Movimentando novos mercados
O INVESTIMENTO EM CIDADES SECUNDÁRIAS E TERCIÁRIAS SEGUE COMO ESTRATÉGIA DE REDES
Ahotelaria brasileira teve, nos últimos anos, um boom de crescimento fomentado principalmente pelo bom momento econômico pelo qual o país vinha passando e pela realização de grandes eventos esportivos, como a Copa das Confederações de 2013, a Copa do Mundo de 2014, e os Jogos Olímpicos de 2016. Neste contexto, além das cidades-sede dos jogos de futebol e seu entorno, outros mercados começaram a despontar como potenciais geradores de demanda para a hotelaria – os chamados mercados secundários e terciários. Desde então, embora o cenário econômico e turístico do país tenha mudado, ainda se vê que cidades do interior de todo o Brasil têm chamado atenção das grandes redes hoteleiras.
“A interiorização dos investimentos faz parte do processo de crescimento econômico e aumento das oportunidades de negócios hoteleiros no Brasil. Com a retomada de crescimento da economia, novas possibilidades de construções de hotéis surgirão”, avalia Pedro Cypriano, consulting diretor da HotelInvest para a América do Sul, apontando este movimento não como uma tendência momentânea, mas sim um desenvolvimento do setor. As capitais e grandes centros turísticos mantêm sua importância, mas a procura amplia-se para aqueles destinos com economia em desenvolvimento, que têm recebido investimentos privados em setores como a indústria, a infraestrutura e os serviços.
O investimento em mercados secundários e terciários é bastante visível entre as redes hoteleiras. É o caso da Nobile Hotéis, que além das capitais tem trabalhado em destinos como Guarulhos e Ribeirão Preto (SP); Slaviero, com forte presença no Sul; Intercity, com unidades em Anápolis (GO), Vinhedo (SP) e Gravataí (RS); além da Atlantica Hotels, Vert Hotéis e a doispontozero Hotéis. “O desenvolvimento hoteleiro em cidades com grande potencial econômico, além das capitais, é um dos traços da Atlantica em sua trajetória. Tanto ocorre como um movimento natural do mercado, como uma antecipação às necessidades por já termos conhecimento que mercados secundários, em algum momento, passam a exigir uma oferta qualificada – não somente para hotéis, mas demais serviços, como alimentação, vestuários –, além de um aumento da competitividade”, afirma Renato Carvalho, diretor de Desenvolvimento da rede, que deve abrir unidades em Campinas (SP), Maringá (PR), Blumenau (SC) e Pouso Alegre (MG), além da Grande São Paulo.
O que motiva estes investimentos? “O principal fator é o desenvolvimento econômico no médio e longo prazos. O ABC, por exemplo, passa por um momento de dificuldade econômica, mas isto não perdurará pelos próximos cinco anos. Hotelaria é um tipo de negócio que historicamente mostra-se rentável no médio prazo, e devemos implantar novas unidades em regiões/cidades nas quais combinem fatores de oferta e demanda atual/futura adequadas”, explica o diretor. A expectativa é complementar as opções já existentes no destino. Em Guarulhos (SP), o Sleep Inn e o Comfort surgem como opções para um mercado que não possui oferta econômica e midscale internacional. Já Santo André (SP), que terá um Go Inn e um Hilton Garden Inn, aptos a atender, respectivamente, uma demanda corporativa de nível operacional e hóspedes mais exigentes quanto ao serviço e à estrutura.
“Uma política estratégica de preços; distribuição eficiente; praticidade para o hóspede; e até serviços extras, como transporte para o aeroporto mais próximo, podem fazer com que os independentes conquistem seu espaço”
A Vert Hotéis também soma um portfólio que inclui unidades em destinos como Macaé e Campos dos Goytacazes (RJ), Americana e Campinas (SP), e Linhares (ES). “Temos cerca de 20 empreendimentos que se enquadram no perfil das cidades secundárias ou terciárias, sendo deste total seis em operação. Todos nossos contratos firmados nessas cidades tiveram como premissa atender com mais padronização, com programa de fidelidade que beneficie os usuários e com fidelização do trade”, diz Érica Drumond, CEO e responsável pela diretoria de Novos Negócios da rede. Nos destinos onde a Vert já está presente, o histórico de necessidade de novos empreendimentos e mais profissionalização, junto com a infraestrutura e logística necessárias,
foram os fatores que chamaram a atenção da companhia. “Assim, essas cidades foram priorizadas levando também em consideração a oferta de terreno, o mercado local e a demanda por hospedagem”, conta a executiva.
Outra rede que vem apostando em novos destinos, sem esquecer de capitais como São Paulo e o Rio de Janeiro, é a doispontozero. A holding hoteleira que administra as bandeiras Zii Hotel e Arco Hotel inaugurou, somente neste ano, unidades em cidades secundárias e terciárias como Parauapebas (PA), Pouso Alegre (MG), Rondonópolis (MT) e Maracanaú (CE). “Estamos sempre estudando a viabilidade hoteleira em diversas cidades e mercados”, explica Daniela Rocco, gerente comercial e de marketing da doispontozero Hotéis. “Buscamos cidades com crescimento acima da média nacional e sem muita competitividade. Para estabelecer nossos hotéis sempre buscamos praças, principalmente, secundárias e terciárias, além de oportunidades do mercado imobiliário”, completa.
Os independentes
Quem já opera no destino sente o impacto da chegada de redes e bandeiras nacionais e internacionais em mercados que muitas vezes eram dominados pelos empreendimentos independentes. Os novos projetos modificam o panorama de negócios da localidade, por vezes colocando em xeque as unidades instaladas ali. “Hotéis novos chegam com um produto novo e possivelmente com canais de distribuição e estrutura de operação mais eficientes. Os hotéis existentes com possíveis gaps competitivos podem sim perder participação de mercado, sejam os independentes sejam os já afiliados a redes”, avalia Cypriano. O executivo ainda pontua claramente o caminho que deve ser trilhado pelos independentes: “É preciso adequar-se às exigências do mercado”.
Qualidade de serviço, conectividade, transparência nas operações são apenas algumas das demandas dos viajantes. Além destes preceitos básicos, o hoteleiro também deve conhecer o perfil do público que se hospeda ali – principalmente se ele é novo, que vem à cidade por conta da instalação de um novo negócio, por exemplo. Os viajantes corporativos, que estão a trabalho na região, normalmente fazem-se mais presentes nestes destinos. Portanto, uma política estratégica de preços para atrair profissionais e empresas; distribuição eficiente, incluindo canais online; praticidade para o hóspede que fica apenas uma ou duas noites; e até serviços extras, como transporte para o aeroporto mais próximo, lavanderia, entre outros, podem fazer com que os independentes conquistem seu espaço em um cenário de crescente competitividade.