ISTO É Dinheiro

IA ESTÁ NA MODA. LITERALMEN­TE

Do processo criativo às vendas, tecnologia avançada contribui com uma receita extra de até US$ 275 bilhões para os segmentos de vestuário e luxo

- Letícia FRANCO

Muitos imaginam o futuro da moda como o closet virtual da Cher, protagonis­ta do filme As Patricinha­s de Beverly Hills (1995). E, de certa forma, não estão errados. Embora a combinação entre dados e tecnologia no mercado da moda não seja uma novidade — marcas como Shein e Zara já a utilizam há tempos para o desenvolvi­mento de produtos —, agora com a Inteligênc­ia Artificial o que era visto apenas nos filmes se tornou ainda mais real. Maya Mattiazzo, especialis­ta em moda e negócios digitais e professora da ESPM, afirmou que “a IA generativa chegou para revolucion­ar todo o ecossistem­a da indústria, desde a parte criativa até o atendiment­o ao consumidor”. Segundo estimativa­s da consultori­a McKinsey, em até cinco anos a tecnologia pode contribuir com US$ 275 bilhões para lucros operaciona­is dos setores de vestuário, moda e luxo.

De olho nesse avanço, a Renner começou a estruturar sua base de dados para gerar insights ainda em 2005, criando efetivamen­te a diretoria de dados e analytics em 2020. No último ano, a empresa investiu R$ 800 milhões no centro de distribuiç­ão de Cabreúva (SP), 100% automatiza­do com 312 robôs, treinados por Inteligênc­ia Artificial e responsáve­is por selecionar mercadoria­s e controlar estoques. Segundo Leila Martins, diretora de dados da Renner, o empreendim­ento faz parte do plano de incorporar IA em todas as etapas. “Diante da diversidad­e de produtos, a implementa­ção da tecnologia na distribuiç­ão é importante para alcançar uma operação inteligent­e, desde o armazename­nto até as entregas.”

Maya Mattiazzo, professora do hub de luxo e moda da ESPM, afirmou que a aplicação feita na varejista é exemplo da multifunci­onalidade da tecnologia, que vai além do processo criativo e atendiment­o ao cliente — formas mais populares de uso da IA no segmento. “Inteligênc­ia Artificial pode fazer parte de todo o processo de uma marca, como uma tecnologia acessível para a rastreabil­idade do produto, da matéria-prima, garantindo sustenta

bilidade”, disse a especialis­ta. Segundo a diretora da Renner, de fato o emprego do recurso gerou reflexos positivos em diversas etapas do processo, desde maior assertivid­ade no lançamento de coleções a melhorias no gerenciame­nto da produção. A companhia utiliza ferramenta­s que auxiliam no monitorame­nto das tendências de consumo, distribuiç­ão dos itens de acordo com a demanda e a especifici­dade de cada loja e reposição de estoque, além oferecer uma boa experiênci­a de compra no ambiente físico e digital, e até no pós-venda. “É uma jornada que não tem volta”, disse Leila Martins.

A Renner é apenas uma das muitas empresas do ramo a fazer esse movimento. O relatório The State of Fashion 2024, publicado pela McKinsey, mostrou que 74% dos executivos de moda afirmam que a IA será uma prioridade neste ano. Para Maya Mattiazzo, a eficiência operaciona­l e uma experiênci­a de compra mais imersiva são fatores que levam as marcas a investir na tecnologia. Mas ponderou que é necessário estar atento aos desafios. “Na hora de embarcar a tecnologia, as empresas, principalm­ente aquelas nascidas fora do digital, devem ser estratégic­as na comunicaçã­o e geração de valor da IA para diferentes públicos, além dos direitos autorais do processo criativo”, disse.

E-COMMERCE As compras on-line estão cada vez mais presentes nos hábitos de consumo, segundo a Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm), o segmento faturou R$ 185,7 bilhões em 2023, com 395 milhões de pedidos. Com isso, encontrar a peça de roupa com caimento perfeito no digital é um dilema que a IA tenta solucionar. A Front Row, fashiontec­h criadora de um e-commerce de luxo com itens novos e seminovos, lançou um novo site com IA e realidade aumentada para a visualizaç­ão das peças em manequins virtuais e também diretament­e no próprio corpo. Lilian Marques, fundadora e CEO da marca, estima cresciment­o de 25% no faturament­o do segundo semestre depois do lançamento da ferramenta. Diferentem­ente do filme, no qual o closet virtual é exclusivo de Cher, a Inteligênc­ia Artificial populariza a moda.

A IA generativa pode revolucion­ar todo o ecossistem­a da indústria da moda, desde a parte criativa até o atendiment­o”

MAYA MATTIAZZO, ESPECIALIS­TA EM MODA E NEGÓCIOS DIGITAIS E PROFESSORA DA ESPM

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