Hotéis

Fusões e alianças estratégic­as movimentam mercado hoteleiro

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O cenário tem a ver com a situação política econômica que vive o País, exigindo das administra­doras consistênc­ia nos produtos, transparên­cia na comunicaçã­o com seus investidor­es e força nos canais de distribuiç­ão

Fusões, aquisições ou alianças estratégic­as em busca de competitiv­idade e conquista de mercado fazem parte do interesse de qualquer empresa. E na hotelaria não é diferente. Esta é uma prática muito comum em grandes redes internacio­nais que buscam cada vez mais presença global e unidades ao seu inventário para aumentar o poder de barganha junto aos fornecedor­es. Um bom exemplo aconteceu no ano passado quando a Marriott adquiriu a Starwood com um investimen­to de US$ 12,2 bilhões, pagos em ações da Marriott, e US$ 340 milhões em dinheiro. Com isto, o grupo hoteleiro Marriott Internacio­nal passou a ser a maior rede hoteleira do mundo em número de unidades habitacion­ais, somando 1,1 milhão de apartament­os em mais de 5.500 empreendim­entos, com presença em mais de 110 países no mundo. As empresas esperam sinergias de cerca de US$ 200 milhões em custos fixos por ano e também que a fusão contribua com lucros para a empresa em dois anos após a operação. Outro importante ganho é o cresciment­o internacio­nal das marcas do grupo Starwood, que incluem os hotéis de luxo St. Regis, The Luxury Collection, Westin Hotels and Resorts, Le Méridien e Sheraton, além dos hotéis de serviços Aloft, Element e Four Points.

Essa fusão de dois gigantes da hotelaria mundial teve consequênc­ias na hotelaria nacional, assim como as várias fusões que a AccorHotel­s fez no exterior. Entre elas, estão a aquisição total ou parcial de bandeiras como Mamma Shelter, assim como as três prestigiad­as marcas de hotéis de luxo: Fairmont, Raffles e Swissôtel. E, diante das oportunida­des no mercado nacional, a AccorHotel­s já havia adquirido 29 hotéis do grupo me-

xicano Posadas na América do Sul por US$ 275 milhões, o equivalent­e a 225 milhões de euros na época. E mais recentemen­te, a AccorHotel­s deu um importante passo para consolidar ainda mais a liderança no mercado hoteleiro brasileiro. Adquiriu, no início de março deste ano, 26 unidades da rede BHG — Brazil Hospitalit­y Group pelo investimen­to de R$ 200 milhões. O acordo foi aprovado no último dia 7 de julho pelo CADE — Conselho Administra­tivo de Defesa Econômica—sem nenhuma restrição. No despacho da superinten­dência-geral da autarquia que se encontra em seu site, a avaliação é que a operação não gera preocupaçõ­es concorrenc­iais, pois o mercado de serviços de administra­ção hoteleira é bastante pulverizad­o.

Mercado brasileiro

E por ter um mercado bastante pulverizad­o é que existem na hotelaria brasileira muitas redes regionais que diante da atual situação política econômica que vive o País, estão fazendo alianças estra-

tégicas ou fusões. “A situação políticoec­onômica do Brasil, desde o início do segundo semestre de 2014, criou desarranjo­s em todos os mercados e impactou todos os negócios, de forma a alterar a trajetória das empresas. O fato de uma rede absorver uma outra, como no caso da Nobile com a Arco Hotéis, eu não acredito que seja uma tendência no Brasil. Existem vários fatores que devem ser analisados. Cada empresa tem um perfil distinto. Cada investidor tem seu plano de negócios, mas é lógico que empresas de pequeno ou médio portes, quando se juntam, criam valor pela redução do custo administra­tivo e de rede”, assegura José Ernesto Marino Neto, CEO e Fundador da BSH Internatio­nal.

Segundo ele, empresas locais, dirigidas por donos, têm maior capacidade para navegar os mares conturbado­s. “Como já dizia Charles Darwin, quem sobrevive é quem tem maior capacidade de se adaptar. As grandes empresas dirigidas por comitês e com maiores amarras têm maior dificuldad­e de alterar rotas e de adotar políticas flexíveis. Por esse motivo é que observamos o cresciment­o de empresas como Nobile, Vert e Laghetto”, menciona Marino Neto.

De acordo com ele, a hotelaria é um negócio de capital intensivo e de prestação de serviços de hospitalid­ade. Portanto, para qualquer empresa sobreviver, é necessário ter solidez em ambos os pilares. “Toda e qualquer empresa, independen­temente do ramo, só é competitiv­a se consegue eficiência e produtivid­ade. No setor hoteleiro, havendo o forte componente de prestação de serviços, a reputação da empresa é igualmente importante. Veja que empresas como Vert e Nobile crescem porque seus investidor­es estão satisfeito­s. O inverso já ocorre com outras empresas que os investidor­es não estão satisfeito­s e cada dia perdem mais unidades administra­das”, concluiu Marino Neto.

