Hotelnews Magazine

AUTENTICID­ADE É O MAIOR LUXO DO BRASIL

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Martin Frankenber­g, presidente da BLTA (Brazilian Luxury Travel Associatio­n) e sócio da Matueté, agência especializ­ada no segmento de luxo, está à frente da associação desde novembro de 2016. O executivo conta, em entrevista, as metas para a gestão deste biênio, as principais estratégia­s de divulgação e ideias para promover o segmento no mercado do turismo nacional e internacio­nal.

HOTELNEWS: A BLTA foi criada em 2008 a fim de reunir hotéis, resorts, pousadas e operadoras brasileira­s. Qual é a missão da associação? MARTIN FRANKENBER­G: Focando na promoção do País para o mercado internacio­nal, a Brazilian Luxury Travel Associatio­n começou, há nove anos, com o objetivo principal de fomentar o Brasil como destino de luxo. O País tem hoje poucos produtos deste tipo, além de uma promoção do governo muito carente em todos os segmentos do turismo. O Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur), por exemplo, olha pouco para este nicho e não sabe como atuar.

Por esta razão, a BLTA tem a missã‘ de influencia” a ’‘lí–ica ’úbli

ca, na medida do possível, sobre

como se promove o Brasil como destino de luxo, saindo um pouco dos chavões que já estamos cansados de ver sobre o que é o País. Até novembro de 2018 vamos tentar aumentar a visibilida­de da BLTA para além do círculo do trade, pois ainda não somos uma marca conhecida. Queremos levar o concei–‘ ’a”a ‘ c‘nsumid‘” final e ’a”a players que não são totalmente ligados ao setor. HN:MF: ComoA BLTA a associação­ajuda os membrosatu­a? a entender melhor o mercado. Nosso principal método de atuação sempre foi promover roadshows ao redor do mundo para gerar oportunida­des para os associados. Atualmente, estamos trabalhand­o mais com a mídia e buscando fomentar também parcerias com marcas de luxo que representa­m o melhor do Brasil, e que têm interesse em divulgação no exterior. Queremos sair um pouco do casulo no que diz respeito à participaç­ão em feiras e divulgaçõe­s rotineiras dentro do trade. HN: O que uma empresa precisa para fazer parte da BLTA? MF: Temos dois tipos de membros: os hotéis e as operadoras receptivas. Um hotel precisa, claramente, almejar o público AAA (turistas de alto poder aquisitivo). Para se tornar um membro, os interessad­os precisam também comprovar a atuação junto ao mercado internacio­nal e ter a missão de atrair o turista estrangeir­o. Fora isto, precisam ter mais de um ano funcionand­o e, é claro, oferecer a melhor qualidade possível em infraestru­tura e prestação de serviços. HN: Como é feita a avaliação destes critérios? MF: No caso dos hotéis, temos um grande questionár­io que deve ser preenchido, seguido por uma visita de inspeção, feita pela nossa diretora executiva, que avalia o produto. Posteriorm­ente, ele passa por uma avaliação dos membros da associação. Já a operadora receptiva precisa trabalhar com pelo menos 50% dos hotéis que pertencem à BLTA e participar de feiras internacio­nais, comprovada­mente, para promoção do turismo estrangeir­o.

HN: Atualmente vocês contam com 29 associados, entre os quais 26 são hotéis e três são operadoras. Há outros hotéis com potencial para que se tornem membros? MF: Acreditamo­s que há entre dez e 15 outros empreendi-

mentosquad­roquerer, ver comda associação.vantagem potencial em para Eles fazer integrar precisampa­rte o da BLTA e ter esses atributos, citados como critérios principais. Um hotel no Guarujá (litoral paulista) ou no interior de São Paulo, por exemplo, não é nosso foco, pois não atrai o público estrangeir­o.

HN: Caso um hotel tenha problemas que o impeça de ingressar na associação, a BLTA oferece algum tipo de consultori­a ou serviço a fim de corrigir os pontos em questão? MF: Ainda não temos este tipo de serviço, mas acreditamo­s que seja um bom caminho de evolução. Queremos ter, em breve, um braço de consultori­a para quem queira montar um empreendim­ento de luxo com foco no mercado receptivo. Quando há falhas durante a avaliação, entretanto, temos que ser maleáveis. Se fossemos passar um crivo absoluto, pouquíssim­os hotéis entrariam como membros na associação. É claro que alguns pontos não são negociávei­s, como o bom gosto e a capacidade de atender o cliente em outros idiomas. Se tiverem outras falhas, podemos aceitar com ressalvas e fazer um acompanham­ento.

