Folha de S.Paulo

Estados em crise temem efeito bilionário de reajuste do STF

Equipes de transição e governador­es eleitos de MG, RS e GO criticam aumento

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salvador, curitiba, rio de janeiro

e brasília O reajuste dos salários dos ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) deve agravar a situação financeira de estados que enfrentam uma crise há, pelo menos, quatro anos.

O aumento de 16,4% foi aprovado pelo Senado na quartafeir­a (7), e o presidente Michel Temer deve sancioná-lo.

O impacto do reajuste, segundo cálculo de consultori­as de Orçamento da Câmara e do Senado, pode chegar R$ 4 bilhões por ano —R$ 2,6 bilhões apenas para os estados.

Isso ocorre porque a remuneraçã­o dos ministros —que subiu de R$ 33,7 mil para R$ 39,3 mil—balizará os reajustes de parte do funcionali­smo estadual que tem salários ligados ao teto constituci­onal.

A aprovação do gasto adicional gerou críticas e temores nos gestores estaduais, que já tem o gasto com o pessoal como um dos principais desafios a serem enfrentado­s.

Das 27 unidades da Federação, 16 estão com gasto com pessoal acima do limite prudencial da Lei de Responsabi­lidade Fiscal, segundo relatórios de gestão fiscal do período entre maio e agosto de 2018.

Estados como Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Rio Grande do Norte estão entre os que têm situação financeira mais difícil.

No Rio Grande do Sul, a Secretaria da Fazenda estima que o reajuste do teto poderá gerar um impacto de até R$ 225,6 milhões por ano com o aumento dos salários.

Haverá gastos adicionais no Judiciário, no Executivo, na Defensoria, no Tribunal de Contas, no Ministério Público e no Legislativ­o.

Para o líder da maioria na Assembleia Legislativ­a do estado, deputado estadual Gabriel Souza (MDB), o reajuste, caso sancionado, será determinan­te para tornar ainda mais grave a situação financeira.

“Lamentamos a decisão do Senado. Uma situação que já é caótica tende a se agravar”, afirma o aliado do governador José Ivo Sartori (MDB).

Desde 2015, o governo gaúcho vem adotando medidas de contingenc­iamento, inclusive com atraso e parcelamen­to de salários.

Em Minas Gerais, o governador eleito Romeu Zema (Novo) não pretende propor um reajuste. “É uma irresponsa­bilidade, e Minas Gerais não fará parte disso. O momento é de muito sacrifício”, afirmou à Folha o coordenado­r da transição, Mateus Simões (Novo).

Segundo a Secretaria da Fazenda, o reajuste dos servidores que ganham acima do teto deve custar R$ 100 milhões por ano apenas Executivo.

No Rio de Janeiro, a Secretaria de Fazenda estima R$ 270 milhões anuais de gasto extra.

Em nota, o governador eleito, Wilson Witzel (PSC), afirma que técnicos da equipe de transição estão recebendo os dados do atual governo e definirão ações de gestão financeira e de pessoal.

Nos demais estados, o impacto do reajuste também deve gerar despesas extras para os novos governador­es.

O governador eleito de São Paulo, João Doria (PSDB), deverá ter um aumento de despesa estimado em R$ 564 mi- lhões ao ano, segundo cálculos da Secretaria da Fazenda.

Em Goiás, serão cerca de R$ 100 milhões por ano. Para o governador eleito, Ronaldo Caiado (DEM), a medida pressiona mais as contas estaduais, que ainda estão em crise.

“É algo que produz consequênc­ias, sequelas gravíssima­s nas contas públicas”, disse ele.

Goiás já passou por um ajuste fiscal no auge da crise, cortou despesas e fez privatiza- ções, mas Caiado diz que deverá assumir o governo com salários de servidores em atraso.

Ele levou a reclamação a Paulo Guedes, futuro ministro da Economia do governo Jair Bolsonaro (PSL). O economista prometeu reunião com governador­es no dia 14.

Bolsonaro fez declaração contra o aumento dos ministros. João Pedro Pitombo, Estelita Hass Carazzai, Nicola Pamplona, Mariana Carneiro

 ??  ?? SERVIDORES PROTESTAM CONTRA FIM DO MINISTÉRIO DO TRABALHO Funcionári­os do Ministério do Trabalho durante ato nesta quinta-feira (8) contra a extinção da pasta por Jair Bolsonaro; eles abraçaram o edifício, em Brasília Edu Andrade/Fatopress/Agência O Globo
SERVIDORES PROTESTAM CONTRA FIM DO MINISTÉRIO DO TRABALHO Funcionári­os do Ministério do Trabalho durante ato nesta quinta-feira (8) contra a extinção da pasta por Jair Bolsonaro; eles abraçaram o edifício, em Brasília Edu Andrade/Fatopress/Agência O Globo

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