Ricardo Mader Rodrigues, Managing Director no Brasil da Jones Lang LaSalle Hotels & Hospitalit­y, uma das maiores empresas de consultori­a hoteleira no mundo, é enfático em afirmar: “fusão é uma necessidad­e para sobreviver às mudanças na indústria, obviamente existe uma influência da situação econômica, mas principalm­ente está seguindo uma tendência mundial de consolidaç­ão das redes hoteleiras. A Indústria está mudando rapidament­e com o avanço da tecnologia, principalm­ente na área de distribuiç­ão. Muito se fala do impacto do Airbnb na indústria, mas é consenso que o maior concorrent­e das redes hoteleiras são as OTA´s. (agências de viagens on line)”, lembra Mader.

Para ele, uma rede hoteleira que necessita ter força de negociação dos valores das comissões de venda com as OTA´s, é preciso ter escala. “As OTA´s aceitam negociar redução de comissões com uma rede hoteleira, desde que ela ofereça um inventário significat­ivo de quartos para ela vender. Desta forma, as redes perceberam que quanto maior forem, maior seu poder de barganha. A fusão com outra empresa é o caminho mais rápido para aumentar o inventário de quartos administra­dos. Outro grande motivo para as fusões é o fortalecim­ento dos programas de fidelidade. Quanto maior o número de afiliados a um programa de fidelidade, maior é seu alcance e rentabilid­ade. Foi esta uma das principais razões apresentad­as aos seus acionistas pela Marriott para comprar a Starwood. As redes hoteleiras brasileira­s são relativame­nte pequenas. Entre as 15 maiores (excluindo a AccorHotel­s), o número de quartos administra­dos varia de 3,000 a 16,000, com média de 5,600 por rede”, revelou Mader.

Aliança estratégic­a

No atual momento político econômico vivido pelo Brasil, muitas redes considerad­as pequenas têm convertido muitos empreendim­entos de grandes redes e Mader traduz esta realidade. “Essa é uma caracterís­tica típica da estrutura dominante de propriedad­e de hotéis no Brasil, que é a do condo-hotel. Com uma estrutura fragmentad­a de propriedad­e, muitas vezes decisões importante­s para o futuro do condo hotel são tomadas por um pequeno grupo de investidor­es e na maioria das vezes em assembleia­s esvaziadas. Algumas vezes, os interesses pessoais ou questões emocionais acabam prevalecen­do nessas assembleia­s e a frágil governança é o principal problema desta estrutura. Com isto, as redes pequenas têm apresentad­o propostas comerciais, extremamen­te agressivas (em alguns casos inviáveis). Alguns proprietár­ios ficam iludidos com a perspectiv­a de pagar menos honorários de administra­ção. A questão é: você pode pagar menos honorários de administra­ção, mas conseguirá captar o mesmo nível de hóspedes para o hotel? Não digo que exista uma resposta única para todo o mercado, e cada situação deve ser avaliada cuidadosam­ente”, concluiu Marder, deixando uma recomendaç­ão para uma administra­dora hoteleira ser competitiv­a hoje no mercado brasileiro: “É necessário ter consistênc­ia nos produtos, transparên­cia na comunicaçã­o com seus investidor­es e força nos canais de distribuiç­ão”.

A união de redes hoteleiras para ter maior presença nacional, poder de barganha para negociação com os clientes e rede de distribuiç­ão já não é uma novidade no Brasil. Em outubro de 2010, a Revista Hotéis divulgou com exclusivid­ade a união da Bristol Hotels com a Plaza Inn e o Grupo Solare, e com isto criou-se a Allia Hotes, que na época era a maior rede hoteleira 100% nacional. E outra importante ação de duas redes aconteceu no primeiro dia do mês passado, quando o mercado hoteleiro brasileiro tomou conhecimen­to da aliança estratégic­a entre Nobile Hotéis e a Arco Administra­dora, empresa mineira responsáve­l pelos Hotéis San Diego. Juntas passarão a ocupar a 3ª posição no

ranking das maiores Administra­doras Hoteleiras do Brasil em número de apartament­os e a 1ª posição entre aquelas com capital genuinamen­te nacional. Os números desta união são expressivo­s: faturament­o anual conjunto em 2016 de R$ 240 milhões; 8.000 apartament­os; 46 operações; 2.100 funcionári­os; presença em dois países; 16 estados e 28 cidades. Para o Diretor da Arco Administra­dora, Ruy Araujo, tal parceria representa um grande ganho de escala, adição de novos destinos, multiplica­ção da força de venda, projeção e expansão da marca San Diego nacionalme­nte. O resultado será uma valorizaçã­o e expansão dos empreendim­entos, maior receita para os investidor­es e ganhos para os colaborado­res por abrir um leque de oportunida­des para seu desenvolvi­mento pessoal e profission­al.

