“EU VOTARIA EM CLEÓPATRA PARA PRESIDENTE DOS EUA”
ISTOÉ entrevistou Francine Prose, autora da nova biografia
Quanto da Cleópatra, sobre a qual estamos acostumados a ouvir falar, reproduz a figura real?
A dimensão da beleza, de usar métodos femininos para alcançar o poder, de ser manipuladora, isso se destaca. Ao longo do tempo, historiadores usaram muitos artíficios para não admitir o fato de que uma mulher governou por décadas um país complicado e difícil.
Ela recebe crédito por tudo que realmente realizou?
Não, há pouco crédito e atenção. Parece haver mais interesse por seus relacionamentos amorosos. Quem assiste aos filmes de Hollywood se pergunta: “mas afinal, o que ela fez para se tornar rainha?”. Parece que a única coisa que ela sabia fazer era seduzir poderosos romanos.
Quais foram os seus principais achados sobre a rainha egípcia?
Não há novidades factuais. O que foquei, principalmente, foi a representação feita dela, e o que me pareceu ser imprecisões e injustiças. Quis eliminar a visão sexista e racista sobre a forma como ela e seu governo foram retratados.
A beleza de Cleópatra sempre foi muito idealizada. Sabemos como ela era fisicamente?
A única evidência que temos são as moedas com sua efígie. De todas as imagens, livros e filmes, não há nenhuma versão em que Cleópatra tenha sido retratada como uma mulher acolhedora. Ela sempre foi definida como uma beldade, como se isso fosse necessário e essencial para que chegasse ao poder.
Ela era realmente poderosa?
Seu poder é subestimado. Tinha diversas habilidades e talentos. Imagine governar um país em crise por tanto tempo, como ela fez, além de mantê-lo unido e protegido. Além disso, ela entendia de arquitetura, ajudou a construir a cidade de Alexandria e a estabelecer sua famosa e extraordinária biblioteca. Ela, que falava diversas línguas, foi reduzida a alguém que brigou com Marco Antônio. É uma subestimação grosseira de quem ela foi e do que fez.
Se vivesse nos dias de hoje, que tipo de líder ela seria?
Precisamos desesperadamente de uma Cleópatra atualmente. Se estivesse viva e quisesse se candidatar à Presidência dos EUA, seria ótimo. Eu votaria nela, sem dúvida.