Estamos piscando menos
Tempo excessivo de telas, ar condicionado e lentes de contato estão entre os principais causadores da secura ocular, que atinge 26 milhões de brasileiros
Faça o teste: pegue um cronômetro e, durante um minuto, conte quantas vezes você pisca diante de uma tela. Agora faça a mesma marcação sem olhar para o monitor de celular, computador ou TV. Se o resultado médio estiver abaixo de 15 piscadas por minuto, você pode estar dentro do contingente brasileiro estimado em 26 milhões de pessoas que sofrem da Síndrome do Olho Seco.
A lágrima, cuja função é lubrificar o globo ocular, é formada por três camadas: aquosa, que nutre e oxigena a córnea; lipídica, evita a evaporação, e mucina, que umidifica a superfície ocular. Se piscamos menos, aumentamos o risco de alteração no trabalho da unidade lacrimal, composta por glândulas, pálpebras, córnea, conjuntiva e canais lacrimais. Quando a função modifica a qualidade e quantidade, forma-se o terreno fértil para a síndrome, que é comumente confundida com infecção, inflamação ou alergia. Os sintomas mais comuns são, além da secura ocular, coceira, vermelhidão, ardor, sensação de “areia nos olhos” e fotofobia.
POUPE A VISÃO
Um dos principais responsáveis pela doença é justamente a quantidade de tempo diante das telas, que faz com que se pisque menos. Centros urbanos são grandes potencializadores de risco, devido à poluição mais comum, sem contar a longa permanência em locais com ar condicionado. “Existem pacientes que ficam 12, 14, 16 horas em frente às telas. Sabemos que chegam a piscar aproximadamente 60% menos, quando as utilizam. A qualidade das piscadas também é pior. Logo, podemos fazer a inferência entre o uso de telas e sintomas de olho seco evaporativo”, diz o oftalmologista André Jerez, responsável pelo laboratório da doença no Banco de Olhos de Sorocaba.
A síndrome é mais presente em mulheres e no organismo de pessoas com mais de 65 anos, que tende à menor produção lacrimal. É constatada prevalência, também, em usuários de lentes de contato. Quem usa descongestionantes, antidepressivos, antialérgicos e anti-hipertensivos acaba sendo mais afetado. Para constatação da doença é preciso realização do teste de Shirmer, que avalia o nível de produção lacrimal, exame de refração (aquele que determina o grau de óculos), de fundo de olho, da pressão intraocular e teste dos corantes para superfície ocular. O tratamento é feito com lubrificantes por meio de pomadas ou colírios, mas não é somente medicamentoso, já que prescreve controle do uso de aparelhos eletrônicos, do uso de lentes de contato, compressas e calor local para estimular melhor funcionamento das glândulas, além da atenção maior.
“Siga a regra do 20/20/20 — a cada 20 minutos de tela, parar por 20 segundos e piscar 20 vezes”
André Jerez, oftalmologista