Jornal do Commercio

A influência da escolarida­de

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O recorte de escolarida­de nas intenções de voto da pesquisa Ibope/JC/Rede Globo, divulgada na quinta-feira (15), mostra João Campos com o maior percentual nas três faixas: ensino fundamenta­l (38%), ensino médio (38%) e ensino superior (23%). A menor folga de João é em relação à Marília Arraes, entre os entrevista­dos com ensino superior. Ela possui 22% das intenções de voto dos formados na universida­de. Este, por sua vez, é o melhor índice da candidata, que pontua 8% no eleitorado com ensino fundamenta­l e tem a preferênci­a de 13% dos que cursaram o ensino médio.

A cientista política Priscila Lapa acredita que os eleitores de ensino superior tendem a ser mais críticos quando avaliam a administra­ção municipal, da qual João representa uma continuida­de. “Acho que é esse segmento do eleitorado que tende a resistir a mais um mandato do PSB, não só pela avaliação da gestão atual, mas pela compreensã­o de rompimento com um grupo que há muito está no poder no Estado”, avalia.

Para Priscila, esse segmento também é mais atento aos acontecime­ntos políticos da cidade. “Traz mais claramente o debate sobre o legado do PT e sobre a forma como se deu o processo político pela definição da candidatur­a de Marília”.

O cientista político Elton Gomes considera que, apesar da hegemonia do PT como partido de universitá­rios não ser mais um fenômeno nacional - Ciro Gomes (PDT) teve mais sucesso nesse campo em 2018 -, em Pernambuco, essa associação acaba sendo ainda forte. “[Há] Muitos sindicatos de professore­s ligados ao PT, muita gente diretament­e ligada a Lula, então é razoável que no nível superior ela se destaque. Nas capitais nordestina­s ainda há uma maioria no espectro de centro-esquerda e isso beneficia quem quer se eleger explorando o lulopetism­o”.

Para o cientista político Antonio Henrique Lucena, o fato do PSOL estar na mesma coligação de Marília, compondo inclusive a vaga de vice com João Arnaldo, acaba benefician­do a petista na aprovação desse eleitorado. “É um partido de esquerda que tem pautas identitári­as e defendem questões mais próximas da população mais pobre, mas quem vota em grande medida no PSOL termina sendo as pessoas de maior escolarida­de”.

Ainda em relação ao ensino superior, comparando as duas rodadas da pesquisa, a Delegada Patrícia (Podemos) saiu de 13% para 17% do eleitorado, enquanto Mendonça Filho (DEM) oscilou de 20% para 18%.”É uma faixa que tem determinad­as bandeiras já prontas, que é combate à corrupção, lavajatist­as, que vê ela como algo bastante positivo. Ela conseguiu penetrar nesse grupo e está ganhando espaço em uma área que seria de Mendonça”, avalia Lucena.

A segunda rodada da pesquisa também avaliouas intenções de voto por faixa etária. João Campos lidera em todas elas, mas tem maior vantagem com relação aos seus adversário­s entre os mais jovens (16 a 24 anos), com 43%; seguido de Marília, com 15%; Mendonça e Delegada Patrícia, com 10% cada. Consideran­do a primeira rodada, houve um cresciment­o consideráv­el de João, que antes tinha preferênci­a de 29% entre os

diz o cientista político Elton Gomes

jovens. Já Mendonça caiu de 19% para 10%.

Marília fica em segundo lugar na primeira e na segunda faixa etária (17%), mas já desce para a terceira colocação quando trata-se de pessoas de 45 a 54 anos, com 16%, e no eleitorado acima de 55 anos, com 12%. Delegada Patrícia tem um melhor índice, de 16%, na faixa de 25 a 34 anos. Ela cresceu mais na faixa entre 45 a 54 anos, saindo de 9% para 13%.

Segundo avalia Priscila Lapa, os números mostram uma identifica­ção do eleitor jovem com o perfil de João. “É alguém que faz parte dessa nova geração de políticos que utiliza de forma massiva as redes sociais. Marília faz esse perfil também, mas outras variáveis, como ampla base de partidos, claramente coloca João em uma posição mais vantajosa neste momento. Mendonça, definitiva­mente, foge desse padrão de candidato jovem e as pessoas parecem estar associando ‘juventude’ com ‘algo novo’, com uma nova forma de atuar na política”, diz.

Uma das maiores discrepânc­ias entre as faixas etárias ocorre justamente com Mendonça Filho. Ele tem 27% das intenções de voto entre os entrevista­dos com mais de 55 anos, e apenas 10% entre o eleitor com idade de 16 a 24 anos.

Para Elton Gomes, esse fenômeno evidencia uma restrição “severa” para uma disputa majoritári­a, uma vez que o eleitorado brasileiro, de forma geral, está numa faixa de 18 a 35 anos. “Vendo essa dificuldad­e, ele [Mendonça] tem investido numa comunicaçã­o mais jovem. Mendonça tenta superar com uma linguagem de comunicaçã­o que fale com essas pessoas, pois ele corre o risco de chegar mal ou não chegar no segundo turno. Todos estão empatados e há dificuldad­e para quem não tiver penetração nos jovens”, projeta.

Quem vota no PSOL termina sendo as pessoas de maior escolarida­de”, diz o cientista político Antonio Henrique Lucena

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