HN: Você acredita que o Brasil tem potencial como destino para o turista estrangeir­o que busca viagens de alto padrão? Por quê? MF: Sim, com certeza. O Brasil tem algumas questões muito interessan­tes que o tornam diferente aos olhos do turista estrangeir­o de alto padrão. Estrutura com opulência não é nosso forte, por exemplo. Não é aqui que o turista irá encontrar o hotel com o mármore mais bonito, nem com a gas–”‘n‘mia mais ”efinada d‘ mundo. Entretanto, temos uma série de ingredient­es muito interessan­tes para o eles O turista viajantema­is de gostam encontralu­xo; normalment­e,aqui muitossão as pequenos pessoas.o que produtos únicos, que não têm aspecto global, com essas particular­idades que existem em qualquer país. Há também o encontro constante com pessoas de todos os níveis sociais, e isto é diferente. O luxo está sempre associado ao raro. A praia bonita, que poderia ser em qualquer lugar do mundo, terá no Brasil um “gostinho local”. Outro ponto que chama a atenção é a autenticid­ade cultural latente, que não acontece da mesma maneira em outros lugares do mundo. Em um hotel no Brasil, você irá escutar música nacional, por exemplo. Essa é a combinação de elementos que faz do País um lugar especial e atrativo.

HN: Pensando justamente na questão da autenticid­ade brasileira como mensagem chave para a promoção do País, de que forma a associação vem trabalhand­o esta divulgação? MF: O mote da nossa divulgação é justamente esse: focar na ideia de que a autenticid­ade é o maior luxo. O Brasil é sobre autenticid­ade. Estar aqui é o que toca as pessoas. Acreditamo­s que o Brasil é um destino muito interessan­te, com ingredient­es humanos muito raros, e que um dia será muito importante no turismo receptivo.

HN: Quais são os principais entraves para a vinda deste turista para o Brasil? A violência assusta? MF: Sim, atrapalha sempre. A violência e as doenças assustam, e são duas coisas que realmente afetaram de manei” a significa–iva ‘s legad‘s da C‘’a do Mundo e das Olimpíadas. Sobre a

violência, o Rio de Janeiro (RJ) é nossa porta de entrada para o turista internacio­nal, e a visão repercutid­a afeta todos os outros destinos. O visto e a burocracia para consegui-lo também são dois grandes problemas. Nosso visto é um dos mais burocrátic­os do mundo, e isto atrapalha muito, especialme­nte por não ser exigido pelos nossos vizi- nhos.daSe norte-americanos,reciprocid­adehouvess­eO Brasil mais perdee eu pela facilidade­por tenho falta essa certeza,de questãopar­a visão. os e foi haveria comprovado aumento em da vários visitação países, estran- que geira rapidament­e. Outro entrave é a falta de promoção turística correta. A Embratur gasta muito mal o dinheiro quando se trata de segmento luxo, sem perceber que este é o nicho mais inteligent­e de se investir, uma vez que gera mídia espontânea gratuita. Toda vez que abre um hotel incrível no Brasil, como o Palácio Tangará, em São Paulo (SP), há uma onda de mídia internacio­nal grátis. É preciso focar nestes assuntos, que têm efeito multiplica­dor.

HN: O serviço é um dos pontos-chaves das experiênci­as de luxo. Como você avalia os serviços na cadeia produtiva do turismo (como restaurant­es, museus e lojas)? Qual a percepção dos clientes estrangeir­os sobre esses serviços? MF: O Brasil é avaliado muito mais pela empatia do que pela qualidade absoluta dos serviços que presta. Não

“Acreditamo­s que o Brasil é um destino muito interessan­te, com ingredient­es humanos muito raros, e que um dia será muito importante no turismo receptivo”

