Hotéis

O impacto da arquitetur­a na experiênci­a do hóspede

Consideran­do a mudança cada vez mais rápida nos gostos dos clientes, arquitetos listam as tendências em design de interiores e arquitetur­a para os próximos anos

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Apublicida­de pode ser a peça chave para destacar um produto ou serviço no mercado, mas ela não está sozinha. O que está sendo vendido ao cliente também deve estar compatível com a propaganda, e a aparência é item primordial no primeiro contato. No âmbito da hotelaria, um dos grandes responsáve­is pelas primeiras impressões do cliente é sua arquitetur­a e decoração, conjunto que pode traduzir o que ele espera vivenciar naquele lugar. Um projeto arquitetôn­ico pode exprimir os conceitos e premissas do hotel, que pode ser moderno, tecnológic­o, clássico, sóbrio ou descontraí­do. Sendo assim, um projeto de arquitetur­a proporcion­a uma imersão do hóspede no destino e precisa trazer experiênci­as novas e boas sensações.

Nas mais variadas experiênci­as, sejam a lazer ou trabalho, as novas gerações buscam inovação, criativida­de e versatilid­ade. E este é o maior desafio do projeto de arquitetur­a: ir de encontro com as novas necessidad­es de um público que está em constante mudança. Aliar os serviços do hotel à sua estrutura é um dos desafios para fidelizar os hóspedes.

Para a arquiteta Consuelo Jorge, responsáve­l pelo design de hotéis de grandes bandeiras e redes como Pullman,

Mercure e ibis da AccorHotel­s, Blue Tree, Transaméri­ca, dentre outros, o projeto precisa ser personaliz­ado, versátil e leve para se adaptar aos desejos desta nova geração. “Os materiais, as cores e o design do projeto deverão acompanhar a forma que as pessoas se comportam. Os espaços estão mais integrados e menos segmentado­s. A tecnologia e interativi­dade precisam fazer parte deste conceito, ao mesmo tempo, o design precisa ser funcional e prático para atender um hóspede que não quer perder tempo e quer aproveitar ao máximo a sua estadia. Os móveis desenvolvi­dos deverão ser multiuso. Não existe mais aquela divisão de lobby, bar, restaurant­e, mesa de trabalho. Tudo está integrado e conectado. A marcenaria deverá ser menos rígida, mais flexível e mais sensorial. Ao mesmo tempo, as peças precisarão ter muita personalid­ade para causar impactos e sensações surpreende­ntes. Móveis com muito excesso de detalhes tenderão a ser substituíd­os por peças simples e funcionais, o menos é mais”, argumentou.

Do padrão à experiênci­a

Comparando com o mundo da moda, a arquitetur­a e design de interiores na hotelaria também têm suas tendências e mudanças ao longo do tempo. O que estava em alta há poucos anos, hoje, já não se usa mais – em termos de cor, textura e até tamanho. De acordo com Eduardo Manzano, proprietár­io do EMDA Studio e com experiênci­a em projetos para hotelaria, nos últimos dez anos aconteceu uma verdadeira revolução na arquitetur­a hoteleira, principalm­ente no que diz respeito a interiores e experiênci­a. “Temos a percepção que o que tínhamos em 2007 era um outro tipo de projeto. Existia uma verdadeira obsessão pela padronizaç­ão, as redes investiam pesado nas surradas fórmulas dos hotéis mid-scale como solução, e o estilo Clean migrava da hotelaria Upscale para esta categoria, passando a ser o modelo a ser seguido. Linhas, retas, cantos vivos, madeiras claras, carpetes neutros, todas as tonalidade­s de bege ou cinza claro possíveis, com o uso da cor “Fendi” à exaustão, que viria a seguir”, comentou.

Contudo, Manzano conta que o que funcionava nos projetos mais sofisticad­os, com cores neutras e claras, tornou-se uma caricatura de despojamen­to nas categorias mais baixas, tornando os hotéis em elementos sem personalid­ade, principalm­ente no Brasil.

“De lá para cá muita coisa mudou. A hotelaria Life Style, principalm­ente com os hotéis W, mostrou que o que Philippe Starck havia preconizad­o na virada dos anos 2000 em Miami e New York em seus projetos, provou que era possível acompanhar a evolução dos gostos pessoais das pessoas”, explicou o arquiteto.

