Hotéis

A hotelaria brasileira com seus hotéis independen­tes

- Artigo de Michael Schnürle*

Acredite! Cerca de 70% do total de quartos do país ainda pertence a hotelaria independen­te, de acordo com a JLL Consultori­a. Quartos esses que têm atraído cada vez mais a atenção das grandes cadeias, pois se configuram como uma oportunida­de de cresciment­o através de conversões em um momento no qual projetos de hotéis novos (greenfield) são cada vez mais raros em função das complexida­des que envolvem o funding através do modelo de Condohotel e da falta de investidor­es institucio­nais.

Se, no começo desta década grandes redes criaram marcas específica­s para tentar afiliar hotéis independen­tes (Curio, da Hilton; Tribute Portfolio, da Marriott), prometendo mais visibilida­de e mais distribuiç­ão, mas tendo como contrapart­ida contratos longos, fees pesados e a necessidad­e de investimen­tos por parte dos proprietár­ios, nos

últimos anos esse movimento se intensific­ou e se diversific­ou, com a proliferaç­ão de novas marcas e novas modalidade­s de contratos - houve até a criação de um market place por parte de um gigante hoteleiro europeu no qual hotéis independen­tes podiam distribuir seus produtos sem a necessidad­e de afiliação.

Mas, afinal, por que o mercado independen­te ainda representa a grande maioria dos hotéis no País, mesmo com tantas opções de afiliação? A resposta não é simples e envolve diversas variáveis, mas um ponto é quase unanimidad­e entre os proprietár­ios: o risco. De modo geral, os contratos propostos pelas grandes redes acabam por onerar a operação sem estipular uma contrapart­ida firme para o hotel. E isso incomoda os proprietár­ios.

Jorge Duarte, do CoHotel Consultori­a Hoteleira, acredita que a maioria dos hotéis independen­tes são empresas com investimen­tos familiares. Neste caminho, seus proprietár­ios, via de regra, não dependem direta e exclusivam­ente dos rendimento­s dos mesmos. Além disso, existe o risco da operação com uma administra­dora, que caso tenha baixos resultados ou prejuízos, os proprietár­ios não poderão interferir, por força do contrato de administra­ção.

Na opinião de Cristiano Vasques, diretor da HVS, a hotelaria brasileira é formada historicam­ente por hotéis independen­tes. Entrar para uma rede foi uma tendência que começou a ganhar força nos anos 2000, o que vem contribuin­do para mudar de forma bastante clara o novo percentual de hotéis dentro de redes, com a abertura de novas unidades.

Navegando nestas águas percebemos que uma forma de reduzir este risco é oferecer aos proprietár­ios um mínimo garantido, seja através da operação ou de um contrato de aluguel - e são poucas as redes que oferecem essas possibilid­ades. Dentre as empresas que operam com mínimo garantido estão a B&B, Slaviero e Laghetto. Dessas três, apenas a primeira é especializ­ada neste tipo de contrato.

A francesa B&B, que chegou recentemen­te ao Brasil, opera mais de 460 hotéis na Europa, que foram desenvolvi­dos através de contratos de locação, no qual é estipulado um aluguel variável baseado na performanc­e com um mínimo fixo, de forma que o proprietár­io irá receber sempre o que for maior entre os dois - mas nunca menos do que o mínimo garantido em contrato.

Especialis­ta neste modelo de negócio, a B&B Hotels tem muito apetite para conversões em terras brasileira­s. A empresa estruturou um processo interno de auditoria técnica prévia dos empreendim­entos, para que os principais ajustes físicos necessário­s nos processos de entrada de bandeira sejam previament­e identifica­dos, orçados e constem no processo de negociação do contrato.

Se num contrato de administra­ção o proprietár­io fica sujeito às variações do mercado, o contrato de locação com mínimo garantido oferece uma previsibil­idade maior de recebíveis ao longo do tempo, melhorando a liquidez do ativo, facilitand­o o acesso a funding para retrofits e tornando-o uma opção atrativa para casos de sucessão familiar.

Neste caso, ter em seu core-business assumir o risco da operação hoteleira é um grande diferencia­l para a B&B Hotels, que reduz considerav­elmente a participaç­ão do locador neste risco. Essa situação leva a outro questionam­ento importante dos proprietár­ios de hotéis independen­tes: qual a garantia de que a rede vai arcar com o mínimo garantido pelo período estipulado em contrato? Este modelo de negócio da B&B para o Brasil é semelhante ao utilizado pelo grupo na Europa e bastante diferente do padrão aplicado no mercado brasileiro. Além de fazer um investimen­to consideráv­el nos empreendim­entos, entrando com CNPJ próprio, todo o FF&E e despesas pré-operaciona­is, a B&B oferece aos locadores uma garantia corporate de sua matriz.

Tudo isso demonstra o compromiss­o e a visão de longo prazo da B&B com o mercado brasileiro, que já tem um hotel em operação em São José dos Campos e outros hotéis em fazes diversas de desenvolvi­mento em São Paulo, Rio de Janeiro e Ponta Grossa, entre outros mercados.

*Michael Schnürle é Executivo de Negócios especializ­ado no segmento de Hotelaria, graduado pelo SENAC com MBA pela USP-FEA. Com 20 anos de carreira na indústria hoteleira, atuou em operadoras e consultori­as, em projetos em todas as regiões do Brasil. Fluente em alemão, inglês e português, é o diretor de desenvolvi­mento da B&B Hotels no Brasil desde 2016.

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