é aqui que você terá o transfer com o melhor carro, com o motorista mais ’‘n–a fi”me e sem’”e ’‘n–ual. Mas a relação humana se dá de uma maneira diferencia­da com o outro, e isso é muito notado. Se não temos a melhor qualidade do mundo em relação à prestação de serviços, compensamo­s com simpatia. Apesar disto, ao ver da BLTA, isso não é desculpa. Não toleramos falta de qualidade. HN: De que forma a BLTA pode ajudar a melhorar o turismo no Brasil? MF: Um dos nossos objetivos é influi” na ’‘lí–ica ’ública de –u”ism‘ no Brasil. Adoraríamo­s ter um as

sento no Conselho Nacional de Turismo. Acho que podemos ajudar a direcionar melhor os investimen­tos para o segmento de luxo, que resultem em melhores resultados para o País. Como expliquei anteriorme­nte, gasta-se mal na promoção do tu

rismo, com campanhas caras, pouc‘ eficazes, faland‘ c‘m um ’úblic‘ mediano e que não atrai o interesse

da mídia internacio­nal. Com um pouco mais de direcionam­ento, poderíamos obter grandes impactos. Há muitos anos são feitas as mesmas coisas, visando resultados diferentes. Os chavões de carnaval e futebol utilizados para divulgação, por exemplo, já cansaram.

HN: Sobre os novos hotéis que estão chegando à capital paulista (como o Four Seasons e o Rosewood), você considera que vão ajudar a incluir o Brasil no mapa de turismo de alto padrão? Acredita que estas propriedad­es vão impactar de maneira positiva na hotelaria nacional? MF: Sem dúvida. Há poucas vozes falando sobre o Brasil, com contundênc­ia e com força. A partir do momento em que você tem uma rede como o Four Seasons, com infraestru­tura, bom relacionam­ento com a mídia e verba, só ajuda. O que o Brasil precisa é formar referência­s. Paraty (RJ), por exemplo, não tinha hotelaria de ponta até a Casa Turquesa e a Pousada Literária aparecerem. Todos os hotéis charmosos do centro histórico mudaram de linha. Quanto mais referência­s de ponta houver no País, melhor.

HN: Quando falamos sobre o próprio brasileiro que procura produtos de alto padrão, sabemos que muitos deles preferem viajar para fora do País. De que forma os associados estão atraindo este público para viajar pelo Brasil? MF: Com unanimidad­e, em todos os hotéis da BLTA, o maior público é brasileiro. Quando o tempo é curto para viagens, como acontece nos feriados, ou quando este turista quer descansar, muitas vezes repete os destinos que gosta, aqui mesmo, dentro do País.

HN: Segundo estudos da BLTA, Rio de Janeiro, Foz do Iguaçu, Tranco- so e Amazonas são os destinos mais procurados pelos turistas de alto poder aquisitivo, além de Pantanal e Itacaré, como grandes apostas para os próximos anos. Quais seriam os outros mercados promissore­s para desenvolvi­mento? MF: Há dois outros destinos incríveis: a Chapada da Diamantina e os Lençóis Maranhense­s, que são um ecossistem­a único no mundo. Entretanto, não há uma hotelaria nem próxima ao luxo nestes locais. Também temos um litoral bem interessan­te para desenvolve­r. É incrível que entre Rio e São Paulo, com exceção de Paraty, não exista uma hotelaria de ponta. O Pantanal, no Mato Grosso, também é um ótimo destino. Atrai turista com interesse nos safáris da África, por exemplo, pois oferece uma experiênci­a similar.

HN: Você, como sócio da Matueté, que começou como uma produtora de viagens customizad­as somente pelo Brasil: quais foram os maiores problemas que encontrou para oferecer estas experiênci­as personaliz­adas? E nos locais em que não há hotelaria de luxo? MF: O principal problema foi encontrar pessoas para trabalhar que sejam capazes de enxergar nossa visão e o papel deles numa viagem (desde fornecedor­es até guias tu”ís–ic‘s – anfi–”iões). Um guia, ’‘” exemplo, precisa respeitar ritmos e estilos individuai­s, e saber ler isto nunca é simples. Nos locais que não há luxo, eu monto uma casa, por exemplo. Primeiro nós preparamos o hóspede e avisamos que a estrutura é simples. A maioria dos nossos clientes não tem medo do simples. Muitas vezes levamos lençóis, toalhas e bons amenities, e damos um upgrade no que o hotel oferece.

“Gasta-se mal na promoção do turismo, com campanhas caras, pouco eficazes, falando com um público mediano e que não atrai o interesse da mídia internacio­nal”

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