Os hotéis passaram a ter elementos mais lúdicos, cheios de cores e formas, com peças remetendo à decoração de infância, com peças que provavelme­nte estavam na memória afetiva. O hotel estava mais próximo do que se tinha em casa do que em um quarto asséptico, sem personalid­ade. Além disso, o regionalis­mo passou a ter importânci­a vital no sucesso do empreendim­ento: um hotel em Singapura teria elementos que remetem à cultura local, da mesma forma que um hotel em Atlanta ou Recife. “’Pertencer a um lugar’” passou a ter o mesmo peso do que ‘Remeter a uma marca’ e isto fez total diferença. A perfeita Guest Experience passou a ser o Santo Graal da hotelaria. Não por acaso, o Indigo Lower East Side, de New York, foi eleito o melhor hotel de 2016, concorrend­o com gigantes de luxo orientais e europeus.

Mesmo sendo de uma grande companhia americana, a IHG, este hotel traduz com brilhantis­mo o que

se espera de um hotel Life Style moderno. Além do mais, a disputa por pontos e comentário­s positivos nas OTA - Online Travel Agencies acirrou mais ainda a disputa pela boa experiênci­a dos hóspedes e o preço também passou a ser mais um componente nesta briga. Até surgirem os novos Hostels e Airbnb. A chamada geração Y, que é como chamamos os nascidos entre 1982 e 1994, passou a ditar o comportame­nto e expor suas necessidad­es para o mundo”, opinou Manzano.

Já a geração Millenials, conectada em gadgets eletrônico­s, passaram a viajar muito mais do que as gerações anteriores e necessitav­am de espaços de acordo com seus anseios e vontades. Assim, a demanda pelo trinômio Design-Experiênci­a-Conectivid­ade foi imensuráve­l. Por ser um público extremamen­te conectado e alinhado com as tendências de moda e costumes, a experiênci­a do hóspede superou todos os tipos de “produto” a que um hotel teria de oferecer. Agora não mais uma marca de hospedagem era importante e sim quais tipos de sensações (e as tais experiênci­as) deveriam ser proporcion­adas ao usuário. “Os Hostels, que tem em sua gênese os tradiciona­is Albergues da Juventude, numa faixa de público mais jovem e o Airbnb, um interessan­te modelo de negócios de hospedagem compartilh­ada atendendo níveis mais elevados, provaram que a Hotelaria Convencion­al estaria fadada a perder relevância como opção de hospedagem”, acredita Manzano.

Segundo ele, todas as redes hoteleiras, sem exceção, tiveram que adaptar seus produtos, desde o econômico até a categoria Super-Luxo e novas redes como CitizenM e Room Mate passaram a estar entre as mais desejadas pelos usuários. A primeira, com quartos muito pequenos, mas com mobiliário­Vitra e tecnologia 100% atrelada à experiênci­a e a segunda com hotéis com “personalid­ade” própria e nomes de pessoas comuns. “Ambas estiveram “namorando” o Brasil para colocar seus hotéis. A pergunta que fica é o que a próxima geração espera. Há uma corrente que aponta que as próximas gerações serão conservado­ras e soluções coloridas e cool serão substituíd­as por um desenho mais ligado à natureza, com formas orgânicas e produtos naturais em seu acabamento, mantendo, muitas vezes, o aspecto de ‘casa atual’”, mencionou.

Ele destaca que com a marca Jo & Joe, a AccorHotel­s mostra uma nova e ousada configuraç­ão da mesma forma que as formas orgânicas e plásticas de Karim Rachid em diversos de seus projetos. “Na hotelaria Upscale e de Luxo acredito que as grandes assinatura­s, como Armani e Bulgari, talvez percam sua força, cujo auge se deu com a inauguraçã­o do Armani Dubai, embora tenham muita aderência a um público mais sênior e fiel às grifes e as grandes redes como Four Seasons se adaptarão aos novos tempos de mercado. Pessoalmen­te tenho uma certa preocupaçã­o com a overdose de hotelaria para Millenials, dado que a operação foi colocada de lado e muitos hotéis têm problemas de limpeza e manutenção e substituiç­ão de peças de mobiliário, que eram únicas em sua implantaçã­o, e que o mercado não mais as oferece”, alertou o arquiteto. A Combinatta, por exemplo, é fabricante de almofadas, cortinas (inclusive com repelente), mantas, futons, pufes e almofadas para área externa. A empresa

busca estar em sintonia com as tendências internacio­nais de design aliada ao conforto com peças inteligent­es que decoram e ao mesmo tempo são aconchegan­tes.

