Hotelnews Magazine

ESSA TAL HOSPITALID­ADE

COMO DEFINIR E APLICAR ESTE CONCEITO QUE É A ALMA DA HOTELARIA

- JULIANA BELLEGARD

Ato de hospedar; acolhida de hóspedes. Recepção ou tratamento afável, cortês; amabilidad­e, gentileza. Derivada do latim, a palavra h‘s’i–alidade –em definições “ue c‘nve”gem para a ideia de acolhiment­o e bem receber. Pensando na prática, o conceito está intimament­e ligado com a hotelaria, e é discutido por ’”‘fissi‘nais da á”ea, c‘m‘ é ‘ cas‘ de Ge”aldo Castelli, criador e diretor da Castelli Escola

Superior de Hotelaria. Em seu livro Ô de Casa! Hospitalid­ade: uma vantagem competitiv­a - o segundo sobre o tema - ele aponta que este conceito gira em torno dos atos de receber, hospedar, alimentar, entreter e despedir. “A hospitalid­ade consiste em proporcion­ar o bem-estar mútuo, mediante a prática destas cinco ações, e da vivência da atitude hospitalei­ra em ambien

tações apropriada­s, dos diferentes espaços sociais”, define ele em seu liv”‘.

A professora e pesquisado­ra de Turismo

na Universida­de de São Paulo (USP) Mariana Aldrigui retoma algumas questões históricas atreladas ao tema. Ela destaca que “há relatos que colocam a hospitalid­ade como uma prática vinculada à religião e às crenças - a necessidad­e de tratar bem o estranho, na expectativ­a de receber o mesmo tratamento quando a situação se inverte, ou também como resposta ao medo de que este estranho fosse, na verdade, um deus disfarçado testando sua disposição para a bondade”. Esta relação está presente em nossa cultura até hoje: da mitologia grega e da Bíblia à série Game of Thrones, o ato de bem receber em sua casa é visto não somente como uma virtude, mas como um dever moral e sagrado. E a hotelaria é, por excelência, a indústria da hospitalid­ade. “Esta é a habilidade de entender, prever e atender as necessidad­es de uma pessoa ou um grupo de pessoas que você está servindo. São princípios subjacente­s os valores que impulsiona­m o comportame­nto e a interação social, como a empatia, a generosida­de, a mente aberta e o respeito. Isto permanece imutável ao longo do tempo, enquanto que a ideia de hospitalid­ade evoluiu de algo focado em protocolos para a criação de experiênci­as”, aponta Michel Rochat, CEO da Ecole Hôtelière de Lausanne (EHL). Marcelo Picka Van Roey, coordenado­r geral dos hotéis-escola Senac, explica que “o conceito da hospitalid­ade está conectado com qualquer tipo de hotel, independen­te da categoria ou segmento”. Para ele, hotelaria e hospitalid­ade são diretament­e ligados e em todos os aspectos da operação ela deve aparecer. “Em qualquer contato dos hóspedes com o hotel, funcionári­os e até mesmo por meios virtuais como site, mídias

sociais, aproximaçã­oforma Observando­exclusiva,entre outros,e o personaliz­ada,clienteo é mercado,possívelse sinta fazer customizad­a”,realmente percebe-secom que atendido,exista diferenças­diz. uma de enormesda qualidaden­os modosdo atendiment­ode receberà manutenção­dos empreendim­entos,das instalaçõe­s. “Não acredito que exista hotel sem hospitalid­ade, porém, alguns entregam mais que outros. Criar e praticar um conceito corretamen­te dá trabalho e é um exercício de longo prazo, e muitos querem o imediatism­o. Outros buscam copiar conceitos bem sucedidos, mas “ue n‘ final das c‘n–as, nã‘ se encaixam n‘ ‘”çamen–‘ e nem na promessa de entrega”, coloca Aline Silva, adviser e criadora da Hospitalid­ade Sem Roteiro. A amabilidad­e à “ual a ’alav”a se ”efe”e, ’‘” vezes, fica es“uecida. D‘minic Ladet, consultor e proprietár­io da DOM Creative Consulting, é da opinião de que existem sim empreendim­entos sem hospitalid­ade. “A gente vê isso no dia a dia. Você chega no hotel e não é recebido nem com um sorriso, um atendiment­o gentil”, relata ele, referindo-se àquele sentimento de que somos mais um número de quarto na fila da ”ece’çã‘, es’e”and‘ ‘ check-in. Em um ponto, todos os especialis­tas concordam: a ideia, dentro da hotelaria, está ligada à experiênci­a que seu hotel proporcion­a. A personaliz­ação do atendiment­o pode ser um detalhe importante. O consultor Jayme Drummond explica que a hospitalid­ade aplica-se a tudo dentro de um hotel. “Desde a escolha das cores, do mo-

biliário, daquilo que é proposto para receber os viajantes, nos pequenos detalhes de cortesia, ou dos amenities. Tudo para que a pessoa possa ter uma experiênci­a cada vez mais local”, diz. “A hotelaria de luxo trabalha muito bem com a atenção ao detalhe para agradar o hóspede. Mas isso pode ser aplicado em qualquer segmento. Qual o custo de um bilhete de boas vindas escrito à mão, uma fruta fresca ou uma água cortesia no apartament­o?”, comenta Ladet. Ações simples, como dirigir-se ao hóspede pelo nome, atender com um sorriso ou mesmo oferecer pequenos mimos podem impactar a percepção que o cliente tem do seu empreendim­ento. “Faça uma parceria com alguma loja próxima ao seu hotel, uma lojinha de chocolates por exemplo. É uma gentileza que você pode ofertar para os viajantes”, sugere ele.

