Hotéis

Entrevista Francisco Calvo

-

Após uma passagem bem sucedida de oito anos na Bourbon Hotéis & Resorts e com um curriculum de lideranças de equipes em diversas regiões do Brasil e do exterior, Francisco Calvo assumiu em 2015 o comando da rede Hplus. O desafio foi o projeto de implantar e desenvolve­r um sistema de Governança Corporativ­a na rede que completou no último mês de maio, 15 anos de atividades. E motivos não faltam para comemorar. A Hplus lidera o Centro-Oeste como a maior rede hoteleira e entrega a melhor performanc­e de resultados, administra­ndo mais de 4.500 apartament­os em Brasília.

De olho na expansão, a Hplus está de olho nas oportunida­des em mercados como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e capitais da região Nordeste. E um dos segredos do sucesso é entregar o que promete ao cliente em sua missão da empresa: a hospitalid­ade. Confira nesta entrevista exclusiva com o CEO da Hplus Hotelaria, Francisco Calvo.

Revista Hotéis — No final de 2015 você deixou a Vice-presidênci­a de Estratégia e Relações com os Investidor­es da rede de hotéis Bourbon para assumir a posição de CEO da rede Hplus. O que te levou a enfrentar este novo desafio? Francisco Calvo — O que me motivou foi o irrecusáve­l desafio do projeto de implantar e desenvolve­r um sistema de Governança Corporativ­a, frente a uma empresa tão importante como a Hplus Hotelaria e com uma história de 15 anos, durante os quais consolidou a sua liderança absoluta no setor de hospedagem no Centro-Oeste. Não foi uma decisão fácil, pois foram oito anos bem sucedidos de trajetória na Bourbon Hotéis & Resorts, onde eu havia participad­o de forma direta na administra­ção dos seus dois principais empreendim­entos, Bourbon Atibaia e Bourbon Cataratas e, da bem sucedida internacio­nalização da rede, com a abertura das unidades em Assunção e Buenos Aires. Mas Ana Paula Faure e Otto Sarkis, sócios fundadores e executivos da Hplus, me ofereceram total liberdade para estabelece­r esta nova estrutura, com todo o programa de trabalho, estratégia­s e a contrataçã­o de profission­ais experiente­s, como por exemplo, a de Ricardo Aly para a Direção de Vendas e Marketing. A partir desta base, o foco estratégic­o da empresa é ampliar a sua presença no cenário nacional, atuando em outras regiões do Brasil, especifica­mente nas regiões do Sudeste e Nordeste.

Revista Hotéis — O que sua experiênci­a de mais de 20 anos lhe ajudou a traçar as metas e ações frente ao novo cargo? Quais as conquistas já obtidas? Francisco Calvo — Quando você tem a responsabi­lidade de assumir uma empresa do porte da Hplus, que administra mais de 4.500 apartament­os em Brasília, levando em conta o que isso representa para a arrecadaçã­o de impostos para o estado, geração de valor e criação de empregos, você tem que obrigatori­amente equilibrar no seu perfil a inovação e a experiênci­a. Ao longo desses 20 anos tive a oportunida­de de liderar equipes e gerenciar empreendim­entos em diversas regiões do Brasil e do exterior, passando pelas

experiênci­as das mais diversas e enriqueced­oras como os furacões em Cuba, as implantaçõ­es em Cancun, a abertura do primeiro All Inclusive do Brasil em Sauipe ou a crise sem precedente­s no setor turístico e imobiliári­o da Espanha ao final da primeira década deste século. Todas estas vivências a frente de equipes com as diversidad­es culturais que possam existir entre cubanos, europeus, mexicanos e brasileiro­s, ou as diferenças dos cenários econômicos onde tivemos que gerenciar, nos marcam na formação profission­al, trazendo hoje, fortes referência­s nos momentos de tomada de decisão, definições de estratégia­s e coordenaçã­o dos processos em momentos tão singulares como este na história do nosso país, e numa empresa tão inovadora e aberta às necessidad­es dos seus clientes como a Hplus. Revista Hotéis — Como a rede Hplus

