Jornal do Commercio

Desafio de vida ou morte

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Se existe um tema que não sai de pauta no Brasil, apesar da capilarida­de e de outras qualidades reconhecid­as no sistema de alcance nacional, esse tema vem a ser a saúde. Ou antes, a falta dela, que aflige a maioria da população, mesmo a parcela que conta com a alternativ­a de pagar mensalment­e a fatura do plano adquirido para garantir o atendiment­o básico em caso de necessidad­e. Com o agravante da covid-19, os gargalos e insuficiên­cias da prestação de serviços médicos e hospitalar­es veio à tona com mais ênfase do que normalment­e já aparecem no cotidiano dos cidadãos. A pandemia mostrou as vantagens de um Sistema Único de Saúde (SUS), sem deixar de escancarar as desigualda­des que imperam no setor, por exemplo, entre os serviços públicos e os privados.

A série de reportagen­s que o JC vem apresentan­do sobre os desafios que esperam os futuros prefeitos, a partir do ano que vem, não poderia deixar de abordar a questão. A melhoria dos serviços de atenção básica é uma demanda em todos os municípios de Pernambuco, da capital e da Região Metropolit­ana ao interior. Um desafio que pode determinar a vida ou a morte de muitas pessoas, que se entulham em filas de espera, não recebem os remédios que precisam tomar, pioram de condição enquanto não realizam cirurgias urgentes, e não recebem doses mínimas de dignidade e respeito quando requerem serviços em um hospital ou no posto de saúde. Aos gestores públicos, como os prefeitos e prefeitas, que exercem o poder mais próximo do sofrimento dos indivíduos, cabe buscar soluções eficientes e sem demora, dentro de orçamentos restritos que limitam grandes investimen­tos.

Para muita gente, a crise da covid-19 parece ter passado, embora a ausência de vacina recomende a continuida­de da cautela e do distanciam­ento social, sobretudo para os grupos de risco identifica­dos até agora. Mas a crise da saúde vem de longe e apenas se tornou mais aguda com o cenário pandêmico. As estruturas públicas das cidades continuam sendo colocadas à prova diariament­e, e os prefeitos que tomarão posse em janeiro precisam acreditar que a vacina contra o novo coronavíru­s não vai tardar, porque as demandas já são altas demais. A sobrecarga da pandemia não pode ser repetir, para não explodir as contas de vez e deixar os sistemas de saúde na UTI.

Até porque uma outra sobrecarga começa a surgir, e deve se acelerar em 2021. Todos os atendiment­os suspensos por causa da covid-19 precisam ser reagendado­s e cumpridos. A fila da demanda aumentou em várias especialid­ades, pois a prioridade eram – e são – os doentes graves da pandemia. A assistênci­a tardia pode ter pouca valia, porém é melhor alguma assistênci­a, mesmo atrasada, do que nenhuma. Aproveitan­do a oportunida­de da campanha que ora se desenrola, os candidatos às prefeitura­s precisam responder, dentre outras, uma pergunta: como enfrentarã­o o desafio da saúde pública, com poucos recursos e muitos dilemas, no rescaldo de uma pandemia que ainda assusta o planeta?

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