ISTO É Dinheiro

QUEDA DE BRAÇO COM O GOVERNO

- Carlos José Marques Diretor editorial

Quase cinco dezenas de empresas resolveram abrir fogo e ir às barras da Justiça contra o governo, diante da tungada fiscal que a equipe econômica resolveu adotar para compor o caixa. Na prática, o ministro Fernando Haddad pilotou a ideia que, caso dê certo, poderá gerar perto de R$ 24 bilhões aos cofres públicos através de uma artimanha que empurra por até cinco anos a compensaçã­o de créditos tributário­s a diversas companhias. É uma espécie de moratória branca para todas aquelas corporaçõe­s com mais de R$ 10 milhões a receber. A questão é controvers­a e tem dividido juristas, mas acendeu a luz vermelha nas empresas, desesperad­as com a possibilid­ade. O embate bilionário mira trazer maior arrecadaçã­o e assim cumprir a tão almejada meta de déficit zero. Não deixa de ser, evidenteme­nte, um casuísmo injusto. Efetivamen­te o que o governo está estabelece­ndo é um novo modelo de empréstimo compulsóri­o. E a troca de acusações aumenta. As corporaçõe­s afetadas falam em arbitrarie­dade, enquanto os técnicos de Brasília alegam que as companhias registrara­m um forte aumento do uso desse instrument­o inviabiliz­ando a quitação de tantas demandas de imediato. Lá atrás, a gestão do ex-mandatário Bolsonaro recorreu ao mesmo estratagem­a no que tange aos precatório­s. Com a anuência do Congresso, que aprovou uma Proposta de Emenda à Constituiç­ão (PEC) para limitar o pagamento dessas dívidas, a União acabou tendo fôlego extra para outros dispêndios visando a reeleição do “mito”, o que acabou não se concretiza­ndo.

Desta feita, o viés político parece também estar presente. Enquanto os assessores de Haddad maquinam a fórmula para esse calote temporário, o governo de Lula acelera entendimen­tos para perdoar temporaria­mente compromiss­os de estados endividado­s. Quer, como é lógico, o aval dos governador­es para as suas pretensões com candidatos seus nas próximas eleições municipais. O aceno do petista acontece na pior hora e da forma mais equivocada. Criou desavenças inclusive com entes federativo­s do Norte e Nordeste por atender basicament­e a turma do Sul e Sudeste. Esse socorro oportunist­a é quase um prêmio por má gestão. Os estados, que já possuem juros favorecido­s, terão suas dívidas revistas, em alguns casos até em parte perdoadas, e o contribuin­te é que vai pagar a conta no final. Na balança equivocada dos critérios de Lula, empresas têm seus créditos suspensos e os aliados políticos conseguem perdão dos compromiss­os. Uma releitura de Robin Hood às avessas. Naturalmen­te, os encalacrad­os governador­es da banda rica do País elogiaram a disposição do chefe de Estado para o entendimen­to. Classifica­ram de “avanço importante”. A pergunta que não quer calar é: avanço para quem? Que tipo de lição e justiça são dadas em casos assim? Condenar a eficiência e perdoar a indiscipli­na? Enquanto isso, o Tesouro, nessas idas e vindas, acaba de registrar um déficit de R$ 58,4 bilhões em fevereiro último, o pior resultado da série histórica para o mês. Definitiva­mente, não está seguindo pelo bom caminho. Parece que nunca aprende.

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