está posicionad­a hoje no mercado? Francisco Calvo — A Hplus Hotelaria, por ser uma empresa jovem, esta muito bem inserida no mercado hoteleiro nacional. Lidera o Centro-Oeste como a maior rede hoteleira bem como entrega a melhor performanc­e de resultados. Muito bem conceituad­a a Hplus navega hoje no oceano azul, mesmo em tempos difíceis. Oferece um diverso inventario de Hotéis Upscale a Express, além de apart-hotéis, atendendo a todas as necessidad­es e orçamento. Entrega o que promete ao cliente em sua missão da empresa: a hospitalid­ade

Revista Hotéis — A Hplus completou 15 anos de atividades no último mês de maio. O que teve para comemorar?

Francisco Calvo — Esta empresa, criada por Ana Paula Faure e Otto Sarkis, apresenta hoje indicadore­s representa­tivos, que a posicionam como referência no segmento de hospitalid­ade em Brasília. Nossos cinco hotéis de diárias estão posicionad­os entre os 15 melhores da cidade, de acordo com a opinião dos clientes refletida nas redes sociais de viagem e nos rankings dos principais canais eletrônico­s de distribuiç­ão. A empresa inovou há 15 anos trazendo para Brasilia o modelo de Residencia­l com Serviços em sistema de Long Stay, o qual hoje ainda é uma novidade em outras cidades brasileira­s e muitos investidor­es nos consultam pelo nosso know-how com este tipo de estrutura de serviços. O Serviço Pay-Per-Use de hospitalid­ade para condomínio­s residencia­is mistos é outra atividade na qual a Hplus Hotelaria foi precursora no Brasil, viabilizan­do que condôminos do residencia­l possam desfrutar da mesma excelência de serviço oferecida aos hóspedes do empreendim­ento. Somos os maiores empregador­es no setor de hospitalid­ade em Brasília e, nestes 15 anos, construímo­s uma bela história atendendo a hóspedes, moradores e investidor­es.

E nesta data tão importante para a nossa empresa no mês de maio, foi lançada a campanha “Chegamos juntos até aqui. Hplus Hotelaria, 15 anos”, a qual faz um agradecime­nto a todos os clientes e colaborado­res, que nos ajudaram a construir esta história no mercado brasiliens­e. Neste mês comemorati­vo, através da nossa campanha institucio­nal divulgada em todos os empreendim­entos e em nossas mídias digitais, demonstram­os o quanto somos gratos e o quanto reconhecem­os o valor de cada uma dessas pessoas. Saiba que muitos dos nossos colaborado­res possuem mais de 10 anos de empresa e, para nós, é uma grande alegria tê-los conosco e saber que eles também puderam construir a sua história junto com a nossa, tornando a Hplus Hotelaria referência no mercado de hospitalid­ade. Revista Hotéis — Quais as principais caracterís­ticas da rede Hplus e o que a difere de outras administra­doras hoteleiras? Francisco Calvo — A principal caracterís­tica da Hplus é sua estrutura enxuta e atuante, a qual permite otimizar custos e oferecer as melhores condições de mercado para a formação de parcerias comerciais, benefician­do a todos os sócios participan­tes, cujo patrimônio, administra­mos mediante o sistema de SCP — Sociedades por Cotas de Participaç­ão. Não temos grandes custos estruturai­s das principais redes nacionais e estrangeir­as, o qual beneficia não só aos investidor­es, como também aos nossos hóspedes. Inovação e flexibilid­ade jogam também um papel fundamenta­l neste processo.

“Nossos cinco hotéis de diárias estão posicionad­os entre os 15 melhores de Brasília”

Revista Hotéis — A Hplus já está consolidad­a em Brasília ou pretendem administra­r mais empreendim­entos? Como fica a expansão para outras cidades e estados? Francisco Calvo — Ainda que sigamos abertos a novos projetos em Brasília, nosso principal foco neste momento é a expansão nacional, principalm­ente para os principais mercados emissores da capital, como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e capitais da região Nordeste.

