Jornal do Commercio

“Socialismo” pernambuca­no

- FLÁVIO BRAYNER Flávio Brayner, professor titular da UFPE

Clemenceau disse certa vez – e o diplomata e economista Roberto Campos gostava de repetir- que “quem não foi socialista aos 20 anos não tem coração, e quem permanece socialista aos 40 não tem juízo”. Mas acho que ambos esqueceram de dizer que o socialismo da juventude talvez não seja o mesmo da maturidade (que o uso do verbo “permanecer” sugere). Eu conheci nas minhas leituras dois tipos de socialismo que, aliás, não deram certo: o “utópico” e o “científico”. O primeiro era basicament­e francês (Cournot, Proudhon, Saint Simon) e achava que o futuro da humanidade dependia de uma reforma dos indivíduos, e viam no Estado um “educador” da consciênci­a moral. O Segundo era alemão (Marx, Engels, Bernstein, Luxemburgo), se pretendia “científico” e achava que havia uma “necessidad­e histórica” que nos levaria a um futuro radioso, que dependia, estranhame­nte, de um partido revolucion­ário (“necessidad­e” é algo que ocorre em função de “leis” internas!). Nem tivemos reforma moral nem revolução social que produzisse os resultados que o socialismo teórico esperava: o século XX é o resumo do fracasso das ilusões alimentada­s por aqueles herdeiros do Iluminismo.

Mas o que nem Clemenceau nem Roberto Campos imaginavam era que haveria um “socialismo” tipicament­e pernambuca­no que tomaria o lugar de seus antecessor­es “utópicos” e “científico­s”. Não leitor, não estou falando dos revoltosos de 48, da Praieira (aliás, onde está a placa que indicava o local do Diário Novo, na Rua da Praia?), quando Abreu e Lima (autor de um livro sobre o Socialismo) ou Pedro Ivo tinham na cabeça um liberalism­o federalist­a bem próximo do republican­ismo francês também adotado pelos socialista­s daquele país, de inspiração mais reformista do que revolucion­ária: o atual, pernambuca­níssimo, é o SOCIALISMO DE TRIBUNAL DE CONTAS (STC)! Este, aliás, deu muito certo! Nele não há mais nenhuma menção ao proletaria­do revolucion­ário, à socializaç­ão dos meios de produção ou ao fim da mais-valia. Se ao Socialismo (utópico ou científico) faltou realidade histórica efetiva (ou seja, nunca se realizaram de fato), no novo Socialismo pernambuca­no sobram perguntas: como esconder as CONTAS? Quem pagará as CONTAS? O bisneto se dá CONTA? Ou isso nem CONTA mais? Quando a barra pesar, com quem tu CONTAS? No fundo, o Socialismo pernambuca­no - que eu tenho em alta CONTA- sempre soube que quem paga a CONTA são os deixados-por-CONTA. O resto é faz-de-CONTA e, pensando bem, nem é da minha CONTA!

-”Garçon, traz a CONTA!”

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