mesmo sabendo da dificuldade do Brasil para voltar a crescer, porque nem tudo depende só do governo, a expectativa é que ele vai ter um capital político importante para fazer as mudanças necessárias.
O sr. já se manifestou contrário ao fim do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços. Pode explicar
melhor essa posição?
A indústria está sendo fortalecida pelos governos ao redor do mundo por sua importância na arrecadação, na geração de empregos. Nos EUA, o governo Donald Trump fortaleceu o Departamento de Comércio, que é quem cuida dos assuntos industriais por lá.
Meu receio é colocar um departamento de indústria dentro da mesma estrutura que vai cuidar de arrecadação, política tributária e fiscal. Defendo essa posição de forma transparente, mas, como já disse a pessoas do próximo governo, a partir do momento em que o presidente disser que “vai ser assim”, vamos trabalhar da forma que o governo vai conduzir.
O senhor está mudando de posição?
Não. Nossa posição é trabalhar para que a indústria brasileira possa crescer, desenvolver e ajudar o Brasil a mudar de patamar. Todas as propostas que fizemos durante a campanha eleitoral e depois para o presidente Bolsonaro foram: estamos aqui para contribuir e ajudar.
Mas é claro que respeitamos a decisão do presidente. Se ele disser que a estrutura de governo necessária para fazer o que pretende é juntar os ministérios da Indústria e da Fazenda, eu vou trabalhar junto com ele. Apesar de continuar achando que fosse melhor que estivesse separado.
A Firjan (federações das indústrias do Rio) soltou nota a favor da criação do superministério da Economia. Há divergência na indústria?
Teve até um mal-entendido nessa nota. Eles falam que menos de 10% dos países do mundo têm um Ministério da Fazenda separado do Planejamento, o que é verdade. Mas, normalmente, nos maiores países, os departamentos de indústria e comércio estão separados. Essa é a posição do Eduardo Eugênio [presidente da Firjan] e, claro, temos divergências. Acredito que fortalecer a indústria é incentivar o desenvolvimento do Brasil. Não há país forte sem indústria forte.
O sr. considera que Paulo Guedes, conhecido por sua visão liberal da economia, é uma pessoa adequada para defender as questões da indústria?
O ponto não é ter uma formação liberal. O que queremos é um governo liberal. Não queremos um governo centralizador, com uma participação elevada na economia, até porque a concentração de poder na mão do Estado gera questões éticas.
Portanto, um governo que incentive o desenvolvimento de empreendedores é o que nós queremos. E Guedes tem colocado de maneira clara que quer tirar as amarras do desenvolvimento para que o país possa crescer.
Se ele tiver um olhar mais firme na direção da indústria do que apenas fiscal e tributário, nós vamos gostar muito. Temos ouvido muitas declarações sobre reforma da Previdência, mas não temos ainda —até porque está cedo— definição sobre política industrial e de comércio exterior.
Outra crítica do novo governo é em relação ao Sistema S. Não falo pelo sistema S, porque represento apenas o Sesi e o Senai. Temos 100% de transparência das contas dessas instituições: número de escolas, vagas, alunos, profissionais, nível de remuneração, contratos, licitações, julgamentos do TCU. Enfim, tudo. Às vezes existem dúvidas, porque temos um orçamento cruzado: 60% da receita total entra no departamento nacional e uma parcela volta para os estados, em proporção maior para aqueles com menos arrecadação do Norte, do Nordeste e do Centro-Oeste.