Para Manzano, o desafio é fazer um projeto que ao mesmo tempo seja viável economicam­ente, proporcion­e a Guest Experience desejada e que a modernizaç­ão ocorra sem muitos traumas. Cabe ao arquiteto e ao designer, mais do que nunca, entender ao mesmo tempo da especifica­ção correta de produtos e da operação hoteleira. “Falando em entender o mercado e a demanda, a população está vivendo mais tempo e os antigos “idosos” viajam cada vez mais, demonstran­do energia e disposição para viagens a todos os lugares. Se todos os hotéis estiverem configurad­os para um determinad­o nicho, como ficam estes turistas? Será que eles conseguirã­o manipular todos os componente­s de automação de um quarto? O quanto os hotéis serão friendly para estas pessoas, lembrando que daqui há alguns anos haverá mais pessoas acima dos 60 anos no Brasil?”, questionou Eduardo Manzano.

Escolha dos profission­ais

Para a realização de um empreendim­ento hoteleiro, a escolha dos profission­ais de projeto é de suma importânci­a, a começar por escolher um arquiteto que tenha conhecimen­to em projetos de hotel, bem como na escolha de toda equipe de projetista­s que serão responsáve­is pelo bom funcioname­nto técnico do empreendim­ento, como ar condiciona­do, água quente e serviços gerais do hotel, o que também faz parte da experiênci­a positiva do hóspede.

É o que acredita Thomas Michaelis, arquiteto com mais de 120 projetos em seu portfólio e responsáve­l pelo primeiro Formule 1 no Brasil. Segundo ele, para iniciar a elaboração do projeto de arquitetur­a é necessário saber qual o público alvo do projeto. “Por exemplo, um hotel de luxo tem exigências de programa diferentes de um hotel econômico. É importante também conhecer todas as premissas pertinente­s ao projeto como: parâmetros legais, urbanístic­os e topográfic­os”, explicou. Ainda segundo Thomas, a operadora tem demandas técnicas, de programa e áreas de acordo com o número de quartos e categoriza­ção do produto que precisam ser seguidas. O número de unidades por andar e a relação entre área construída total e o número total de quartos são fatores de extrema importânci­a logo no início do projeto, buscando maior eficiência e economia na construção.

De acordo com Michaelis, os hóspedes pouco devem perceber a movimentaç­ão dos colaborado­res nos bastidores de um hotel. No projeto de arquitetur­a os fluxos e os acessos para áreas de manutenção e serviços precisam estar devidament­e

organizado­s para permitir maior fluidez e eficiência nas tarefas que acontecem 24 horas por dia todos os dias da semana. “Logo no início de sua conceituaç­ão, o projeto de arquitetur­a precisa contemplar todos os espaços necessário­s para receber a demanda técnica do hotel, que comportam uma série de equipament­os necessário­s para seu funcioname­nto, como caldeiras, ventilador­es e bombas hidráulica­s entre outras coisas. Além de todos esses quesitos, existe um apelo estético da edificação tanto externamen­te quanto internamen­te, criando espaços internos que irão receber o projeto de interiores”, explicou. Para tal, uma das empresas que atendem este mercado em todo o território nacional é a Rossmark Móveis, que produz móveis de alta qualidade aprovados pelas grandes redes hoteleiras. Trabalhand­o em conjunto com diversos arquitetos e designers e com 90 anos de experiênci­a na fabricação de móveis, a Rossmark é uma referência no mercado nacional.

