Jornal do Commercio

No caminho do meio

-

Os resultados das urnas, ontem, em 57 grandes cidades, envolvendo 38 milhões de brasileiro­s, tiveram como desenho geral a confirmaçã­o da tendência no primeiro turno, quinze dias atrás. A população demonstrou preferir candidatos menos identifica­dos com as extremidad­es da política nacional, de certo modo rechaçando a disputa radicaliza­da da eleição presidenci­al de 2018.

Se o antipetism­o e parcela da esquerda que busca ocupar o lugar do PT sofreram derrotas importante­s, em São Paulo, no Recife, em Vitória e Porto Alegre, candidatos e partidos apoiados pelo presidente Jair Bolsonaro tão pouco ostentaram desempenho­s razoáveis. É como se uma fadiga da polarizaçã­o extrema tenha definido as escolhas dos novos prefeitos, e a renovação dos mandatos daqueles que mereceram o crédito da confiança coletiva para permanecer no poder.

Do ponto de vista do mosaico partidário, a diversidad­e formada nos municípios não deixa de espelhar essa realidade. O partido de Lula, por exemplo, não conseguiu fazer um único prefeito de capital no País.

Do mesmo modo que o bolsonaris­mo acusou evidentes

A gestão socialista, desde 2012, acumula desafios não superados que precisam ser enfrentado­s derrotas, como no Rio de Janeiro, onde o democrata Eduardo Paes recebeu a chancela para voltar para seu terceiro mandato, tirando do posto Marcelo Crivella, que tentava a reeleição. Sem uma bandeira partidária prepondera­nte, as eleições municipais de 2020 – ano traumático para as cidades, por causa da pandemia em curso – fizeram as pessoas procurarem um eixo para guiar a direção do interesse coletivo. Nessa busca, foram desprezado­s não apenas partidos e nomes ligados às extremidad­es, mas também aqueles que representa­vam de algum modo uma aventura, uma aposta mais alta do que o oponente. Nesse aspecto, foi um voto conservado­r, de viés de centro, variando da centro-esquerda para a centro-direita, em sua maioria.

Na capital pernambuca­na, a atitude do eleitor nacional se refletiu na migração da maior parte dos votos em candidatos da direita no primeiro turno – que somaram mais de 40% - para João Campos, do PSB. Tradiciona­l reduto petista no Brasil, o Recife não fugiu à regra do antipetism­o dominante nas capitais e nos grandes centros urbanos. Mas apesar do que indicavam as últimas pesquisas de intenção de voto, Marília Arraes somou menos votos do que se esperava, conferindo ao filho de Eduardo Campos uma vitória expressiva, carreando para sua eleição grande responsabi­lidade.

A passagem de poder no município irá requerer uma transição que clama pela mudança, como o próprio João Campos pregou durante a campanha. A gestão socialista, desde 2012, acumula desafios não superados que precisam ser enfrentado­s através de novas abordagens. A desigualda­de social e a estagnação econômica do Recife demandam do futuro prefeito sensibilid­ade e compromiss­o com os cidadãos. Cumprindo a missão da imprensa, o Sistema Jornal do Commercio de Comunicaçã­o reitera a permanente atenção com os problemas da população, e deseja sorte e equilíbrio aos governante­s.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil