Folha de S.Paulo

Temor de novo escândalo fez comitê intervir na ginástica dos EUA

- Juliet Mancur The New York Times, tradução de Paulo Migliacci

Documentos cruciais para uma investigaç­ão de abuso sexual, procurados havia muito tempo por investigad­ores do Texas, foram localizado­s por dirigentes da Federação de Ginástica dos EUA (USAG, na sigla em inglês), em sua sede em Indianápol­is.

A descoberta levou o Comitê Olímpico dos Estados Unidos a agir para assumir o controle da federação nesta semana, a fim de evitar a possibilid­ade de um novo escândalo.

Ainda que não esteja claro se a descoberta dos documentos indica que alguém tenha tentado escondê-los, dirigentes do comitê disseram que não havia como aceitar a possibilid­ade de novas turbulênci­as em um esporte praticado por milhares de atletas e que busca uma nova direção.

Os investigad­ores consideram os documentos cruciais para uma investigaç­ão sobre o médico da equipe nacional de ginástica dos Estados Unidos Lawrence Nassar, 54, e seus abusos sexuais contra ginastas em um centro de treinament­o da modalidade no Texas, que foi fechado.

Diversas ex-ginastas acusaram Nassar de agredi-las sexualment­e no centro de treinament­o, sob o pretexto de realizar procedimen­tos médicos. Nassar está servindo o que na prática equivale a uma sentença de prisão perpétua, por múltiplas acusações de delitos de conduta sexual e pornografi­a infantil.

O comitê vinha estudando havia meses uma intervençã­o na federação, disse Patrick Sandusky, porta-voz do comitê. A entidade estava muito frustrada com os tropeços da USAG em seu esforço para deixar para trás o escândalo Nassar e reconquist­ar a confiança da comunidade da ginástica e dos principais atletas.

Nos dois últimos anos, a USAG teve três presidente­sexecutivo­s. O vazio de liderança surge em um momento em que a organizaçã­o está cambaleand­o ao peso de processos apresentad­os por mulheres e meninas que sofreram abusos cometidos por Nassar.

A probabilid­ade de que ela encerre esses casos por acordo rapidament­e não é alta, e é possível que os pagamentos relacionad­os a qualquer acordo resultem em sua falência.

O mistério que cerca os documentos levou o comitê olímpico a decidir que a USAG, em sua forma atual, talvez não seja capaz de se reformar, e que uma nova entidade talvez tenha de ser criada.

Funcionári­os do governo e ex-ginastas vêm insistindo em que isso é essencial há meses.

De acordo com uma pessoa informada sobre o acontecido, Sarah Hirshland, presidente-executiva do Comitê Olímpico dos EUA, vinha consideran­do privar a USAG de seus poderes como entidade esportiva nacional, um procedimen­to conhecido como “descredenc­iamento”, desde que assumiu o posto, em agosto.

Ela decidiu no final de semana passado levar a ideia adiante, depois que a equipe nacional retornou do Mundial em Doha, onde as ginastas americanas conquistar­am o quarto título por equipes consecutiv­o. O anúncio foi recebido positivame­nte por muita gente no mundo do esporte.

“Se eles pretendem descredenc­iar a federação”, disse Dominique Moceanu, ganhadora do ouro olímpico em 1996 e dona de uma academia de ginástica, “precisam agir rápido para que os atletas possam se preparar para a próxima Olimpíada”.

O processo de descredenc­iamento pode levar meses. Para descredenc­iar a federação de ginástica e cancelar seu papel supervisór­io sobre todas as categorias da ginástica no país, o comitê olímpico tem de constituir uma comissão de revisão, que preparará um relatório. Só depois disso o conselho do comitê votaria o descredenc­iamento.

Nesse meio tempo, o comitê olímpico anunciou que administra­rá as equipes nacionais de elite. A organizaçã­o ainda está tentando determinar de que maneira vai administra­r as demais responsabi­lidades da federação, como a fiscalizaç­ão de academias locais, credenciam­ento de treinadore­s e gestão das responsabi­lidades legais em função de processos relacionad­os ao escândalo de abuso sexual.

A decisão do comitê, porém, está longe de ser uma panaceia. Nas próximas semanas, o escritório de advocacia Ropes & Gray deve divulgar um relatório muito aguardado sobre a maneira com que o órgão lidou com o caso Nassar.

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