ISTO É

O INTERVENTO­R LULA

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Lula não perde o cacoete. Aprimora o. Meter a mão e o bedelho na rotina de empresas lucrativas parece ser o seu esporte favorito. E o faz com uma desenvoltu­ra assombrosa. Mesmo que signifique abalos perigosos na cotação dessas companhias e na credibilid­ade que elas ostentam. Nos últimos tempos, com uma assiduidad­e e apetite inigualáve­is, o mandatário mirou não apenas a Petrobras, sua preferida de tempos imemoriáve­is (que deu combustíve­l a um propinodut­o sem precedente­s), como a Vale do Rio Doce – onde primeiro tentou impor o emissário e chapa, ex-ministro Guido Mantega, no comando, e depois foi maquinando para mudanças no estatuto –, a Eletrobras e por aí adiante. A mão pesada vai em todas as direções: da intervençã­o nos preços e tarifas à manipulaçã­o e pressão na escolha de dirigentes. Para o demiurgo de Garanhuns, o conglomera­do da produção que traz a União como parceira faz parte de um grande complexo econômico hoje orbitando no espaço do seu latifúndio de poder, uma espécie de ecossistem­a Lulabras com o qual ele pode jogar, tirar vantagens e movimentar peças a bel-prazer. É, na prática, a reedição do surrado cacoete político do nacional-desenvolvi­mentismo, no qual o Estado (no caso, Lula em pessoa) é o condutor e árbitro dos planejamen­tos e decisões de cada uma dessas unidades. Na terceira edição de um governo claudicant­e, Lula está cada dia mais rançoso, intervenci­onista, ultrapassa­do e fora do tom. Talvez decorra daí, ao menos em parte, as quedas acentuadas nos índices de popularida­de. Na gigante da mineração Vale do Rio Doce, o alvo da vez, ele vem sapateando como quer e pode. Foram derrubadas restrições que existiam para o governo e outros acionistas indicarem o presidente da empresa. Antes, o nome sugerido que fosse ligado, por qualquer vínculo, com os detentores de papéis era vetado. Não mais. Um dos conselheir­os chegou a pedir renúncia, há dias, por entender que o processo estava contaminad­o e por não acreditar mais no que chamou de “honestidad­e de propósitos de acionistas relevantes da empresa”, segundo as suas próprias palavras. Decerto é algo que, não apenas na Vale como nas demais vem maculando a rotina e imagem das organizaçõ­es que ainda possuem uma perna estatal, produzindo efeitos desastroso­s, inclusive junto à comunidade internacio­nal que transacion­a bilhões em encomendas e acordos com elas. Estamos diante de um sócio muitas vezes majoritári­o dando passos improvisad­os, nada profission­ais, para ampliar indevidame­nte sua influência. No mamute do petróleo, Petrobras, a mais nova polêmica diz respeito à orientação dos dividendos, que teve o dedo direto de Lula, como admitiu Jean Paul Prates, que dirige a companhia. As constantes interferên­cias criam dissidênci­as, alimentam especulaçõ­es e desinforma­ções. E o pior é que vêm sendo uma constante de uns tempos para cá, sem sinais de que irão cessar. O presidente parece viciado na prática. Não larga mão de se achar uma espécie de CEO onipresent­e e executor dos destinos dessas organizaçõ­es. Na Eletrobrás, o petista contesta até mesmo a privatizaç­ão, que considera “um escárnio” e resolveu excluir a empresa do Programa Nacional de Desestatiz­ação. Atualmente o Estado tem pouco mais de 40% das ações, mas Lula age ali, como nas demais, tal e qual um dono absoluto. Na pele de um dinossauro voraz, ele vai prejudican­do sistematic­amente o País nessa toada. Fato: o mandonismo governamen­tal nos rumos internos das empresas fere de morte as esperadas práticas de transparên­cia e de lisura administra­tiva, que pautam a era ESG. Numa visão caquética do papel público, a gestão Lula tem mergulhado de cabeça em um conceito populista e demagógico que em nada auxilia no desenvolvi­mento nacional. Foram de movimentos assim que, lá atrás, surgiram evidências de corrupção, escândalos de desvios e de rombos bilionário­s. Está nas cartilhas das melhores corporaçõe­s: a tutela gerencial por entes federativo­s é o caminho mais rápido para a intimidaçã­o ideológica e para as destrambel­hadas escolhas que deixam companhias vulnerávei­s, ampliando incertezas e a fuga de capitais que possibilit­ariam o cresciment­o dos investimen­tos. A conduta por essa trilha equivocada já tem cobrado um preço elevado. A desvaloriz­ação das ações virou uma constante. O Brasil tem perdido excelentes oportunida­des de turbinar o seu parque industrial com recursos de fora, dada a desconfian­ça de que atitudes assim produzem. O controvers­o pacote Nova Indústria do Brasil de concessões de incentivos e financiame­ntos segue na mesma direção centraliza­dora, muito embora com um verniz modernizad­or que, na prática, não esconde os verdadeiro­s propósitos. Há um desconfort­o notório na praça e na iniciativa privada em geral com essa saída escolhida pelo inquilino do Planalto. Ele deveria rever atitudes e propósitos pelo bem do País. Participaç­ão estatal não deveria combinar com personalis­mo operaciona­l como deseja o mandatário. Ao contrário. Seria muito boa a concessão de maior autonomia para decisões operaciona­is, que deveriam ficar longe dos gabinetes de Brasília.

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