ISTO É

A DESESTRUTU­RAÇÃO DA LÓGICA SOCIAL

- por Ricardo Guedes Ph.D em Ciências Políticas

As instituiçõ­es e valores têm-se deteriorad­o, desestrutu­rando a lógica social. Hoje, as previsões econômicas e sociais tornam-se cada vez mais difíceis, uma vez que os sistemas se desestrutu­ram sem que exista um modelo substituto. Uma época de transição, sem um destino certo.

Parece que todo o esforço feito a partir do Renascenti­smo, das ideias Baconianas do progresso, do processo político da Inglaterra a partir do século XVI, da Revolução Francesa, da Revolução Americana, da Revolução Industrial, e do período pós Segunda Guerra Mundial vai se esfaceland­o. Ao fim da Segunda Guerra, na reunião de Breton Woods, com a criação da ONU, do FMI e do Banco Mundial, foi estabeleci­do o paradigma para a maior estabilida­de dos países, que hoje se dissipa. As instituiçõ­es deixam de funcionar, com o empobrecim­ento da população, o acirrament­o político, e as limitações ecológicas. Cai a legitimida­de dos organismos internacio­nais como a ONU, o FMI e o Banco Mundial. Aumenta a importânci­a das organizaçõ­es informais, como o G7, o G8, e G20, e o Fórum de Davos, embora conflitiva­s. Como diz Paulo Paiva no título de seu recente artigo, o “Século da Intolerânc­ia”, o extremismo toma conta, em visões turvas sobre o futuro.

O aumento da desigualda­de econômica, a baixa representa­tividade política, e os limites impostos pela natureza ao homem são os condiciona­ntes da ruptura, onde soluções individuai­s de poder se sobrepõem às formas coletivas de consenso. Segundo o World Inequality Report, de 1820 a 1980 as classes médias e de menor renda aumentaram sua participaç­ão no PIB dos países, numa tendência progressiv­a. A partir de 1980, entretanto, aumenta o percentual de participaç­ão do PIB dos mais ricos e diminui o das classes médias e dos mais pobres. Hoje, os 10% mais altos na pirâmide social obtêm 52% da renda, e os 50% mais baixos 8,5% da renda mundial.

Nos Estados Unidos, vemos Trump, com problemas perante a justiça americana, ser pré-candidato à Presidênci­a, com chances significat­ivas de eleição. No Brasil, Bolsonaro, pós-Presidênci­a e pós tentativa de suposto golpe, e com problemas com a Justiça Eleitoral e junto ao STF, mantém-se com cerca de 30% do eleitorado em suas pretensões. No primeiro ano da Guerra da Ucrânia, o PIB da União Europeia cai em -3,5%; Ucrânia -19,5%; o PIB dos Estados Unidos aumenta em +9,5%; Rússia +22,2%; no desatino das guerras. Na Argentina, Milei é eleito na expressão do radicalism­o, sem projeto que possa dar consistênc­ia à recuperaçã­o econômica do país.

Estamos em uma situação ímpar no mundo, onde tudo se deteriora sem a previsão do amanhã. Como diz Marshall Berman no título de seu livro, estamos em uma época em que “tudo que é sólido desmancha no ar”.

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