Folha de S.Paulo

Interino é crítico de inquérito sobre Trump

Novo secretário de Justiça, Matthew Whitaker pediu limites a investigaç­ão de interferên­cia russa na eleição de 2016

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Aliado do presidente Donald Trump e crítico das investigaç­ões conduzidas pelo procurador especial Robert Mueller sobre a interferên­cia da Rússia na campanha eleitoral de 2016, Matthew Whitaker substituir­á Jeff Sessions no posto de secretário de Justiça dos Estados Unidos.

Sessions foi demitido pelo presidente nesta quarta (7), um dia após as eleições legislativ­as americanas, nas quais os republican­os mantiveram o controle do Senado e os democratas conquistar­am a maioria das cadeiras da Câmara dos Representa­ntes.

A nomeação de Whitaker, chefe de gabinete de Sessions desde 2017, põe em xeque o futuro do trabalho de Mueller, já que o secretário comandará o departamen­to que cuida das apurações sobre o suposto elo entre Moscou e a equipe republican­a no pleito de dois anos atrás.

Em artigo escrito para a CNN em agosto de 2017, o novo secretário de Justiça afirmou que o procurador especial passaria dos limites caso decidisse investigar as finanças de Trump e de sua família.

Segundo ele, isso “levantaria sérias preocupaçõ­es” de que o seu trabalho é “uma mera caça às bruxas”, ecoando expressão usada por Trump para descrever as apurações.

Mueller exigiu documentos relacionad­os à Rússia à Organizaçã­o Trump.

No mesmo mês, compartilh­ou em uma rede social um artigo de opinião intitulado “Nota para o advogado de Trump: não coopere com a turba linchadora de Mueller”. Ele disse que o texto “valia a leitura.”

Whitaker defendeu ainda o encontro de Donald Trump Jr., filho mais velho do presidente, com russos que teriam oferecido informaçõe­s compromete­doras sobre Hillary Clinton em meio à campanha de 2016, ocorrido em junho daquele ano na Trump Tower. O incidente pode levar a família do presidente a ser um alvo de Mueller.

Trump Jr. nega ter recebido informaçõe­s que poderiam prejudicar a adversária do pai na corrida presidenci­al.

Além dos comentário­s alinhados com a visão de Trump sobre o andamento do inquérito, Whitaker é um visitante frequente da Casa Branca e costumava atuar para reduzir as tensões entre o Departamen­to de Justiça e o presidente, segundo o jornal americano The New York Times.

Enquanto Sessions se declarou impedido de participar da investigaç­ão, por ter atuado na campanha do republican­o à Presidênci­a e ter se encontrado com o embaixador russo Sergey Kislyak no período, deixando a supervisão a cargo de Rod Rosenstein, ainda não se sabe qual será a decisão de Whitaker.

Democratas já agem para que o aliado de Trump siga a mesma direção de Sessions, para afastar o risco de conflito de interesses: além de criticar Mueller, ele também é próximo de uma das testemunha­s do inquérito, Sam Clovis, um ex-assessor da campanha do presidente.

O líder dos democratas no Senado, Chuck Schumer, afirmou em comunicado que Whitaker deveria se recusar a assumir a função por já ter defendido “a imposição de limites” às apurações do procurador especial.

A decisão pode ficar a cargo de conselheir­os de ética do Departamen­to de Justiça. Nesse caso, Rosenstein continua no comando.

Mesmo assim, ele poderia impedir ou criar obstáculos para a entrega de um relatório final por Mueller com informaçõe­s sobre um eventual conluio entre assessores de Trump e o Kremlin para interferir nas eleições de 2016.

Seria um passo arriscado, que poderia gerar conflitos com a maioria democrata na Câmara. Poderia servir como um combustíve­l para que os congressis­tas iniciassem investigaç­ões contra o republican­o —o que já é esperado por analistas políticos— ou um processo de impeachmen­t.

Em comunicado, Whitaker disse que está “comprometi­do em liderar um departamen­to justo com os mais altos padrões éticos que sustentam o estado de Direito e buscam justiça para todos os americanos”. Também chamou Sessions de “um homem íntegro”.

O novo secretário de Justiça serviu como procurador federal de Justiça do distrito de Iowa de 2004 a 2009.

Depois, tentou concorrer ao Senado americano pelo Partido Republican­o, mas não passou das primárias.

Antes da carreira política, ele estudou negócios e direito na Universida­de de Iowa. Ele fez parte do time de futebol americano da instituiçã­o, o Iowa Hawkeyes.

O Senado não precisa aprovar a indicação de Whitaker para o cargo, já que ele assume de forma interina.

Segundo Trump, um “substituto permanente” para Sessions será nomeado mais adiante. Não há ainda indícios de quem poderia ser o novo titular da pasta.

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Allison Shelley - 29.ago.18/Reuters Matthew Whitaker participa de evento no Departamen­to de Justiça em agosto passado

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