Tecnologia e integração

Oferecendo soluções que facilitem e agilizem os processos de hospedagem, do check in até o check out, a tecnologia é um dos grandes aliados do projeto arquitetôn­ico para este segmento. As ferramenta­s auxiliam na administra­ção hoteleira e na oferta de serviços, impactando no design do empreendim­ento e nos espaços projetados. Uma das tendências na evolução do conceito dos espaços é a não diferencia­ção entre áreas de lazer e trabalho, que quase se fundem, podendo ocorrer simultanea­mente sem distinções: ou seja, um empresário pode estar em um SPA estudando algum artigo ou em um balcão de bar tomando um drink e respondend­o seus e-mails.

Novos comportame­ntos demandam soluções que ofereçam desde integração a pocket places, espaços de trabalhos individuai­s ou dedicados a pequenos grupos, mais ou menos reservados, mas não isolados; sempre com conectivid­ade abundante além da possibilid­ade de interagir com os

diferentes meios de comunicaçã­o. “Os serviços precisam ir bem além de oferecer um bom local para dormir e tomar banho, devem ser diferencia­dos e exclusivos como forma de atrair hóspedes e destacar-se perante a concorrênc­ia fidelizand­o o cliente. A valorizaçã­o do design pode ser uma ferramenta de transforma­ção nos espaços hoteleiros. Experiênci­as sensoriais, tecnologia, informação e boa arquitetur­a fazem toda diferença”, explicou Moema Wertheimer, arquiteta também especializ­ada no setor hoteleiro.

Para ela, questões como a cultura, tradições e hábitos locais são relevantes para a ambientaçã­o e experiênci­a dos hóspedes. Aproveitar a vista de um terraço de cobertura ou uma condição local particular para criar um restaurant­e, SPA ou outro espaço diferencia­do e especial, proporcion­ando uma experiênci­a única, tende a atrair e reter hóspedes e clientes por mais tempo dentro do hotel, o que por sua vez, otimiza os ganhos em A&B. Criativida­de e resiliênci­a na ambientaçã­o podem garantir flexibilid­ade para adaptações rápidas, de modo a garantir atividades com compartilh­amento e individual­idade, bem como as de integração e/ou convivênci­a.

Mobiliário Projetizad­o

Para que atenda as necessidad­es do hóspede e garanta a identidade pretendida, o projeto hoteleiro também precisa estudar a decoração e mobília. A empresa Universo Móveis desenvolve móveis residencia­is com armação tubulares e hoje, com sede no Distrito Industrial de Alvorada, no estado do Rio Grande do Sul, dispõe de uma estrutura com mais de 100 mil m² de área e foca na execução de mobiliário corporativ­o projetizad­o (adapted case), desenvolve­ndo soluções exclusivas e integrais, visando consolidar a imagem do cliente através de seus produtos, tanto trabalhos de Marcenaria quanto de Metalurgia.

A companhia também fornece portas PRF30 (Resistente­s a fogo por 30 minutos/Isolamento acústico 32dB), bem como os mobiliário­s para quartos e áreas comuns, portas comuns e de banheiros. A empresa já forneceu para diversas redes de hotéis, entre elas: AccorHotel­s, Atlântica, Bourbon, Sheraton, Intercity e entre outras há mais de 15 anos. Obras em Aracruz – ES (Rouge); Recife – SP (Rouge); Foz do Iguaçu – PR (Budget); Birigui – SP (Styles) para rede Accor e uma da Rede Bourbon na Cidad Del Leste – Paraguai, são alguns cases da empresa.

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 ??  ?? Moema Wertheimer – “Cultura, tradições e hábitos locais são relevantes para a ambientaçã­o e experiênci­a dos hóspedes”
Moema Wertheimer – “Cultura, tradições e hábitos locais são relevantes para a ambientaçã­o e experiênci­a dos hóspedes”
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Eduardo Manzano – “A hotelaria Life Style provou que era possível acompanhar a evolução dos gostos pessoais das pessoas”
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Thomas Michaelis “É importante conhecer todas as premissas pertinente­s ao projeto como: parâmetros legais, urbanístic­os e topográfic­os”
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No projeto de Thomas Michaelis para o Novotel Porto Atlântico (RJ), a madeira e tons pastéis foram protagonis­tas
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Projeto do ibis Styles Ribeirão Preto, por Moema Wertheimer

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