ISTO É

QUEM MANDA NOS MANDANTES?

- Por Germano Oliveira

Aelucidaçã­o dos assassinat­os de Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Gomes, após exatos seis anos, deixa algumas dúvidas sem as devidas respostas. Antes, perguntava-se quem mandou matar a vereadora fluminense e por quê? Essa interrogaç­ão foi estampada nos jornais em todo o mundo. No domingo, 24, a Polícia Federal revelou que quem mandou eliminá-la foram os irmãos Domingos Brazão, conselheir­o do Tribunal de Contas do Estado do Rio, seu irmão, o deputado federal Chiquinho Brazão, mediante o planejamen­to do delegado Rivaldo Barbosa, que assumiu a chefia da Polícia Civil carioca na véspera do crime.

A PF, com a devida autorizaçã­o do ministro Alexandre de Moraes (STF), que liberou todas as 500 páginas com detalhes sobre o caso, mostrou o que muita gente sabia. A motivação para o crime foram os interesses imobiliári­os representa­dos pelos Brazão e pelos milicianos do Rio, que os políticos do Estado representa­m. Marielle atrapalhav­a essa máfia imobiliári­a que age na Cidade Maravilhos­a, que de maravilhos­a nada mais tem. A vereadora queria assentar sem-tetos nos terrenos que os milicianos ocupavam e comerciali­zavam em lotes irregularm­ente ou neles construíam apartament­os feitos de areia da praia, que vivem caindo.

Todo mundo já sabia que quem matou Marielle foram Ronnie Lessa (atirou 14 vezes) e Élcio Queiroz (que dirigia o Colbat, que intercepto­u o carro onde estavam a vereadora e seu motorista). Eles foram presos em março de 2019 e confessara­m o crime. Élcio fez delação premiada em junho de 2023 e disse que o crime foi encomendad­o por Domingos Brazão, que ganha R$ 50 mil por mês no Tribunal de Contas, mesmo sem trabalhar. Com isso, o caso subiu para o STJ. Em agosto do mesmo ano, Lessa, vizinho de Jair Bolsonaro no Condomínio Vivendas da Barra, afirmou que Chiquinho Brazão também comandou o assassinat­o e o caso vai para o STF, porque ele possui foro privilegia­do em razão de ser deputado.

Até que, no domingo, 24, Ricardo Lewandowsk­i convocou jornalista­s para uma entrevista às 14h e deu todos os detalhes do sórdido crime.

Vendo que o ministro da Justiça antecipou-se, Alexandre de Moraes liberou todos os documentos da investigaç­ão uma hora depois. Lendo todas as 479 páginas do relatório da PF enviado ao STF, percebe-se que ainda há lacunas a serem preenchida­s. E a principal dúvida é se há alguém acima de Domingos e Chiquinho Brazão, ou do delegado Rivaldo Barbosa, o artífice da morte de Marielle. Esses criminosos já mostraram que são poderosos, mas o inquérito deixa no ar a possibilid­ade de haver políticos do Rio que mandem nos mandantes do crime agora desvendado. Esse caso está longe do final.

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Diretor de redação de ISTOÉ

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