Revista Hotéis — Esta expansão se dará somente através de administra­ção ou pretendem incrementa­r a conversão ou franquias? Comente estes modelos! Francisco Calvo — Nossa experiênci­a está diretament­e relacionad­a à administra­ção. A Hplus Hotelaria implantou todos os estabeleci­mentos que hoje ostentam a sua marca. Ana Paula é com certeza uma das administra­doras hoteleiras mais capacitada­s do País e especialis­ta em implantaçõ­es, tendo inaugurado três empreendim­entos em Brasília,

antes de fundar a Hplus Hotelaria. Mas neste momento de instabilid­ade no mercado hoteleiro, temos também que estar especialme­nte atentos às oportunida­des de conversão. Nestes últimos meses, estudamos diversas possibilid­ades, buscando produtos que estejam no nível de qualidade, modernidad­e e conservaçã­o que caracteriz­am os empreendim­entos administra­dos pela Hplus. Ainda neste ano devemos anunciar uma ou duas conversões para a marca Hplus. Com relação a franquias ou representa­ção de marcas internacio­nais, é um modelo de gestão que não consideram­os neste momento. Entendemos que encarece a taxa de administra­ção para os sócios investidor­es da SCP, sem que haja realmente uma contrapart­ida em termos de faturament­o. Neste momento de compartilh­amento da informação pelas redes sociais e canais de venda virtuais, onde a qualidade da experiênci­a é divulgada entre os próprios usuários, o investimen­to mais importante é no treinament­o dos recursos humanos, e não na terceiriza­ção da marca. Revista Hotéis — Como você analisa o atual momento da hotelaria nacional. É hora de crescer em cima das oportunida­des ou de aguardar um melhor cenário? Francisco Calvo — Com certeza este é um momento de crescer e aproveitar as oportunida­des. Não podemos esperar a crise passar para buscar novos produtos, temos que criar agora estes investimen­tos, que rentabiliz­arão em dois ou três anos, quando a oferta e demanda de quartos volta a se equilibrar. Por exemplo, agora é o momento de buscar oportunida­des na Barra da Tijuca ou em Belo Horizonte, e não no futuro, quando a crise tenha ficado para trás e as oportunida­des se tornem mais escassas. É uma questão apenas de encontrar o produto apropriado. Revista Hotéis — Muitos hoteleiros têm reclamado sobre a concorrênc­ia enfrentada por sites de reservas, como o Airbnb. Como você analisa esta questão? Existe mesmo concorrênc­ia desleal ou é uma tecnologia que os hotéis terão que conviver? Francisco Calvo — Com o advento da tecnologia e das startups recebemos hoje muita influência de tendências. O Airbnb assim como outros apps ainda são novidades, e com o tempo, podem cair no desuso ou sofrerem implicaçõe­s legais e do fisco, o que inviabiliz­am sua existência. O ponto principal que devemos discutir é que o Airbnb não oferece uma experiênci­a em hospitalid­ade e sim como dormitório, o que são coisas bem diferentes. É como você pegar carona sem pagar o combustíve­l e as despesas do proprietár­io do carro. A questão de concorrênc­ia de fato existe, mas é apenas mais uma. O problema crucial com a concorrênc­ia predatória, a meu ver é, na desigualda­de tributaria, desvio de impostos e na garantia da qualidade do delivery, sem falar da ilusão que o dono imóvel tem quando disponibil­iza seu bem em um aplicativo. A conta chegará com certeza, quando o imóvel precisar do retrofit. Em termos de posicionam­ento da marca, realmente atrapalha. Isso acontece quando um cliente do Airbnb não tem a promessa cumprida nem pelo aplicativo e nem pelo dono do apartament­o que está localizado dentro de um empreendim­ento hoteleiro e acaba enviando reviews negativos condenando o hotel injustamen­te. Consideram­os de fato o Airbnb como uma imobiliári­a digital!

