Folha de S.Paulo

Diretor francês e produtor brasileiro farão thriller em Cuba

- Guilherme Genestreti O jornalista viaja a convite do Festival do Rio

rio de janeiro Autoprocla­mado um “esquerdist­a antitotali­tário”, o cineasta francês Olivier Assayas vai para Cuba em fevereiro filmar “Os Últimos Soldados da Guerra Fria”, thriller inspirado no livro-reportagem homônimo de Fernando Morais sobre agentes secretos cubanos na Flórida.

A produção será do brasileiro Rodrigo Teixeira, de “Me Chame pelo seu Nome”. No elenco foram confirmado­s Gael García Bernal, Penélope Cruz, Wagner Moura, Pedro Pascal e Edgar Ramírez.

“É uma história que me interessa porque tenho opiniões conflitant­es a respeito”, diz o diretor. “Não sou fã do socialismo castrista, mas certamente não sou pró-Estados Unidos nessa questão.”

Assayas se refere à história real que inspira a trama, o aprisionam­ento de cinco espiões cubanos pelo governo americano, nos anos 1990. O quinteto fazia parte da Rede Vespa com a missão de se infiltrar em organizaçõ­es anticastri­stas da Flórida, que tinham planos de cometer atentados terrorista­s em solo cubano.

“O FBI fechou os olhos para isso”, diz Assayas, que define o tom de seu novo longa como algo mais assemelhad­o a “Carlos, o Chacal”, minissérie que ele lançou em 2010. O grande trunfo, segundo o cineasta, foi ter conseguido autorizaçã­o para filmar em Cuba. “Recriar o país em outro lugar seria um pesadelo.”

Para o produtor Rodrigo Teixeira, dono dos direitos do livro de Morais, será um filme que lidará com nuances vindo à tona num mundo polarizado. “Neste momento de ideologias mais fortes e menos profundas, ele vai falar sobre informaçõe­s verdadeira­s e falsas, deixando o julgamento para o público”, diz.

Diretor de “Personal Shopper” e “Acima das Nuvens”, o cineasta francês está no Brasil para apresentar seu longa mais recente, “Vidas Duplas”, no Festival do Rio.

A história gira em torno de um editor de livros, ameaçado pela revolução tecnológic­a dos e-books, e de um escritor que costuma transforma­r seus envolvimen­tos amorosos em mote para suas autoficçõe­s.

Cinematogr­aficamente,onovolonga­revelameno­sdoestilo ousado de Assayas—comofor ma calcada no diálogo, se assemelha mais a um título genérico da produção francesa atual.

Ainda assim, o cineasta embute referência­s pop e divagações filosófica­s sobre o mundo contemporâ­neo que fazem jus à sua filmografi­a. Um dos aspectos que mais chamam a atenção em sua obra é justamente a forma como ele sempre inclui citações aos dilemas do presente, como os impactos da tecnologia na rotina.

“Tento fazer filmes que lidam com o real em oposição aos filmes que só querem ser filmes”, diz o diretor. “Não quero fazer filmes, quero capturar momentos que representa­m o mundo. Por isso meus personagen­s sempre debatem o que vivemos hoje.”

Assayas retoma também certa metalingua­gem já presente em “Acima das Nuvens” —história em que Juliette Binoche interpreta uma atriz que em tudo se parece justamente com a própria.

Em “Vidas Duplas”, ela dá as caras novamente, mas agora no papel de outra atriz, Selena, casada com o editor interpreta­do por Guillaume Canet. Num dos trechos do filme, os personagen­s citam o próprio nome de Binoche —com ela mesma em cena.

“Há certa falácia na ideia de que o ator vai ficar apagado para mergulhar no personagem”, diz o diretor.

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