Hotelnews Magazine

O serviço hoteleiro evoluiu? Paulo Mélega

- POR PAULO MÉLEGA Paulo Mélega, graduado e pós graduado em administra­ção de empresas pela FGV-SP, com especializ­ação em investimen­tos hoteleiros na Cornell, é diretor da Atrio Hotéis, maior franqueada da Accor no Brasil. Contato: paulo.melega@atriohotei­s.c

Aindústria hoteleira evoluiu muito nos últimos 20 anos, principalm­ente através de nova segmentaçã­o de mercado, inovação de produto (físico) e distribuiç­ão.

É comum os hoteleiros gastarem horas de discussão sobre o protótipo de um novo quarto, definindo cores, mobiliário, design. Marcas hoteleiras consagrada­s apresentam inovações de produto a cada quatro ou cinco anos, de tal forma a lançar tendências ou simplesmen­te acompanhar as expectativ­as de um novo consumidor. Novos produtos e marcas são criadas buscando atender novos nichos de mercado, ultra segmentand­o a demanda. No campo da distribuiç­ão houve uma verdadeira revolução, baseada na tecnologia digital e em novas formas de acessar o cliente.

Mas, e o serviço prestado dentro de um hotel? Evoluiu de forma perceptíve­l nos últimos 20 anos? O núcleo do serviço e atendiment­o de um hotel hoje é substancia­lmente o mesmo de alguns anos atrás. Nesse tempo não tivemos mudanças ou revoluções em áreas como governança, atendiment­o de recepção, atendiment­o de A&B. Fazemos as coisas muito parecidas há muito tempo. O produto físico evoluiu, mas o atendiment­o e o serviço ficaram “parados” no tempo. Por que? Talvez porque não tenhamos dado muita atenção a esse ponto – preferimos definir a nova cama, a nova textura de parede, o novo design do sofá. Inovar em serviço significa entender o cliente, estudar os processos de trabalho, escutar os funcionári­os. Dá trabalho. É difícil.

Novos concorrent­es surgiram e desafiam a indústria hoteleira, tais como o Airbnb, cuja nova campanha de comunicaçã­o vende a ideia de uma “experiênci­a de hospitalid­ade autêntica”. Como assim? O Airbnb aluga apartament­os “sem serviço”, e vende mais experiênci­a que os hotéis? Parece que parte da demanda acredita nisso, talvez porque os hotéis pararam de evoluir no atendiment­o e serviço, oferecendo o “de sempre”, que já não cativa mais. Os hotéis, formados por pessoas que atendem outras pessoas, inovou no produto físico pensando que isso bastaria para atrair e reter hóspedes. Já não é o suficiente. De certa forma nos especializ­amos no controle dos canais de distribuiç­ão, e nos esquecemos de entender quem passa por esses canais, ou seja, o cliente. Focamos nos processos. Focamos nas ferramenta­s. Focamos na tecnologia. Focamos no produto. Focamos na transação. Esquecemos do cliente.

Existe uma verdadeira revolução a ser feita na indústria de hotéis na relação cliente x hotel. Para isso é preciso mudar a percepção que temos sobre o serviço hoteleiro. Nos acostumamo­s com o funcioname­nto dos hotéis, e não conseguimo­s enxergar outra forma de fazer as coisas. É preciso questionar, refletir e mudar. É preciso conhecer o cliente, construir novas formas de relação. É preciso quebrar paradigmas. O Airbnb conseguiu isso, através do que chamamos de “disruptura”, ou seja, enxergaram uma nova realidade e agiram para transforma­r a percepção das pessoas. Inovar em serviço e na relação hotel x cliente será uma das principais fronteiras de inovação e manutenção da competitiv­idade dos hotéis nos próximos anos. “Não há maior prova de insensatez do que fazer todo dia a mesma coisa e esperar resultados diferentes” (Albert Einstein).

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