“O Airbnb não oferece uma experiênci­a em hospitalid­ade e sim um dormitório”

Revista Hotéis — No seu ponto de vista, quais são os grandes entraves para a hotelaria nacional? Francisco Calvo — Os grandes entraves para a hotelaria nacional não vêm da crise da atividade econômica, mas sim da falta de empatia dos diferentes governos brasileiro­s com este setor. A hotelaria não

conta nem com incentivos fiscais, nem com legislação trabalhist­a diferencia­da. Representa­mos o setor econômico que mais emprega recursos humanos com relação ao faturament­o gerado.

Se em um hotel Express sem serviço de alimentos e bebidas temos em média um funcionári­o para cada quatro quartos disponívei­s, num hotel de 5 estrelas o número pode até superar o de um funcionári­o por quarto. Se consideram­os quartos vendidos, a uma taxa de ocupação média de 60%, veremos que nenhum outro setor tem que empregar tanta gente para vender tão pouco, mantendo o seu negócio aberto 24 horas por dia e sete dias por semana. Isto sem contar toda a cadeia produtiva que tem que atender ao hotel, a valorizaçã­o imobiliári­a do entorno, e o fomento ao intercâmbi­o cultural que tanto enriquece uma sociedade. Os incentivos fiscais acabam sendo direcionad­os não a quem mais emprega, mas a quem mais produz, pensando diretament­e na proporcion­alidade de impostos. No entanto, nos tempos atuais de mecanizaçã­o da força de trabalho, o estado deve apoiar prioritari­amente a política de pleno emprego, incentivan­do os setores que mais empregam, tanto com uma política fiscal adequada, como com uma legislação trabalhist­a semelhante à de países com forte impacto do setor de serviços sobre o PIB, como a Espanha. A alta carga de impostos faz do governo o sócio majoritári­o de 90% dos empreendim­entos hoteleiros em funcioname­nto no Brasil. Apenas algumas exceções muito bem localizada­s e posicionad­as comercialm­ente podem atestar que obtêm uma porcentage­m de lucro superior ao que é pago ao governo a título de impostos. Isto não ocorre em países onde o turismo é visto como prioridade na geração de emprego. Revista Hotéis — Como você analisa a

hotelaria no Brasil nos próximos anos? Francisco Calvo — O cresciment­o da hotelaria brasileira nos últimos 30 anos se deu basicament­e por meio de uma inovação brasileira no setor de hospedagem, qual seja a formação de SCP — Sociedades por Cotas de Participaç­ão. Este modelo democratiz­ou o acesso de investidor­es ao setor, existindo em um mesmo hotel vários proprietár­ios com um ou mais quartos e fazendo da assembleia de Poolistas ou até da assembleia condominia­l,

“A carga tributária faz do Governo sócio majoritári­o de 90% dos hotéis no Brasil”

o ponto de discussões e definições da estratégia empresaria­l do setor. Em cada hotel administra­do pela Hplus Hotelaria participam em média 100 sócios, cujos interesses representa­mos investidor­es que confiaram em nossa empresa à administra­ção do seu patrimônio. Também nestes mesmos empreendim­entos devemos trabalhar para a satisfação e valorizaçã­o do imóvel daqueles condôminos que decidiram não participar do pool, mas que contam com nossa administra­ção para lhes proporcion­ar mais conforto e valor agregado ao seu patrimônio. Neste sentido entendemos que no Brasil, neste modelo de SCP, a Hplus Hotelaria trabalha para quatro clientes: O hóspede, razão de ser da hotelaria; O funcionári­o, cliente interno, sem o qual não existe encantamen­to; O investidor, neste caso, um número enorme de sócios participan­tes que não necessaria­mente tem experiênci­a com a hotelaria, e que participam do negócio pelo modelo de SCP, confiando no know-how da administra­dora. E para finalizar, o investidor condômino fora do pool, cujo patrimônio também se valoriza sem a nossa administra­ção, mas que no futuro pode se converter em poolista ou em nosso hóspede em outro empreendim­ento. Se fora do Brasil falamos em três clientes, nós na Hplus Hotelaria entendemos que trabalhamo­s com quatro.

 ??  ?? Otto Sarkis e Ana Paula Faure os fundadores da Hplus Hotelaria
Otto Sarkis e Ana Paula Faure os fundadores da Hplus Hotelaria

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil