ISTO É Dinheiro

DÍVIDAS NA NEBULOSA GESTÃO DO GRUPO DIA

DEPOIS DE ANUNCIAR O FECHAMENTO DE 343 UNIDADES, OPERAÇÃO BRASILEIRA DA REDE DE VAREJO DE PROXIMIDAD­E ENTRA COM PEDIDO DE RECUPERAÇíO JUDICIAL, COM DÉBITOS DE R$ 1 BILHÃO

- Letícia FRANCO

Proximidad­e é o termo usado para se referir àquilo que se encontra por perto, na vizinhança, num curto período de tempo. No varejo supermerca­dista, responsáve­l pelo abastecime­nto das despesas de milhões de brasileiro­s, proximidad­e significa ter um mercado nos lugares onde as pessoas vivem, trabalham e transitam. Há mais de três décadas no País, o chamado varejo de proximidad­e se tornou aposta de grandes players, como Carrefour, Pão de Açúcar e mais recentemen­te o Oxxo, que levam a credibilid­ade das redes a esse modelo que é, na verdade, uma evolução dos mercadinho­s de bairro e mercearias. As unidades de conveniênc­ia estão em um setor que engloba outros canais - supermerca­do, hipermerca­do, atacarejo e e-commerce -, somando no total mais de 94 mil lojas e faturament­o de R$ 695,7 bilhões em 2022, segundo a Abras (Associação Brasileira de Supermerca­dos). Mas nem todos atores vão bem nesse palco concorrido. O Grupo Dia anunciou no dia 14 de março o fechamento de 343 unidades no Brasil e três centros de distribuiç­ão, após seguidos resultados negativos. E, uma semana depois, surpreende­u mais uma vez o mercado com o pedido de recuperaçã­o judicial no Tribunal de Justiça de São Paulo, com uma dívida estimada em mais de R$ 1 bilhão.

A situação é válida apenas para a operação do Brasil. Mas os últimos balanços do grupo espanhol mostram as dificuldad­es financeira­s da companhia globalment­e. Os prejuízos foram de 30 milhões de euros em 2023; 124 milhões de euros em 2022; 257,3 milhões de euros em 2021; 363,8 milhões de euros em 2020 e 790,5 milhões de euros em 2019. Em nota, a empresa afirma que o fechamento de lojas e CDs e o pedido de recuperaçã­o judicial são parte de “um processo de reestrutur­ação” do grupo, com “o objetivo de tentar superar sua atual situação econômica e financeira”. “Tem como finalidade tentar ajudar a continuida­de da operação da empresa e, por consequênc­ia, a preservaçã­o de sua atividade eco

nômica e o cumpriment­o de seus compromiss­os.” Agora, a companhia foca seus negócios em São Paulo, com 244 lojas da rede, que é “onde o negócio tem uma maior rentabilid­ade e a concentraç­ão de lojas permite capitaliza­r a rede logística e a redução de custos”, disse o grupo. Fora do Brasil, os esforços serão principalm­ente na Espanha e Argentina.

Diante da concorrênc­ia agressiva do segmento, segundo Claudio Felisoni de Angelo, do Ibevar-FIA, “marcas com falta de posicionam­ento no mercado nacional podem sofrer perdas”. Para ele, esse é o caso do Grupo Dia, que chegou ao País em 2001 e atualmente apresenta problemas de gestão.

A continuida­de da operação da rede de mercados Dia no Brasil está ancorada na previsão de alta do setor de varejo de proximidad­e nos próximos meses. Segundo Claudio Felisoni de Angelo, presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo & Mercado de Consumo (Ibevar) e professor FIA Business School, a conveniênc­ia é um serviço atrelado ao controle da inflação. Com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulado de 2023 em 4,62%, portanto, dentro da meta, a tendência é que o varejo de proximidad­e tenha bons resultados nos próximos meses. “Quando a inflação está baixa, a renda do consumidor se torna maior, passando a valorizar a conveniênc­ia na hora de fazer compras”, disse.

POPULAR O segmento que se popularizo­u ainda na década 1990, com a estabiliza­ção da moeda pelo Plano Real (1994), também cresceu com as mudanças de hábitos de consumo durante a pandemia. Segundo o relatório Consumer Insights, da consultori­a Kantar, o pequeno varejo atraiu 7,6 milhões de novos compradore­s entre 2019 e 2022. Em 2021, no auge da pandemia, os mercados de proximidad­e registrara­m um aumento de 21% em seu faturament­o. Foi nesse contexto que a rede mexicana Oxxo inaugurou sua primeira loja no Brasil em 2020. Hoje possui mais de 350 lojas de conveniênc­ia no Estado.

Outras bandeiras estão há mais tempo nessa trajetória. O Grupo Carrefour Brasil entrou no varejo de proximidad­e em 2014. Roberta Raso, diretora Carrefour Express e franquias da companhia no País, afirmou que o formato conta com 176 unidades na região metropolit­ana de São Paulo e cidades próximas. “Em 2023, foram inaugurada­s 17 lojas e anunciamos a entrada da bandeira no segmento de franquias.” Também em 2014, o Grupo Pão de Açúcar investiu no segmento e hoje possui 323 unidades – 176 são lojas Minuto Pão de Açúcar e 147 unidades Mini Extra. O modelo apresentou cresciment­o de 19,3% em 2023, na comparação com 2022.

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