E na prática?

“Uma das grandes revoluções dos serviços se dará quando as empresas incorporar­em o paradigma da hospitalid­ade” – Geraldo Castelli

Mais do que somente um conceito, a hospitalid­ade é uma prática diária que impacta diretament­e nos resultados dos meios de hospedagem. “As empresas hoteleiras, pelo fato de receber, hospedar, alimentar, entreter as ’ess‘as, sã‘ ‘”ganizações, necessa”iamen–e, anfi–”iãs. Em face diss‘, ’”ecisam c‘m’‘”–a”-se c‘m‘ –al”, afi”ma Geraldo Castelli. Principalm­ente nas redes nacionais e nos hotéis independen­tes, nos quais o hoteleiro tem mais autonomia, a “atitude hospitalei­ra” à qual Castelli se refere torna-se um diferencia­l. “Esse agir agrega um valor singular à plataforma estratégic­a da organizaçã­o, f‘”–alece a fidelizaçã‘ d‘s clien–es e c‘n–”ibui ’a”a a ampliação da demanda”, aponta ele. Como, então, colocar em prática o discurso do bem ”ecebe”? Definind‘ di”e–”izes ’a”a sua ‘’e”açã‘, engaja”

“É importante que os gestores de hotéis de todos os portes tenham em mente que entregar diariament­e um serviço com a caracterís­tica do bem receber exige dedicação e atualizaçã­o” – Marcelo Picka Van Roey

os colaborado­res e trabalhand­o para que a operação do h‘–el ”efli–a seus val‘”es. “O ’”imei”‘ ’ass‘ ’a”a a’licar a hospitalid­ade é repensar os objetivos do negócio e alinhar três pontos importante­s: promessa de entrega, c‘lab‘”ad‘”es e ‘ ’úblic‘ final. A ’a”–i” daí, enc‘n–”a” os agentes desta transforma­ção e desenhar as novas ex’e”i²ncias. Nã‘ é mais suficien–e ‘fe”ece” excelente infraestru­tura, qualidade e entretenim­ento”, aponta Aline Silva. “T”a–a-se de c‘ns–”ui” uma fil‘s‘fia de se”viço, atendiment­o e estabelece­r padrões que possam ser compreendi­dos, treinados e replicados de maneira natural, de modo que o prestador acredite no que fala e faz - isso leva o cliente a enxergar o compromiss­o da equipe. Funcionári­os que entendem seu papel sabem como agir para criar o ambiente ideal para o cliente”, explica Mariana Aldrigui. A proposta de Geraldo Castelli para este cenário, no qual o pragmatism­o pode fazer uma grande diferença para o hoteleiro, é o desenvolvi­mento do programa Em’”esa Anfi–”iã. Em um ’”imei”‘ m‘men–‘, a e“ui’e constrói um banco de conhecimen­tos sobre a ideia de hospitalid­ade e a abrangênci­a desta prática. Em seguida, desenvolve-se a Carta de Hospitalid­ade, que lista os saberes e fazeres essenciais daquele hotel. “Na década de 1970, o marketing foi a grande aposta dos meios de hospedagem. Nos anos 1990, a empresa cidadã. Agora, estamos partindo para a experiênci­a, para as empresas anfi–”iãs”, ex’lica ‘ ’”‘fess‘”. “Uma das g”andes ”ev‘luções dos serviços se dará quando as empresas incorporar­em o paradigma”, completa. “Os produtos hoteleiros continuam mudando e os hóspedes também, mas a essência da hospitalid­ade, no meu ponto de vista, é exatamente a mesma”, aponta Marcelo Picka Van Roey. Sendo assim, explica ele, é importante que os gestores - seja o gerente de uma unidade de queno marca hotel internacio­nal, independen­te seja- tenhamo proprietár­ioem mente de queum pe- entregar diariament­e um serviço com esta caracterís­tica do bem receber exige dedicação e atualizaçã­o. Dominic Ladet também destaca o papel do hoteleiro e do gerente na prática da hospitalid­ade no dia a dia. “Vejo muitos executivos que não se interessam por receber o público, praticar estas gentilezas, estão focados apenas em números. O hotel pode ser uma fábrica de carros, para eles

tanto faz”, conta. “A hotelaria tem sim aspectos importante­s bastante técnicos. Mas receber alguém bem não é –ã‘ difícil assim. Quand‘ –em‘s um hós’ede em casa, ‘ tratamos com o maior cuidado, sempre buscando agradá-lo, sabendo o que gosta de comer, por exemplo. É daí que se começa”, diz o consultor. O treinament­o da equipe, seja uma conversa informal com o colaborado­r ou o exemplo na prática, são essenciais para que o conceito seja aplicado. “O primeiro passo são as pessoas, se começa na seleção e formação

dos colaborado­res, e também na maneira como os recebem‘ s”, afi”ma Jayme D”umm‘nd. “Essa h‘s’i–alidade se aplica internamen­te? Tem empresas que valorizam

mais este aspecto, outras menos”, completa.

 ??  ??
 ??  ?? Aline Silva
Aline Silva
 ??  ?? Jayme Drummond
Jayme Drummond
 ??  ?? Dominic Ladet
Dominic Ladet
 ??  ??
 ??  ?? Geraldo Castelli
Geraldo Castelli
 ??  ?? Marcelo Picka
Marcelo Picka
 ??  ?? Mariana Aldrigui
Mariana Aldrigui
 ??  ?? Michel Rochat
Michel Rochat

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil