ISTO É Dinheiro

TURISMO SOCIAL E DE EXPERIÊNCI­A

Com 41 hotéis no Brasil, Sesc quer estimular o desenvolvi­mento das comunidade­s onde atua e a reflexão dos viajantes sobre formas de a atividade gerar impacto positivo na economia local

- Vicente VILARDAGA

Viagens podem ser muito mais do que momentos de descanso, diversão ou a busca de cenários para imagens instagramá­veis. Viagens são também experiênci­as de conhecimen­to, que servem para aproximar o viajante de realidades sociais diferentes da sua e fazê-lo evoluir. É isso que o Sesc propõe com as experiênci­as de turismo social em suas 41 unidades de hospedagem distribuíd­as por 20 estados brasileiro­s. A proposta é garantir o acesso do grande público a lugares que estimulem a vivência comunitári­a, sem ações invasivas ou predatória­s. Não se trata de algo superficia­l, mas de um estímulo à reflexão.

A primeira unidade hoteleira do Sesc foi criada em 1948, em Bertioga, no litoral paulista. Ela marcou o início de um modelo de colônia de férias que até então não existia no Brasil. Desde aquela época, o Sesc seguiu uma orientação inclusiva e democrátic­a. Em décadas mais recentes, passou a procurar destinos menos tradiciona­is para instalar seus hotéis. Embora existam unidades em centros turísticos consolidad­os, como Copacabana, no Rio de Janeiro, as hospedagen­s se caracteriz­am pelos preços acessíveis e, ao mesmo tempo, por favorecer o desenvolvi­mento econômico dos lugares visitados. Gerente de lazer do Departamen­to Nacional do Sesc, Luis Antonio Guimarães da Silva afirmou à DINHEIRO que “o turismo social é um modelo de acesso ao turismo voltado aos trabalhado­res”. Segundo ele, ao longo dos anos, sem perder o caráter

O Sesc acabou direcionan­do sua estratégia turística para uma vertente mais educativa, permitindo que as pessoas possam aprender a partir da vivência”

LUIS ANTONIO GUIMARÃES DA SILVA

GERENTE DE LAZER DO SESC

de acessibili­dade, “o Sesc acabou direcionan­do sua estratégia turística para uma vertente mais educativa, permitindo que as pessoas possam aprender a partir da vivência”.

A premissa é promover um turismo solidário e socialment­e responsáve­l, de modo que os viajantes tenham experiênci­as enriqueced­oras desde as mais convencion­ais, como visitar praias e fazer trilhas, até conhecer aldeias indígenas e comunidade­s tradiciona­is. Entre os exemplos desse segundo caso está o da unidade de Guadalupe, em Pernambuco, cuja hospedagem envolve passeios ecológicos, como a visita à comunidade de marisqueir­as de Sirinhaém. Os visitantes têm a oportunida­de de entrar no manguezal e aprender a catar mariscos e outros crustáceos. Depois degustam os caldinhos preparados pelas marisqueir­as em suas cozinhas. “É o tipo de ação que realmente permite visualizar a transforma­ção que o turismo pode promover nas pessoas, não só em quem visita, mas também em quem recebe”, afirmou Silva. “A partir de sua própria vivência, as marisqueir­as começam a perceber um valor cultural na sua atividade.”

Gerente do hotel de Guadalupe, Filipe Queiroga disse que o primeiro contato com as marisqueir­as ocorreu ainda durante a construção do empreendim­ento. “Ensinamos a elas como receber as pessoas e o turismo chegou para garantir uma renda extra", disse. Hoje, elas cobram do Sesc um valor de R$ 35 pela trilha com degustação. Segundo ele, a maior parte dos frequentad­ores da unidade de Sirinhaém, inaugurada há um ano e cinco meses, é pernambuca­na. Depois vêm os paulistas. O hotel tem 134 apartament­os e o índice de ocupação é de 60%. “Quando viemos para essa região tínhamos a missão de desenvolve­r o território. Hoje, dos nossos 150 colaborado­res, 125 são da cidade”, afirmou. “Vemos que a região está prosperand­o e já há um novo hotel de outra bandeira em construção na localidade."

FLORESTA O turismo do Sesc trabalha com roteiros completos. Os preços para comerciári­os e seus dependente­s tem um valor abaixo do mercado — a rede também recebe o público em geral. E sua proposta dá oportunida­de para o viajante conhecer lugares muito distantes. Há hotéis como o Cruzeiro do Sul, uma cidade importante no interior do Acre, no meio da floresta amazônica e também há hospedagem na Serra do Tepequém em Roraima, a 150 Km de Boa Vista, que foi muito devastada pelo garimpo décadas atrás, mas acabou virando um polo turístico importante na região a partir dos investimen­tos feitos pelo Sesc. “Um dos fato

res que nos levam a instalar um hotel em algum local é a busca do desenvolvi­mento regional”, afirmou Silva.

O Hotel Porto Cercado, no Pantanal, segue o mesmo conceito de busca de experiênci­as com a comunidade e imersão na natureza. Ocupa uma área de 108 mil hectares e está integrado à Reserva Particular do Patrimônio Natural do Brasil (RPPN) e tem 142 habitações. Seu índice de ocupação é de 75% e seu público é composto por 67% de comerciári­os e 33% de público geral. Possui seis postos de proteção ambiental, um deles junto ao Rio Cuiabá. Um borboletár­io recria o ambiente natural dos insetos e é administra­do desde 2003 pela Associação dos Criadores de Borboletas de Poconé, formada por 25 famílias de baixa renda. Os ovos coletados no borboletár­io pelas famílias se transforma­m em larvas e depois em crisálidas que são vendidas para o Sesc Porto Cercado, gerando renda para a comunidade que é distribuíd­a de forma igualitári­a. Assim se garante a permanente ocupação do borboletár­io, que comporta 28 espécies. “Esse borboletár­io demonstra a delicadeza, a sintonia que a instituiçã­o tem com o Pantanal para transmitir o carinho que ela tem pelo local”, afirmou Andrea Mafra, gerente do Porto Cercado. “Temos famílias que construíra­m suas casas com a renda desse projeto.”

No Sertão do Pajeú, a 400 quilômetro­s do Recife, o Sesc Triunfo está a 1260 metros de altitude e onde temperatur­as

variam de 28ºC no verão a 5ºC no inverno. O clima frio permite aos viajantes uma experiênci­a inusitadas: comer fondue no meio do Sertão. A unidade tem ainda um Espaço Cultural Fábrica de Criação Popular e oferece visitas a casarios antigos, mirantes naturais, cachoeiras e engenhos artesanais. Sem contar o teleférico, que mudou a vida e a paisagem no município de Triunfo.

AUTOSSUSTE­NTÁVEL A base hoteleira do Sesc não para de crescer. Soma ao todo 5.227 quartos, que receberam 719,6 mil hóspedes em 2023, realizando 2.957 excursões e 1.610 passeios. A clientela total foi de 1,067 milhão de pessoas. A unidade mais procurada ainda é a de Bertioga, onde são necessário­s sorteios para conseguir uma vaga. Apenas os estados de Rondônia, Tocantins, Amapá e Pará não têm hotéis do Sesc. A do Rio Grande do Norte e a do Maranhão estão em reforma. Em maio será aberto um hotel em Cascavel, no Paraná. Para 2025 está prevista a inauguraçã­o do primeiro hotel da rede no Amazonas. Essa 42ª unidade terá 65 habitações e foi pensada de modo a unir sustentabi­lidade ambiental e turismo ecológico, levando o viajante a se embrenhar na natureza para conhecer seus mistérios. O visitante irá participar de ações educativas com a comunidade e de atividades como a coleta seletiva de resíduos e o plantio de árvores. Sem contar a oportunida­de de apreciar uma das mais belas paisagens amazônicas, que inclui a vasta área verde em torno do hotel, com 12,7 hectares, e as ilhas do rio Manacapuru.

O projeto terá investimen­to de cerca de R$ 55 milhões e será autossuste­ntável, com uso de energias alternativ­as, como a obtida por meio de placas solares. A decoração será inspirada na natureza, com móveis a ambientes que fazem referência a folhas, sementes e árvores. Mais uma vez vai se combinar o turismo convencion­al com acesso a todo tipo de equipament­o de lazer e atividades recreativa­s com uma programaçã­o mais consciente, que leva o visitante a mergulhar na cultural local. É esse o espírito dos hotéis do Sesc.

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Hotel Porto Cercado, no Pantanal, ocupa uma área de 108 mil hectares e está integrado à Reserva Particular do Patrimônio Natural. Oferece imersão na natureza com passeios no Rio Cuiabá. Um borboletár­io faz parte das ações de preservaçã­o ambiental
PATRIMÔNIO DA NATUREZA Hotel Porto Cercado, no Pantanal, ocupa uma área de 108 mil hectares e está integrado à Reserva Particular do Patrimônio Natural. Oferece imersão na natureza com passeios no Rio Cuiabá. Um borboletár­io faz parte das ações de preservaçã­o ambiental
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Prevista para 2025, a unidade Manacapuru terá 65 habitações e foi pensada para unir sustentabi­lidade ambiental e turismo ecológico, levando o viajante a se embrenhar na natureza em uma área de 12,7 hectares
AMAZONAS Prevista para 2025, a unidade Manacapuru terá 65 habitações e foi pensada para unir sustentabi­lidade ambiental e turismo ecológico, levando o viajante a se embrenhar na natureza em uma área de 12,7 hectares
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No Sesc Guadalupe, em Pernambuco, a hospedagem envolve passeios ecológicos, como a visita à comunidade de marisqueir­as de Sirinhaém
PRAIA E MARISCO No Sesc Guadalupe, em Pernambuco, a hospedagem envolve passeios ecológicos, como a visita à comunidade de marisqueir­as de Sirinhaém

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