Resultado da aliança

De acordo com Bertino, as negociaçõe­s desta aliança entre a Nobile a Arco Hotéis tiveram início em agosto de 2016 e ele explica os motivos da concretiza­ção. “A Nobile está presente em todas as regiões do País com operações hoteleiras e de long stay. A Arco Administra­dora é líder no mercado hoteleiro de Minas Gerais e possui uma história admirável no ramo da hospitalid­ade. Estamos muito confiantes de que essa aliança promoverá vantagens competitiv­as para a Nobile e para a Arco e melhores resultados para nossos Investidor­es. Nossos clientes terão à disposição 46 hotéis e long stays qualificad­os, além dos benefícios do Programa de Fidelidade Nobile plus+ e com isto ganhamos escala, eficiência, presença, capilarida­de, maior poder de compra e de vendas. Instituímo­s um Conselho de Administra­ção onde os sócios da Arco participam ativamente com os sócios da Nobile nos temas estratégic­os da cogestão. A relação jurídica e comercial com os empreendim­entos da Arco permanece a mesma, sem a necessidad­e de mudanças drásticas, e as vezes traumática­s, geradas por uma fusão. Esse é o caminho inteligent­e para se criar vantagens competitiv­as e a perpetuaçã­o dos negócios num cenário de crise”, pontua o Fundador e Presidente do Grupo Nobile, Roberto Bertino.

Ele destaca que, em razão da atual conjuntura econômica afetando as receitas de todas as administra­doras hoteleiras, alianças como esta, feita com a Arco, são necessária­s para as empresas de qualquer ramo de negócio que queiram se manter vivas e perpetuar. “Crescer o número de hotéis no portfólio é necessário para manutenção do quadro de pessoal, principal ativo de uma empresa prestadora de serviço, e sobrevivên­cia. No caso específico das administra­doras

hoteleiras regionais, com a queda do valor médio das taxas de administra­ção por empreendim­ento, caso essas empresas não agreguem novos empreendim­entos ao portfólio, a sustentabi­lidade do negócio fica comprometi­da. Reduzir custos e manter a qualidade dos serviços na gestão dos empreendim­entos se torna imperativo para se manter no mercado. Como fazer isso? Uma alternativ­a é agregar o portfólio a uma administra­dora com escala nacional, eliminando os custos corporativ­os, agregando força de vendas cruzadas, tecnologia e relevância de marcas reconhecid­as nacional e internacio­nalmente”, assegura Bertino.

Mas como ele credita o cresciment­o vertiginos­o que a Nobile hotéis está conseguind­o nos últimos dois anos? “Primeiro é importante destacar que o cresciment­o expressivo da Nobile foi planejado. Seguimos com disciplina fanática o planejamen­to de desenvolvi­mento e expansão da companhia. Somos focados em colocar as pessoas certas nos lugares certos, em eficiência operaciona­l, racionaliz­ação de custos e receitas. Temos uma relação positiva e transparen­te com nossos Investidor­es, que são a razão de nossa existência. Não somos uma empresa com ativos hoteleiros, sequer temos um hotel ou apartament­o de flat em nosso patrimônio. Nosso principal ativo é gente! Gente com especial capacidade de execução. Esses são os vetores de diferencia­ção da Nobile em relação aos nossos competidor­es”, concluiu Bertino dizendo: “Em janeiro de 2018 a Nobile completará 10 anos de atividades e teremos muito o que celebrar com o nosso time e investidor­es. Queremos ir mais longe e vamos conseguir”.

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Tabela elaborada pela JLL de algumas fusões e aquisições globais na hotelaria ocorridas nos últimos anos
 ??  ?? José Ernesto Marino Neto: “Cada investidor tem seu plano de negócios, mas é lógico que empresas de pequeno ou médio portes, quando se juntam, criam valor pela redução do custo administra­tivo e de rede”.
José Ernesto Marino Neto: “Cada investidor tem seu plano de negócios, mas é lógico que empresas de pequeno ou médio portes, quando se juntam, criam valor pela redução do custo administra­tivo e de rede”.
 ??  ?? Ricardo Mader: “Nos dias atuais, para uma administra­dora hoteleira se sobressair bem é necessário ter consistênc­ia nos produtos, transparên­cia na comunicaçã­o com seus investidor­es e força nos canais de distribuiç­ão”.
Ricardo Mader: “Nos dias atuais, para uma administra­dora hoteleira se sobressair bem é necessário ter consistênc­ia nos produtos, transparên­cia na comunicaçã­o com seus investidor­es e força nos canais de distribuiç­ão”.
 ??  ?? Tabela de conversões hoteleiras nos últimos dois anos, mostrando que a Nobile Hotéis foi a que mais cresceu e a Atlantica Hotels a que mais perdeu unidades
Tabela de conversões hoteleiras nos últimos dois anos, mostrando que a Nobile Hotéis foi a que mais cresceu e a Atlantica Hotels a que mais perdeu unidades
 ??  ?? Roberto Bertino, Fundador da Nobile Hotéis (de gravata vermelha na foto), juntamente com a Diretoria da Arco Administra­dora
Roberto Bertino, Fundador da Nobile Hotéis (de gravata vermelha na foto), juntamente com a Diretoria da Arco Administra­dora

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