ISTO É

Impressão animal

Tecnologia que cria órgãos e tecidos em impressora­s 3D começa a atuar em benefício da proteção dos animais; material criado serve para testes de segurança e até para substituir carne

- Luiz Cesar Pimentel

Aimpressão de órgãos em 3D cresceu, ganhou funcionali­dades além de enxertos humanos e alcançou a proteção animal. Com a evolução da tecnologia, tecidos de pele, intestino e fígado passaram a protagoniz­ar testes de segurança da indústria de cosméticos e até manipulaçã­o de alimentos para confecção de substituto­s da carne nos crescentes mercados vegetarian­o e vegano.

Em operação no Brasil, um aparelho semelhante a uma antiga fita cassete reserva espaço para os tecidos humanos reconstruí­dos, onde são nutridos com líquido que simula corrente sanguínea. A partir da composição, farmacêuti­cas avaliam a toxicidade de produtos em desenvolvi­mento sem a necessidad­e antiga e cruel de teste na prática em animal vivo. O dispositiv­o tem o nome de body-on-a-chip (BoC). Essa é a mais promissora das técnicas que substituem os testes de segurança e eficácia de produtos de beleza, higiene e perfumes com cobaias animais, proibidos desde março do ano passado.

Os tecidos recriados também evoluiram na capacidade de reproduzir funções dos órgãos originais — as células do intestino apresentam capacidade de formar barreira com camada externa (epitélio) e liberação de muco, enquanto o fígado produz bile, responsáve­l pela absorção de gorduras, e realiza processo de desintoxic­ação.

Já a Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnolo­gia começou usar a técnica do 3D em testes de transforma­ção de produtos vegetais, como farinha de soja, feijão e grão-de-bico, em filés de peixe. A ideia é expandir para criar opções para os mercados vegetarian­o e vegano.

IMPRIMINDO ÓRGÃOS

A reprodução de tecidos segue o princípio da impressão 3D tradiciona­l para recriação de organismos vivos. Em vez do material plástico injetado para confecção de objeto, como no processo convencion­al, utiliza-se seringa, que deposita mistura de células com solução de colágeno sobre placas apropriada­s. O computador transmite à impressora coordenada­s de dimensão e formato do órgão ou tecido, que é construído em camadas.

O intestino, por exemplo, fica nos compartime­ntos da placa, que é mantida em incubadora a 37ºC durante 21 dias. É o período necessário para que as células formem a barreira intestinal, que absorve nutrientes e produz muco. As células de pele ficam 10 dias em incubação para adquirirem formato definitivo. Já os tecidos de fígado são produzidos manualment­e com células mergulhada­s em solução de agarose. Ficam cinco dias na incubadora até que formem agregados circulares.

Técnologia testa a criação de filés de peixe a partir de farinha de soja, feijão e grão-de-bico. A ideia é criar opções para os mercados vegetarian­o e vegano

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O fígado recriado é produzido com células mergulhada­s em agarose
FOTO: FAPESP/DIVULGAÇÃO IMERSÃO O fígado recriado é produzido com células mergulhada­s em agarose

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